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Uma Carreira Nova em Uma Nova Cidade: A Trilogia de Berlim

Finalmente vou falar da Trilogia de Berlim. São três discos de estúdio que simplesmente eu amo. Musicalmente são os trabalhos mais influentes do David Bowie (se não fosse por isso não haveria Joy Division nem David Guetta). Eles têm também um dedinho de Brian Eno, que mais tarde produziria um dos discos mais influentes do U2, “Achtung Baby” (1991) e mais obras do Bowie nos anos 1990 como “Outside” (1995) e “Earthling” (1999). Não estou frescando. Se não fosse pela Trilogia de Berlim, parte da música como a conhecemos hoje em dia não existiria. E você ainda acha David Bowie uma coisa chata…

Eu fiz um wallpaper com as capas dos três discos da trilogia, pode salvar e usar como papel de parede. Lá embaixo tem um com os discos da soundtrack de “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” e um cartaz do filme.

Trilogia de Berlim

O que caracteriza o som dos discos dessa Trilogia é o experimentalismo. David Bowie, cansado do rock de glitter (de “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, “Aladdin Sane” e “Diamond Dogs”), do plastic soul (de “Young Americans”) e do plastic funk com pitadas de música eletrônica (de “Station to Station”) resolveu criar algo novo, que fosse seu. Para isso contou com a ajuda de Brian Eno, que havia saído do Roxy Music, contemporâneo da fase glitter de Bowie.

Vou esclarecer alguns equívocos relacionados a esses três discos. De acordo com os críticos da obra de Bowie o nome “Trilogia de Berlim” é incorreto. Primeiro: somente um dos discos foi gravado integralmente em Berlim, que foi “Heroes”. “Low” teve partes gravadas em Nova York, Berlim e em Hamburgo e “Lodger” não teve uma faixa sequer gravada na capital da Alemanha (foi gravado em Nova York e na Suíça e finalizado em Montreal). Segundo: entre “Heroes” e “Lodger” tem um disco ao vivo, “Stage” (1978), gravado no Philadelfia Tower onde Bowie havia gravado quatro anos antes “David Live” (1974). Então, o nome “Trilogia de Berlim” seria somente para os discos de estúdio. Outro equívoco é dizer que os discos foram produzidos por Brian Eno pois, oficialmente os discos foram produzidos por Bowie e Tony Visconti. Eno, que foi um personagem vital no processo de criação dos mesmos, afirma que seu nome ficou fora dos créditos por não ter ajudado a pagar as horas gastas em estúdio.

Depois de uma tempestade dos diabos na vida do David (o vício em cocaína estava o destruindo completamente, seu casamento com Angie estava indo pelo esgoto e ainda o tachavam como nazista), um amigo lhe sugeriu que se mudasse. Para onde? Berlim, capital da Alemanha, para onde Lou Reed se mandou em 1973 e lá gravou um disco (ou melhor O DISCO dele): Berlin. Uma cidade dividida, como o nosso querido Actor. Bowie chegou a ser preso para averiguações nos EUA e a CIA montou um dossiê sobre a sua vida pregressa e colocando-o na lista de pessoas “potencialmente perigosas para a democracia”.

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O plano inicial de David era morar em Blonay, Suíça. Morando em uma área rural perto de um rio e só lendo, pintando e se vestindo de maneira simples David passava os dias. Era querido por todos. Lia horrores e pintava. Esse quadro foi pintado pelo Bowie e representa Iggy Pop em Berlim.

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Até que alguém apareceu para lhe tirar a paz. Isso mesmo: sua querida esposa, Angela. Ele começou a fugir dela, como o diabo foge da cruz. Pensou seriamente em ficar em Berlim. David se mudou de Los Angeles para Berlim após o fim de sua turnê, a Isolar I (do disco “Station to Station”), em setembro de 1976.

Antes dessa temporada conturbada em Berlim, David passou um tempo em Paris produzindo o primeiro disco solo de Iggy Pop: “The Idiot” (1976). Não é só porque o David faz um milagre de novo (o primeiro foram no disco Transformer, do Lou Reed e em All the Young Dudes, do Mott the Hopple, ambos de 1973) que eu recomendo. Uma curiosidade sobre esse disco: Ian Curtis, vocalista do Joy Division se matou e antes de se enforcar com o cinto pôs “The Idiot” para tocar (mas não foi por isso que o Ian se matou).The Idiot

E para promover o disco o Iggy teve uma ideia genial: chamou o David para ser tecladista e o backing vocal de sua banda. E obviamente Bowie topou, com uma condição: que não fosse revelado que o tecladista misterioso era ninguém mais ninguém menos que David Bowie. Mas isso só durou alguns shows. Descobriram que o tecladista misterioso era David Bowie. Causou um fuá…

Os três discos da Trilogia foram remasterizados nos estúdios Abbey Road de Londres (o mesmo que os Beatles gravaram durante anos e onde os discos da Legião foram remasterizados em áudio digital em 1995) e foram remasterizados em 1999. Fazem parte da “David Bowie Series” da EMI, no qual todos os discos do David Bowie que haviam sido lançado em LP foram remasterizados digitalmente (de “Space Oddity” de 1969 a “Black Tie White Noise” de 1993). O disco ao vivo Stage e a trilha sonora de Christiane F. ganharam edições digitais somente em 2001. A mesma coisa acontece na caixa “Por Enquanto” da Legião Urbana. É só uma dica.

Sangue e lágrimas em Berlim

Berlim, capital da Alemanha. Um lugar dividido por um muro, o famoso e infame Muro de Berlim. Esse muro, erguido em 1961 e demolido em 1989 dividia a cidade de Berlim (que ficava na Alemanha Oriental, consulte um livro de História) em duas partes: Berlim Ocidental (capitalista) e Berlim Oriental (socialista). Ninguém podia pular o muro (o povo queria fugir da influência socialista). Diferente desses muros de escola que dá para se pular, o Muro era uma construção fortemente protegida: apesar de ser baixinho (tinha somente 3 metros de altura), tinha grande extensão (45 quilômetros), muito arame farpado, minas explosivas e havia diversas guaritas com guardas armados com metralhadoras, prontos para metralhar quem ousasse pular o Muro. Muitos que tentaram fugir foram metralhados ou morreram por causa das minas terrestres.

Já que Angela o perseguia, David Bowie chamou Iggy Pop e foi morar na área de influência britânica em Berlim. Primeiro, o cara foi morar no hotel Gehrus. Depois se mandou para um apartamento térreo na Haupstrasse 155, em Schöneberg. Para alguém que ficou em muitos hotéis de luxo, não poderia haver algo pior, um verdadeiro muquifo: o local tinha três quartos, uma cozinha pequena, cortinas pesadas e paredes que deixavam a água entrar em dias de chuva. Mas até que o David gostava: lá em Berlim ele poderia ser ninguém além de David Jones, alguém que ele não era há pelo menos dez anos. Ele passeava sem pressa pelas ruas de Berlim. Somente Corinne “Coco” Schwab (sua assistente e braço-direito) e o próprio Iggy Pop faziam parte do seu círculo pessoal.

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Mas no começo o couro comeu para o seu lado: seus problemas pareciam somente ter mudado de lugar. David era visto constantemente bêbado e vomitava nos becos. Sem contar que constantemente se escondia dentro de um banheiro, longe das vistas de Iggy (que queria se livrar do vício em metadona) e de Corinne para cheirar carreiras de cocaína. Não parecia em nada com um dos maiores astros dos anos 1970, e sim com uma criatura carente que não conseguia dar conta de seus problemas. E “seus problemas” tinham nome: Angela Bowie, cocaína, alcoolismo.

Enquanto essa doidice rolava na vida do David Bowie, uma outra coisa acontecia na mesma Berlim (e do mesmo lado do Muro): Babystrich (prostituição de menores). Já sabem, Christiane F. e as crianças da Bahnhof Zoo. David Bowie teve contato com a triste história da menina que usava heroína e se prostituía para poder pagar sua próxima picada: em “Heroes”, o segundo disco da Trilogia de Berlim tem uma música chamada “Neuköln”, que é o nome da área de Berlim que fica localizado o Conjunto Gropius, onde Christiane morou durante um tempo. E ele se transformou em um personagem do livro “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…”. Um personagem que faz um show e depois dele uma de suas fãs vai se baratinar com heroína. Legal, virar um personagem de livro… Utilizei nessa colagem o cartaz americano do filme (a foto do meio) e as capas (e contracapas) da edição alemã e britânica da trilha sonora do filme. Vou colocar como capa do meu Facebook…

"Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída"

Mas voltando ao David… Vou falar dos três discos e se der espaço, da trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída…”. No mesmo esquema do post nº4 de “Nos Tempos da Purpurina”: títulos coloridos nas cores de cada disco. Tem uma curiosidade na lista das músicas: as que tiverem marcadas com # não entraram nas edições originais, só nos relançamentos. E os discos estão no meu Skydrive, curta, compartilhe e dê seu feedback. A Trilogia que eu escuto é a versão da RYKO inglesa, que vem com algumas faixinhas de bônus.

Waiting for the gift of sound and vision: Low

Low

O primeiro disco do que seria a Trilogia de Berlim foi lançado no comecinho de 1977, uma semana depois do aniversário de 30 anos de Bowie (ele é de Capricórnio, nasceu em 8 de janeiro). “Low” tinha a influência do Kautrock (ou rock industrial) de grupos alemães como Neu! e Kraftwerk que já haviam influenciado “Station to Station”. A capa, tirada de um dos cartazes do filme “O Homem que Caiu na Terra” era um pouco provocativa. O disco surpreendeu todo mundo: a imprensa, os fãs e até a própria gravadora.

Mas a maior provocação não tá na capa e sim dentro do disco: seis das onze faixas são instrumentais. “Low” estava programado para ser lançado no Natal de 1976, mas a gravadora RCA não achava que esse disco seria uma boa opção de presente, de tão bizarro que era. E as letras das músicas (quando tinham letras) eram curtas, discretas, reflexivas. E agora, uma citação de Tony Visconti, co-produtor de Low sobre o clima nas gravações do disco:

“David passava por um período de grande depressão. A gravação de The Idiot, em Paris foi um caos e quase um milagre ter sido finalizada, pois ele estava absolutamente sem condições psicológicas e Low acabou sendo uma continuação do processo.”

Traduzindo: o David não estava legal. E o disco é um tanto esquisito. A voz do Bowie soa um tanto mecânica (principalmente em “Sound And Vision”, “Breaking Glass” e “What in the World”, costumo dizer que parece a voz de vidro quebrando).

Então a crítica caiu em cima do disco com gosto de gás (com gosto de gás quer dizer com vontade). Motivo: o disco se aproximava do que mais tarde se convencionou a chamar de punk e a crítica queria de volta o Bowie elegante de “Young Americans” e “Station to Station”. Agora, a lista das faixas da edição em CD da RYKO (que é a que eu tenho no computador). Para o LP: depois de “A New Career in a New Town”, começa o lado B. Mas como eu pus na edição em CD…

1. “Speed of Life” – 2:46

2. “Breaking Glass” (Bowie, Dennis Davis, George Murray) – 1:52

3. “What in the World” – 2:23

4. “Sound and Vision” – 3:05

5. “Always Crashing in the Same Car” – 3:33

6. “Be My Wife” – 2:58

7. “A New Career in a New Town” – 2:53

8. “Warszawa” (Bowie, Brian Eno) – 6:23

9. “Art Decade” – 3:46

10. “Weeping Wall” – 3:28

11. “Subterraneans” – 5:39

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

12. “Some Are” [#] – 3:16

13. “All Saints” [#] – 3:38

14. “Sound And Vision” [Remixed Version 1991] – 4:42

A versão do disco que eu estou ouvindo é a de 1991, da RYKODISC, com três faixas-bônus. Eu gostei de “Speed of Life”, “Breaking Glass”, “What in the World”, “Sound and Vision” (que tem uma letra miúda e meio doida, mas que ainda assim é legal) “Always Crashing In The Same Car”, “Be my Wife” (na qual o Bowie praticamente suplica: seja minha esposa), “A New Career In A New Town” (que dá nome a esse post), “Warszawa” (o nome em inglês da capital da Polônia, Varsóvia, mas a música está em italiano) e o remix de “Sound And Vision” da versão do disco de 1991. Muito legal, recomento. Juro que não vai tombar festa nenhuma!

Curiosidade: a banda Joy Divison (que mais tarde virou New Order) deveria se chamar “Warszawa” (por causa da música). Mas já tinha outra Warszawa na área. Mais outra curiosidade: é o terceiro disco de estúdio mais vendido na loja de música iTunes (perde para “The Next Day” e “Let’s Dance”).

Neste ano a faixa “Sound And Vision” ganhou uma nova mixagem, feita a partir da gravação original de 1976. Virou um single. O resultado ficou excelente. O link para o vídeo está na capa do single, abaixo.

Sound And Vision 2013

Dann sind wir Helden Für diesen Tag: “Heroes”

_Heroes_

O segundo disco da Trilogia de Berlim (e um dos mais importantes de toda a história do rock) é “Heroes”. Também muito influenciado pelo Kautrock, é o único disco da Trilogia a receber a denominação “Berlin” (por ter sido o único a ter sido gravado integralmente na capital alemã). John Lennon queria que “Double Fantasy”, que foi seu último disco gravado em vida fosse tão bom quanto “Heroes”. Que responsa, hein David?

As fotos abaixo são da sessão para a capa e o encarte do disco. Fotos por Masayoshi Sukita.heroes3heroes2heroes - Cópia

Inclusive a capa de “Heroes” foi ligeiramente alterada e virou a capa de “The Next Day”, o disco que David Bowie gravou depois de dez anos sem lançar nada inédito. E É DESSE ANO DE NOSSO SENHOR DE 2013! Meus amigos reclamam que eu praticamente parei no tempo por ouvir David Bowie, mas David Bowie ainda é atual (tá até na novela das 9, é “The Stars (Are Out Tonight)” porque as estrelas não dormem, nem as mortas nem as vivas)! Apesar de eu não ter gostado muito (a capa de “Heroes” é linda demais!) eu entendi a mensagem da capa. David Bowie está revisitando David Bowie. Nota 7,5. Só o tempo dirá se acertei na nota ou não. Vou dizer as faixas que eu curti: “The Next Day”, “The Stars (Are Out Tonight) ”, “Valentine’s Day ”, “If You Can See Me”, “Dancing Out In Space” e “(You Will) Set The World On Fire”. Já que a crítica é da Trilogia de Berlim não vou entrar em detalhes em “The Next Day”. Mas esse disco tem muitos momentos com o clima frio e triste de Berlim. #TND fica para outro dia. Sem contar a edição “The Next Day Extra” com o disco, mais 7 faixas de bônus e um DVD com os clipes de divulgação do disco. Na capa da edição Extra tem um link para o vídeo de “Love Is Lost”, um clipe que custou a bagatela de 30 reais.

The Next DayThe Next Day Extra

Talvez “Heroes”, ao lado de “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, seja o trabalho mais influente do David Bowie. As camadas de som, que foram muito exploradas no disco anterior são exploradas ao extremo aqui, em “Heroes”. É um disco interessante de se ouvir. A maioria das músicas são animadas com esperança, exceto “Sense of Doubt” e a tal “Neuköln” (que é depressiva). Com a voz de David às vezes soterrada por camadas de sons, às vezes sintetizada (como em “Beauty And The Beast” e “Blackout”) e às vezes com uma força assustadora, como que emergindo das sombras (vide “Heroes”, o single do disco e “Sons of Silence Age”) e às vezes sem voz (esse disco tem quatro instrumentais). Lista de músicas abaixo (a do CD). No LP: depois de “Blackout” começa o lado B:

1. “Beauty and the Beast” – 3:32

2. “Joe the Lion” – 3:05

3. “‘Heroes'” (Bowie, Brian Eno) – 6:07

4. “Sons of the Silent Age” – 3:15

5. “Blackout” – 3:50

6. “V-2 Schneider” – 3:10

7. “Sense of Doubt” – 3:57

8. “Moss Garden” (Bowie, Eno) – 5:03

9. “Neuköln” (Bowie, Eno) – 4:34

10. “The Secret Life of Arabia” (Bowie, Eno, Carlos Alomar) – 3:46

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

11. “Abdulmajid” (Previously Unissued Track – Recorded 1976 – 1979) [#] – 3:36

12. “Joe The Lion” (Remixed Version – 1991) – 3:09

Sobre a faixa-título: foi inspirada num fato real. David Bowie, quando ia para o Estúdio Hansa para gravar (o estúdio é perto de um trecho do que sobrou do Muro de Berlim) viu uma cena que lhe chamou a atenção. Um rapaz estava no Muro falando com uma garota que estava do outro lado. Passou de novo e viu a mesma cena e assim durante vários dias. Então, resolveu fazer uma letra e Brian Eno fez a melodia. A letra, apesar de melancólica e cheia de metáforas, transmite esperança. Não só de que os amantes do Muro se unam pelo menos uma vez, mas de que a Guerra Fria acabe, o Muro caia e que haja liberdade. Podemos ser heróis, mesmo que por um dia.

Bowie ficou chocado quando, andando a pé pelos arredores do estúdio Hansa, viu seu nome entre duas suásticas. Ele queria mostrar que “Heroes” era uma homenagem a uma Alemanha dividida e destroçada pela Segunda Guerra.

Como “Low”, a versão de “Heroes” é a de 1991, com duas faixas de bônus. As minhas favoritas são “Beauty and the Beast” (animada até o tutano dos ossos), “Joe the Lion” (apesar de ser animada, trasmite melancolia), “Heroes” (a versão completa é demais, arranca lágrimas), “Blackout” (gostei, apesar de não ter conseguido acompanhar a música), “V-2 Schneider” (praticamente um instrumental, a única frase é o nome da música), “Neuköln” (um instrumental climático), “The Secret Life Of Arabia” (apesar de ter uma letra mais indecifrável que a de “Hang on to Yourself”) e o remix de “Joe the Lion”. Essa também não tomba festa!

Curiosidade: Bowie regravou “Heroes” em alemão (Helden) e em francês (Les Heros). A regravação em alemão está no lado B do single “Heroes” que foi lançado na Alemanha Ocidental. É mais famosa a versão em alemão por causa de “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” (está numa das cenas mais legais do filme quando a turma do Sound faz um assalto no Europacenter, um shopping de Berlim). “Heroes/Helden” está na trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” e a versão em alemão está no disco “Bowie Rare”, de 1982. Ainda sobre “Heroes”: David Guetta remixou a faix-título com o nome de “Just for One Day (Heroes)”. Apesar de ficar somente repetindo a frase “We can be Heroes, just for one day”, é uma versão que merece ser conferida. Aparece na coletânea “F**ck Me, I’m Famous”, de 2002 e na versão em DVD da coletânea “Best of Bowie”, também de 2002. Se não aguenta esperar, a versão remixada está nesse link e na capinha abaixo, do single.

Just for One Day (Heroes)

DB on Stage

Stage (Live) [Remastered]

O nosso querido David Bowie se meteu na estrada junto com sua banda com a Isolar II ou Low and “Heroes” Tour. O clima no David era bem melhor: segundo Natasha Korniloff (figurinista e grande amiga de Bowie desde a época de “Pierrot in Turquoise”, de 1967), ela encontrou um David saudável, em excelente forma e com ideias gigantescas (e bem mais feliz, vide as fotos abaixo). A turnê Isolar II foi a grande volta para o David Bowie. Depois de uma turnê praticamente em preto e branco e com luz branquela (a Isolar I), a Low and “Heroes” Tour é bem colorida. O palco tinha tubos de neon. Um clima bem solar em relação a Isolar I.

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A gravadora pressionou o David para que gravasse um disco ao vivo como uma espécie de tapa-buraco. Na Filadélfia, onde foi gravado “David Live” (de 1974).

O disco foi gravado exatamente na ordem inversa, já que ele e Visconti começaram a mexer primeiro nas músicas velhas para depois chegar às recentes, que foi corrigido nas versões posteriores do disco.

Como o disco foi feito para cumprir o contrato com a gravadora, David não deu muita bola a ele, apesar de ser extremamente bem gravado e com grandes versões de “Heroes” e “Station to Station” (que entrou na trilha sonora de Christiane F.). A ordem do disco em CD:

Disco 1:
1. “Warszawa” – 6:47
2. “Heroes” – 6:11
3. “What in the World” – 4:17
4. “Be My Wife” [#]– 2:36
5. “Blackout” – 3:53
6. “Sense of Doubt” – 3:07
7. “Speed of Life” – 2:40
8. “Breaking Glass” – 3:22
9. “Beauty and the Beast” – 5:01
10. “Fame” – 4:03
Disco 2:
1. “Five Years” – 3:58
2. “Soul Love” – 2:55
3. “Star” – 2:26
4. “Hang on to Yourself” – 3:22
5. “Ziggy Stardust” – 3:28
6. “Art Decade” – 3:01
7. “Alabama Song” [Aufstieg Und Fall Der Stadt Mahagonny] – 3:56
8. “Station to Station” – 8:41
9. “Stay” – 7:18
10. “TVC 15” – 4:33

Look Back in Anger: Lodger

Lodger [Bonus Tracks]

David voltou a morar em Nova York em 1979. Depois de seu segundo filme que havia sido gravado em Berlim (Apenas um Gigolô, 1979) ele voltou para os EUA. Limpo, mais saudável e com a guarda do filho, Joey (David mudou o nome do filho depois que conseguiu a guarda, de Zowie para Joey). E para comemorar, gravou um disco com Brian Eno. Em time que está ganhando não se mexe! A lista das músicas se segue. Para o LP: o lado B se inicia depois de “Red Sails”:

1. “Fantastic Voyage” – 2:55

2. “African Night Flight” – 2:54

3. “Move On” (Bowie) – 3:16

4. “Yassassin (Turkish for Long Live)” (Bowie) – 4:10

5. “Red Sails” – 3:43

6. “DJ” (Bowie, Eno, Carlos Alomar) – 3:59

7. “Look Back in Anger” – 3:08

8. “Boys Keep Swinging” – 3:17

9. “Repetition” (Bowie) – 2:59

10. “Red Money” (Bowie, Alomar) – 4:17

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

11. “I Pray Olé” [#] [Ryko Edition Only] – 3:56

12. “Look Back in Anger [New Version Recorded 1988]” – 6:58

A capa de “Lodger” é particularmente chocante: David está caído num banheiro, com uma coisa semelhante a uma seringa espetada em um dos seus braços (é uma seringa mesmo, ela faz sombra) e com uma cara de morto. Ao ver essa capa me lembrei de uma frase que apareceu no livro da Christiane F.: “Os drogados morrem sós. Mais frequentemente em banheiros fedorentos.”. Minha interpretação dessa capa: faz referência aos jovens viciados em heroína que morreram de overdose em banheiros em Berlim, ou aos que morrem sós sem amparo. A foto completa é uma espécie de cartão-postal com a palavra Lodger em inglês, francês, alemão e japonês (Lodger quer dizer inquilino). Tem até lugar para pôr o selo. Um cartão-postal desses eu não dispensava.1979 - Lodger - Front 2

Apesar de ser um disco mais pop em relação aos anteriores, não perde a veia experimental. Achei genial. Pegou todas as referências que Bowie teve durante os três anos de Berlim: viagens fantásticas por lugares fantásticos.

Do mesmo jeito que os discos anteriores, estou ouvindo a edição da RYKODISC, de 1991, que só tem duas faixas a mais em relação ao original. Eu gostei de “Fantastic Voyage” (é uma viagem, no bom sentido), “African Night Flight” (a pessoa se sente no meio de uma savana), “DJ” (o clipe é doido, o David detona um estúdio de gravação), “Look Back in Anger” (uma amiga minha sempre acha que essa é do Oasis), “Boys Keep Swinging”, (rebolante e que fala de disparidades de gêneros) e a versão de 1988 de “Look Back in Anger” (não tomba festa!).

Bending sound: Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)

Christiane F._ Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from

E não é que deu espaço para caber a soundtrack de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída”? Muita gente acha essa trilha sonora um dos melhores discos do David Bowie, apesar de ser uma compilação. Motivo: a escolha das músicas que integram esse disco combina com os momentos do filme. Músicas abaixo:

1. “V-2 Schneider” (de “Heroes”, 1977) – 3:12
2. “TVC 15” (Single Version de “Station to Station”, 1976) – 3:35
3. “Heroes/Helden” (de “Heroes, 1977) – 6:08
4. “Boys Keep Swinging” (de “Lodger”, 1979) – 3:18
5. “Sense of Doubt” (de “Heroes”, 1977) – 4:01
6. “Station to Station” (de “Station to Station”, 1976 mas versão tirada do disco “Stage”, 1978) – 8:49
7. “Look Back In Anger” [US Single Version] (de “Lodger”, 1979) – 3:08
9 “Stay” [US Single Version] (de “Station to Station”, 1976) – 3:23
10. “Warszawa” (de “Low”, 1977) – 6:16

Revisitando a história de Christiane e que diabos ela tem a ver com o David Bowie (se você digitar no Google Christiane F. vai encontrar como um dos resultados de pesquisa David Bowie): em 1976, durante um show da Isolar I (turnê do disco “Station to Station”) a jovem alemã Christiane F. cheirou heroína pela primeira vez e começou aí sua dramática experiência no submundo do vício. Perdeu a confiança da mãe, do pai, e alguns amigos para a heroína. Christiane começou a vender seu corpo e sua dignidade por cerca de quarenta marcos na Estação Zoo de Berlim. Como eu disse lá em cima,  David Bowie teve contato com essa história no período em que morou em Berlim (1977 a 1979, “Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” saiu em 1979 e foi traduzido primeiro para o inglês). E provavelmente enquanto passeava pela capital alemã ele deve ter visto a menina drogada e prostituída aos 13 anos, que era sua fã. (Antes que eu esqueça: é o David Bowie mesmo que aparece no filme e a sua banda de verdade na época do início dos anos 1980!). Essas fotos aparecem no filme (não estão na ordem, desculpa) e se quiser ver a parte do show no filme clique nesse link. tumblr_moyf60jMUY1s8jasmo2_1280tumblr_mj8dbgd0OZ1r425d9o1_500tumblr_moyf60jMUY1s8jasmo1_500Christiane-F-2tumblr_lzsbciC7lv1qflt1lo1_r1_400M8DCHFF EC001cristiana_f_noi_i_ragazzi_dello_zoo_di_berlino_nadja_brunkhorst_ulrich_edel_009_jpg_xpnu2014_cbc5_960

David Bowie (como ele mesmo) e Natja Brunckhost (como Christiane F.): os anjos do pó, 1980. David Bowie aceitou de bom grado fazer ele mesmo no cinema. Inclusive é creditado no filme como ator e autor da trilha sonora. Como David não podia sair de NY (pois estava numa peça da Broadway, “O Homem Elefante”), a equipe alemã do filme Christiane F. teve que levar uma pequena parte do elenco para os EUA, e gravar as tomadas do que seriam o show lá. O show (que não era de verdade) foi gravado com um playback de “Station to Station” (tirado do disco “Stage”, de 1978), mas parece que o David cantou de verdade e sua banda tocou de verdade. Os críticos dizem que é a melhor OST (Original Sound Track) feita por David Bowie, pois as músicas combinam com os momentos do filme: animada na Sound, triste quando Christiane tenta se matar com uma superdose. Melhor que “Labyrinth” (1986) (que não foi feita somente por Bowie) e “Budda of Subburbia” (1993) (que apesar de ter canções feitas especialmente para essa série da BBC, não ficou muito criativo o resultado).

As faixas desse disco foram tiradas dos discos “Station to Station”, “Low”, “Heroes” e “Lodger”. O disco tem os momentos que lembram a discoteca Sound (“a mais moderna da Europa”) ao som de “V-2 Schneider” (“Heroes”), da versão do single de “TVC 15” (Station to Station), a versão de single de “Look Back in Anger” (Lodger), “Boys Keep Swinging” (Lodger) e a versão de single de “Stay” (Station to Station). Mas os momentos mais tristes da trajetória de Christiane também tem trilha sonora, com “Sense of Doubt” (“Heroes”) e “Warszawa” (“Low”). Os picos desse disco são a versão bilíngue de “Heroes” (com o lado B do single na Alemanha Ocidental, uma versão em alemão de “Heroes”, “Helden”) e a versão ao vivo de “Station to Station” (de “Stage”), que inclusive é citada no livro.

“Quando David Bowie começou, foi sensacional. Exatamente do jeito que imaginei. Fantástico. Mas nos primeiros acordes de ‘It’s too late’ (uma parte de Station to Station) me inquietei. Aí fiquei, de repente, na pior. Já nas últimas semanas — sem saber como, nem por quê — esta música me dava uma imensa tristeza. Acho que ela descrevia exatamente a minha situação. Bem que eu estava precisando de Valium…”

No filme algumas músicas foram ligeiramente alteradas, subiram meio tom para dar um clima de discoteca mesmo. Já no disco ficaram do jeito que foram gravadas originalmente. Sem contar que teve uma faixa que não entrou na trilha sonora: “Neuköln”, de “Heroes”, bem emendada com “Sense of Doubt”.

Influência da Trilogia de Berlim

A influência da Trilogia de Berlim é enorme. A trilogia berlinense causou efeitos em todas as gerações seguintes de músicos que escutaram estes discos, e até hoje se mostra relevante. Seja tirando experiências da própria vida que Bowie levava na época (a luta contra as drogas e a canalização do vício para uma produção criativa – crises tão comuns e viscerais) ou como influência sonora (sua esperta mistura de gêneros e sua vontade de brincar com o experimentalismo),Low, “Heroes” e Lodger formam uma verdadeira trinca de ouro da música moderna que continuará inspirando músicos e artistas por muito tempo.

“Sem o disco Low, nós não teríamos o Joy Division, o Human League, o Cabaret Voltaire e muito menos o Arcade Fire. A lenda ainda vive”, como disse um crítico do site Pitchfork Media. É muita coisa.

“Heroes”, é considerado pelo próprio DB como um de seus melhores discos. Não é um dos melhores, é o melhor. Toda vez que escuto a faixa-título me arrancam lágrimas. Até o John Lennon achou esse disco demais!

Apesar de Lodger não ter feito tanto sucesso quanto os seus antecessores, é um disco interessante e divertido (apesar da capa chocante). É pop e cult ao mesmo tempo. É um dos pilares da música pop.

O compositor erudito Philip Glass fez uma adaptação para a música clássica dos dois primeiros discos da Trilogia: a Symphony nº1 ou Low Symphony e a Symphony nº4 ou ‘“Heroes” Symphony. Eu gostei, mesmo não sendo muito fã de música clássica. Esses dois discos e o “Symphonic Music of the Rolling Stones” me aproximaram um pouco mais da música clássica. Se não tiver paciência para ouvir as duas sinfonias completas (vou avisando que a Low Symphony tem apenas 3 faixas, mas elas tem mais de 15 minutos cada), indico “All Saints”, uma coletânea de instrumentais que tem parte da sinfonia de Low e de “Heroes”.

Philip Glass_ _Low_ Symphony (From the Music of David BowiePhilip Glass_ _Heroes_ Symphony (From the Music of David Bo

Aqui é Berlim

A trilogia de Berlim, não tenho palavras para descrever o quanto esses discos mudaram a música.

Nos tempos da purpurina parte IV: Um cara insano, Transformer, Pin Ups e afins

kwestNesse último post da série “Nos tempos da purpurina” vou tratar dos outros discos da “Ziggy-era”: Aladdin Sane (1973), Pin Ups (1973), Transformer (1972), Diamond Dogs (1974), Station to Station (1976) e Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture (1983). Já falei de disco, roupa e maquiagem, shows intensos e só faltava os discos relacionados. Os textos tem os títulos nas cores das capas de cada disco.

Eu ouvi cada um dos discos, sério. Aladdin Sane e Pin Ups se completam a Ziggy Stardust: Aladdin fala da loucura (o Ziggy pirou depois de um tempo, por causa do sucesso, eu disse isso na primeira parte de “Nos Tempos da Purpurina”) e Pin Ups é um disco das músicas favoritas de Bowie só que com arranjos mais arrojados e algumas versões chegam a superar as originais (exemplo: as faixas “Rosalyn”, “I can’t explain” e “I Wish you Would”), que simboliza as influências de Ziggy Stardust.

Transformer, apesar de não ser de David Bowie (é de Lou Reed) é um disco fundamental do glam rock e foi o que salvou um pouco o rock dos anos 1970. Lou Reed fez parte do Velvet Underground, uma das bandas mais influentes dos anos 1960 e uma das favoritas de David Jones (tô falando do Bowie). Depois de um primeiro disco solo massacrado pela crítica, Lou contou com a ajuda de Mick Ronson (guitarrista do Spiders from Mars) e de David Bowie para gravar alguma coisa. Ronson produziu o disco e tocou guitarra, enquanto Bowie contribuiu com os backing vocals. O resultado foi super elogiado pela crítica.

Diamond Dogs tem a temática do livro “1984” de George Orwell e deveria ser um musical. Mas já que a viúva de Orwell não aceitou ceder os direitos para a produzir a peça, com o material que tinha Bowie gravou um disco. Nesse disco vemos a imagem da Hunger City e de Halloween Jack com sua namorada num futuro cheio de “pulgas do tamanho de ratos e ratos de tamanho de gatos”. Poderia virar um musical daqueles, inesquecível, mas a Sonia vacilou…

Station to Station é completamente anti-Ziggy: mostra a última grande persona artistica de David Bowie, Thin White Duke. O Duke era o Ziggy às avessas: se vestia de maneira simples e elegante, mas era cruel e sem coração. Nas palavras de Bowie: “um super-homem ariano” (1976). Sei disso David, mas para mim é o lado preto e branco de Ziggy Stardust.

De Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture vou praticamente repetir o que falei sobre o “The Retirement Gig”.

Vai ser no mesmo esquema do primeiro post: as músicas estão no meu Skydrive. Clique na capinha de cada disco (capa, gente!) que vai para o link de cada disco no meu Skydrive. Não vou citar música, vai ficar longo e cansativo.

Aladdin Sane

Um cara insano* (Aladdin Sane é na verdade, A lad insane*). Esse disco de David Bowie é um dos mais marcantes que ele fez e não é à toa. O show começa logo na capa: a clássica imagem do raio transpassando o rosto de Bowie (maquiagem de Pierre La Roche) é uma das mais famosas imagens do rock (Admito que eu tentei fazer o raio no meu rosto, mas ficou invertido pois sou canhota). Continua no encarte. E termina no disco: com faixas com a temática da loucura e da insanidade mostra que ninguém é normal, por mais que queira parecer. Involuntariamente, esse é o disco que mais se parece com esse blog. Afinal, “ninguém é tão normal quanto parece”. Nas palavras de Bowie “É o Ziggy conhecendo a fama…um Ziggy falando sobre a América, minha interpretação do que a América significa para mim” (1973). Se você viu o primeiro post, ao ficar famoso Ziggy perdeu a sanidade. Logicamente, para Bowie (naquela época) a América é uma terra insana, de gente insana. Acho que a opinião dele não mudou muito, não. Em uma gravação mais recente (de 1997) o Bowie canta: “I’m afraid of Americans” (tenho medo dos americanos).

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Embaixo, info do disco:

Produzido por: David Bowie & Ken Scott para MainManEngenharia: Ken Scott & Mick Moran

Arranjos de: David Bowie & Mick Ronson

Staff:

David Bowie: vocais, violão, gaita, saxofones
Mick Ronson: guitarras, piano, vocais
Trevor Bolder: baixo
Mick Woodmansey: bateria
Mike Garson: piano
Ken Fordham: bux: saxofones, flautas
Juanita “Honey” Franklin / Linda Lewis / Mac Cormack: backing vocals
Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido.

Eu gosto demais das faixas “Panic at the Detroit” (tem uma levada interessantíssima), “The Prettiest Star” (essa faixa foi cantada por David pelo telefone para Angie e foi seguida por um “Do you want marry me?”, quer casar comigo?), o cover de “Let’s Spend the Night Together” dos Stones, “Time” (na qual Bowie interpreta: tem uma hora que faz uma voz aguda que é demais), “The Jean Genie” (que tem um clipe gravado nas ruas de Londres que é legal) e “Lady Grinning Soul” (a introdução no piano é maravilhosa). Inclusive no momento em que estou escrevendo esse texto estou ouvindo “Panic at Detroit”. Para mim essa faixa é wunderbar! (maravilhosa).

Pin Ups!

Apesar de ser um disco de covers, é um disco de covers que tem faixas em que a versão fica melhor que a original. É um disco ensolarado e cheio de vida, alegre da primeira a última faixa. Um outro disco de covers que eu gosto demais é “The Stonewall Celebration Concert” do Renato Russo (1994). Nesse o Renato canta suas músicas favoritas. O interessante: não soa como Legião Urbana.

Em “Pin Ups” o David e toda a sua trupe saem de Londres e vão para um castelo na França para gravar: em Chateau d’Herouville, um estúdio recomendado por Marc Bolan. E não é que o som mudou? Nesse disco há versões de músicas do The Pretty Things (Rosalyn e Don’t Bring Me Down), do Them (Here Comes the Night), do The Yardbirds (I Wish you Would e Shape of Things), do Pink Floyd (See Emily Play), do The Who (I can’t Explain e Anyway, Anyhow, Anywhere), do The Mojos (Everything’s Alright), do The Kinks (Where Have All the Good Times Gone), do The Easybeats (Friday on my Mind), do Mccoys (Sorrow, a baladinha do disco) e duas que não entraram na versão original, mas que entraram no relançamento da RYKODISC, de 1990: uma versão de Bruce Springsteen (Growin’ Up) e uma versão em inglês de uma canção do francês Jacques Brel (Port of Amsterdam). Eu ouvi as versões e as originais.

Info do disco (já tá ficando chato a pessoa inserir informações técnicas…):

Produzido por: David Bowie & Ken ScottEngenheiro de som: Denis Blackeye

Arranjos: David Bowie & Mick Ronson

Staff:
David Bowie: vocais, sax alto & tenor, guitarra, gaita, sintetizador Moog
Mick Ronson: guitarras, piano e backing vocals
Trevor Bolder: baixo
Mike Garson: grand piano, teclado, órgão & harpa
Aynsley Dunbar: bateria
Ken Fordham: sax barítono                                                                                                        
Mac Cormack: backing vocals

Estúdio: Chateau d’Herouville, França.

E como não poderia deixar de ser, a capa de qualquer disco do David Bowie dos anos 1970 é um espetáculo: Bowie aparece na capa ao lado de Twiggy, modelo britânica da qual eu falei lá no primeiro post, que pode ter inspirado o nome “Ziggy”. Fotos por Mick Rock.

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As minhas faixas favoritas desse disco são: “Rosalyn” (ficou mais legal do que a original, admito), “Here comes the Night” (música de dor de corno) “I Wish You Would” (uma versão esperta e cheia de sonoridade), “I Can’t Explain” (uma versão sexy e muito fodona), “Friday on my Mind” (o que no fundo todo mundo tem, todo mundo pensa na sexta) e “Sorrow” (momento música lenta do disco).

Tranformer

Esse disco foi o que salvou a alma de Lou Reed. Salvou mesmo, porque depois disso Lou gravou um disco conceitual: “Berlin” (1973). Mas vamos nos concentrar no Transformer (o primeiro Transformer da história!).

Em 1971 o primeiro disco solo de Lou Reed (Lou Reed) havia sido detonado pela crítica. Motivo: o som era diferente do Velvet Underground. O Velvet era super-cult, já Lou fora do Velvet era super-m….

Então Lou foi para Londres ao lado de sua namorada para gravar no lendário Trident Studios. Mick Ronson se juntou à trupe de Lou e chamou Bowie para ir junto. Mas no começo das gravações estava perto de o couro comer: Bowie e Ronson queriam de um jeito, Lou queria de outro. Mas os três se entenderam e as gravações foram às mil maravilhas.

O disco estourou e ficou entre os 30 melhores dos EUA. Foi a primeira gravação de Lou Reed a estourar. “Walk on the Wild Side”, o single do disco, foi muito tocado nas rádios. E o pessoal que trabalhou para que esse disco ganhasse vida:

Produzido por: Mick RonsonStaff:                                                                                        Lou Reed – guitarra, teclados, vocais                                                                                          Herbie Flowers – baixo, contrabaixo, tuba em “Goodnight Ladies” e “Make Up”                                                                                 Mick Ronson – guitarra, piano, flauta, vocais, arranjos de cordas*  John Halsey – bateria                                                               Ronnie Ross – saxofone barítono em “Goodnight Ladies”

Músicos Adicionais

David Bowie – backing vocals                                                 Thunderthighs – vocal de apoio                                                Barry DeSouza – bateria                                                                                         Ritchie Dharma – bateria                                                                                   Klaus Voormann – baixo                                                                                               Ken Scott – engenheiro

Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido

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Apesar de eu não ser muito fã do Lou eu gostei desse disco. Não é porque o Bowie faz os backing vocals, não! É porque é consistente e sem muita enrolação. E vai direto ao assunto. Eu gostei de “Vicious”, “Andy’s Chest” (o peito do Andy, nesse caso Andy Warhol), “New York Conversation” e, claro “Walk on the Wild Side”! Não ficou numa posição legal no 500 Greatest Albuns of All Time, da Rolling Stone, mas tá valendo.

Keep Calm, Diamond Dogs rule, OK!

Depois de um sucesso retumbante com “Aladdin Sane” David tentou novos ares. Chamou uma nova banda e queria fazer um musical inspirado em “1984” do George Orwell. Não deu. A viúva de George, Sonia Blair, não queria que a obra-prima do seu marido fosse adaptada para o teatro pelas mãos do David.

Com o material que tinha, dava para gravar um disco. Então Bowie resolveu reinventar a obra de Orwell à sua maneira. Reinventou mesmo: a Londres de “1984” virou Hunger City (muito mais doidona que Londres), Winston Smith virou o Halloween Jack, um “real coal cat” (lembrei de “Gimme Shelter”, dos Stones: “burns like a real coal carpet”) e assim por diante…

Mesmo que na capa do disco Bowie aparecesse completamente Ziggy e que Diamond Dogs ainda seja glam, prenuncia um dos movimentos mais marcantes do rock: o punk. E tome ficha técnica!

Produzido por: David Bowie, Tony Visconti e Keith HarwoodStaff:

David Bowie – vocais, violão, saxofone, sintetizador Moog , Mellotron, produtor, engenheiro de mixagem                               Earl Slick – guitarra em “Rock ‘n’ Roll with Me”                         Mike Garson – teclados                                                        Herbie Flowers – baixo                                                                                       Tony Newman – bateria                                                                                       Aynsley Dunbar – bateria                                                          Alan Parker – guitarras em “1984”

A capa, feita pelo pintor holandês Guy Pellaert, é um pouco bizarra (um pouco é ironia): na capa há duas prostitutas rindo (meio gente, meio buldogue) e na frente uma criatura meio cachorro, meio Bowie. Tá, é uma pintura, mas o original seria essa pintura só que o Bowie do jeito que veio ao mundo. S.O.S! Desculpa se tive que repetir imagem, mas é um recurso para destacar.

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As minhas faixas favoritas de “Diamond Dogs” são as seis primeiras (equivalente ao lado A): “Future Legend” é somente uma introdução falada na qual Bowie nos situa na Hunger City, controlada pela Diamond Dogs (uma espécie de Big Brother que manda em tudo). A faixa-título nos situa dentro da história, porque isso não é rock’n’roll, é genocídio* (“It’s ain’t Rock’n’roll, it’s genocide”*). “Sweet Thing”, “Candidate” e a reprise de “Sweet Thing” são três faixas inseparáveis super boas. “Rebel Rebel” é uma faixa ainda glam, cujo tema é a ambiguidade sexual (algo que o Bowie tinha bastante: era um divertido jogo de “ele é ou não é?”). Tem um disco derivado, “David Live”, lançado em 1974. Disco duplo e um pouco estranho, admito. Eu falei que o David se livrou do penteado Ziggy. Na capa de “David Live” está o resultado. Se eu tiver paciência vou fazer uma crítica mais elaborada desses dois discos.

David Live Disc 1

You drive like a demon from station 2 station

Depois de um disco de sucesso, “Young Americans” (1975) no qual até o John Lennon fez backing vocals em “Fame” e o Bowie mandou seu passado glam para o espaço resolveu dar uma de Soul Boy, e de um filme de peso (o primeiro!) “O Homem que Caiu na Terra” (1976) no qual o David faz o alienígena/homem de negócios Thomas Jerome Newton (o cara se fode legal), era hora de voltar a gravar.

Mas não temos muitas informações de como as gravações de “Station to Station” rolaram por causa do crescente vício em cocaína de Bowie que jura não se lembrar de nada das gravações. Nem mesmo o povo que trabalhou com ele lembra. E o pessoal está nessa caixinha.

Produzido por: David Bowie e Harry MaslinStaff:

David Bowie – vocais, violão,  saxofone alto e tenor, sintetizador Moog , Mellotron                                                                  Carlos Alomar – guitarra                                                                                    Roy Bittan – piano                                                                                    Dennis Davis – bateria                                                                                       George Murray – baixo                                                         Warren Peace – backing vocals                                                                                      Earl Slick – guitarra

Estúdio: Cherokee Studios, Nova York, EUA

Em “Station to Station” vemos a última grande persona artística de David Bowie ganhar vida (uma vida curta, mas é uma vida): o Thin White Duke. Um homem vazio (gelo mascarado em fogo) interessado em cabala, misticismo, até no cristianismo (durante a turnê desse disco Bowie se apresentava com um crucifixo dourado no pescoço) que cantava canções de amor insossas. Alguns acham que é uma extensão do Thomas Jerome Newton do filme que numa parte grita por sua Mary-Lou (sua amante). Muitos classificam “Station to Station” como um álbum de canções de amor. Essa persona (Thin White Duke) se tornou uma espécie de apelido para o David Bowie. A capa e a contracapa do disco remetem ao filme “O Homem que Caiu na Terra” (vi esse filme, sério!). A capa é da cena em que o Tommy mostra sua nave espacial. A contracapa mostra um dos passatempos de David durante as gravações do filme: desenhar símbolos da cabala. Muito antes da Madonna.

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Foi esse disco que me introduziu no mundo de David Bowie (a maioria entra por causa de Ziggy Stardust ou Aladdin Sane), e por isso eu gosto de quase todas as faixas. A faixa-título, apesar da introdução ser longa e meio chata, é uma das minhas favoritas de toda a discografia do David porque me fisgou de uma maneira que poucas músicas haviam feito antes (fisgou mais forte até que algumas faixas da minha banda favorita, a Legião Urbana!): é uma batalha pela alma de alguém e nesse caso é a do Duke que está em jogo. “Golden Years”, outro momento Angie (o primeiro é “The Prettiest Star”), é uma baladinha romântica, para dançar agarradinho. “TVC 15” que é sobre como um cara se sente depois de ter sua namorada raptada pela televisão holográfica é alegre, mesmo que o disco inteiro seja depressivo.

Como “Diamond Dogs” esse disco também gerou um disco derivado: “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)”, lançado em 1982. Uma pergunta: o que a Madonna e a Christiane F tem em comum? As duas viram shows da turnê de Station to Station. Motivo: depois de um show de David Bowie da turnê de “Station to Station” enquanto a Madonna virou a Madonna, Christiane F. cheirou heroína pela primeira vez. E porque eu disse que a trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” é derivada de “Station to Station”? Três das seis faixas desse disco entraram na trilha sonora do filme: Station to Station (em uma versão ao vivo, já que a música é citada no livro), TVC 15 (a versão do single, um pouco mais curta que a do disco) e Stay (que nem aparece direito no filme). O disco tem duas capas, acho mais legal a segunda, que está aí embaixo.

Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)

Farewell Ziggy

O último suspiro de Ziggy Stardust foi dado no Hammersmith Odeon em 1973 (falei no post anterior, né?). Mas o registro em áudio do show foi lançado oficialmente somente em 1983 junto com a versão em VHS do show. Em 2003 o filme foi relançado em DVD junto com uma edição em CD. O audio havia sido lançado antes em um bootleg, “His Master’s Voice”.

hismastersvoice

O disco deveria ser lançado antes (em 1974) mas por causa de “Diamond Dogs” e “David Live” (primeiro registro ao vivo de algum show do David Bowie) foi lançado mais tarde. Motivo alegado: a qualidade do som não era das melhores. Tiveram que dar uma editada no material em estúdio. E tiveram que editar de novo em 2003.

Produzido por: David Bowie, Mike Moran e Tony Visconti           Ken Scott – engenheiro de gravaçãoStaff:

David Bowie – violão, vocais, saxofone, gaita                            Mick Ronson – guitarra base, baixo, vocais de apoio                Trevor Bolder – baixo                                                                                      Mick Woodmansey – bateria                                                     Mike Garson – piano, Mellotron, órgão                                       Ken Fordham – saxofone alto, tenor e barítono                         John Hutchinson – guitarra rítmica, backing vocals                                                                                           Brian Wilshaw – saxofone tenor, flauta                                      Geoffrey MacCormack – backing vocals, percussão

A capa do disco não poderia ser feita hoje em dia: mostra Bowie fumando. Ele tinha feito essa cena do cigarro em outras capas como em Young Americans (1975) e na coletânea Changestwobowie (1982). Logo no começo do filme mostra o take do cigarro que entrou na capa, que é na parte do David se preparando para o show. A contracapa do DVD é mais legal. Mostra uma sequência de 16 fotos em que o David aparece fumando nas quatro primeiras e as outras são consumidas pelo fogo que sai do seu cigarro. A contracapa do disco mostra uma das últimas fotos, completamente consumida pelas chamas.

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Com um set misturando os maiores hits de Bowie até então e faixas de “Ziggy Stardust”, “Aladdin Sane” e covers de Lou Reed, dos Stones e de Jacques Brel, Ziggy Stardust se despediu.

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Eu devia ter colocado essa imagem no post anterior, mea culpa…#Farewell Ziggy

As minhas favoritas desse disco são “Hang on to Yourself” (mais animado que o Aquecimento das Maravilhas), “Ziggy Stardust” (no show tem a troca de roupa mais ligeira da turnê e feita no palco!), “Wild Eyed Boy From Freecloud/All the Young Dudes/Oh! You Pretty Things” (um medley dos mais legais do disco), “Space Oddity” (eu comecei a chorar nessa parte), “Width of a Circle” (no qual tem a performance de mímica), “Suffragette City” (uma das minhas favoritas de qualquer jeito!), e “Rock ‘n’ Roll Suicide” (que eu chorei de novo).

Vai ter um post bootleg que é como seria se Ziggy Stardust tivesse acontecido hoje em dia. E o processo criativo das postagens da série “Nos Tempos da Purpurina” com todas as fontes que pesquisei para compor a primeira série do Longe D+. Os outros discos do David Bowie que vem antes de “Ziggy Stardust”, os vídeos que assisti, e minhas impressões sobre esse trabalho do “The Actor”. Então…Oh, wham bam, thank you, ma’am!

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