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Nos tempos da purpurina parte V: Ziggy 2.0

kwest“Crack, baby, crack, show me you’re real” (Cracked Actor, 1973)

Com essa postagem espero terminar o assunto “Nos Tempos da Purpurina”. Foi uma série de postagens muito proveitosa e divertida. Mergulhei de cabeça nessa história. Mais um pouco eu teria cortado meu cabelo e pintado de vermelho e descolorido as minhas sobrancelhas.

A maior parte do material que eu pesquisei estava em inglês e eu tive que mentalmente traduzir tudo, isso ajudou a aumentar o meu vocabulario. Aprendi palavras como “faggot” (boiola), “outrageous” (ridículo), “tramp” (vagabunda), “swishy” (afrescalhado), o que significava a expressão “Hunky Dory” (tudo em cima), o que é um bootleg (lançamento extraoficial de algum disco). Admito que aprendi palavras não muito delicadas, mas essas palavras que aprendi não se aprende nem na escola nem em curso, certo?

Vi muito material de arquivo: alguns shows que estão disponíveis no Youtube (tem poucos registros em vídeo porque nessa época era muito complicado gravar, não existia celular com câmera e as câmeras eram pesadas demais), documentários da BBC (Cracked Actor, de 1975 e David Bowie and the Story of Ziggy Stardust, de 2012) e um filme chamado “Love you till Tuesday”, de 1967 (que é mega bizarro!). Vi esse filme para ver como foi que o David Robert Jones passou de um rapaz mod loirinho para…bem, David Bowie. Esse “Love you till Tuesday” é mega bizarro: nele o David canta, faz mímica e representa o personagem mais difícil da vida dele: ele mesmo, David Bowie.

Ouvi cerca de 13 discos, de “David Bowie” (1967), “Space Oddity/Man of the Words, Man of the Music” (o segundo nome é da edição americana, de 1969), “The Man who Sold the World” (1970), “Hunky Dory” (1971), “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), “Transformer” (de Lou Reed, 1972), “Aladdin Sane” (1973), “Pin Ups” (1973), “Diamond Dogs” (1974), “David Live” (1974), “Station to Station” (1976), “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture” (1983), “Santa Monica ‘72” (2008). Para ter uma ideia, comecei a sonhar com “Ziggy Stardust” todas as noites. Pelo menos isso ajudou a enfrentar uma gripe e uma crise de depressão. Eu tinha com o que me entreter.

Se Ziggy Stardust fosse nos dias atuais, teria Twitter, Facebook e compartilharia fotos cheias de efeitos no Instagram. Dei uma editada numas fotos de shows com uns efeitos semelhantes aos que são usados no Instagram. Editei no Picasa. Eu gosto mais da primeira! Nas legendas colocarei informações como os efeitos utilizados em cada foto, informações sobre os shows, só para enriquecer. Alienígena

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David Bowie metendo os dentes na guitarra de Mick Ronson. Arregaça essas calça aí, David! Depois do showzinho feita no Oxford Town Hall, a performance em que os dentinhos do David encontram as cordas da guitarra de Ronson (e a guitarra está sempre no mesmo lugarzinho…) foi copiada durante a maioria dos shows da turnê. E aprimorada. A mais bizarra foi registrada em uma foto em que a guitarra do Ronno (apelido do Mick Ronson) encontra o traseiro do Bowie e o nosso querido Mr. Bowie está com uma cara de quem está tendo um orgasmo.  A foto seguinte mostra o que teve depois (ou antes, eu não estava lá…). Efeitos utilizados: Intensificar, Autocontrate.

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O casal neuras Mick Ronson e David Bowie em 1973, de novo e em dose dupla. A dupla se conheceu em 1969, quando Ronno substituiu John Hutchinson na Hype, a banda com a qual Bowie se apresentou entre 1969 e 1970. Começou aí uma parceria muito forte e marcante para os dois lados. Quem conviveu com os dois garante que a química dos dois era perfeita: pareciam almas gêmeas em corpos separados. Bowie contou com a ajuda de Ronson na hora de montar dois projetos que mudariam a vida deles: o Arnold Corns (em 1970, que não deu certo) e o Spiders from Mars (que deu certo até demais). Chegou a se pensar que Mick Ronson era gay (depois do episódio no qual o Bowie saiu do armário no Melody Maker), mas ele nunca admitiu publicamente que gostava de homens. Chegou a se pensar que Bowie e Ronno tiveram um caso durante a turnê asiática de Ziggy Stardust. Mas isso é lenda. A guitarra Gibson Les Paul utilizada durante a turnê “Ziggy Stardust” está num Hard Rock Cafe de Nova York. Efeitos: Estilo Lomo, Brilho.

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Mais uma do casal neuras David Bowie e Mick Ronson, dessa vez fora do palco. O casalzinho feliz está fazendo uma boquinha num trem, durante a turnê americana de “Ziggy Stardust”. David mantinha o estilo, mesmo fora do palco. Suas roupas off-stage eram desenhadas por Freddi Buretti e eram mais simples em relação aos figurinos usados no palco. Freddi já havia trabalhado com Bowie no Arnold Corns. A sugestão da cor vermelha dos cabelos de Bowie veio de sua primeira mulher, Angie, e foi prontamente aceita. Já Suzi Fussey deu uma sugestão para o visual de seu futuro marido (Mick Ronson): pediu que o guitarrista platinasse os cabelos para dar um contraste com o vermelho ardente dos cabelos de Bowie. Ronno relutou um pouco, mas aceitou. A roupa que Bowie está utilizando está em um Hard Rock Cafe em Orlando. Efeitos: nenhum, somente correção de cores.

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Momento voz e violão, provavelmente na faixa “My Death”, Los Angeles, 1973. Esse robe tem botões de pressão de prata na frente e velcros atrás, pois tem um collant por baixo E ESSE COLLANT PRECISA SER REVELADO! Duas ajudantes vestidas de preto (Suzi Fussey e Melanie McDonald) ajudavam o David a tirar a roupa. Isso mesmo que você leu. Tinha shows que o David sozinho tirava a roupinha. Luz nele! Havia diversas trocas de roupa (a maioria do David, mas a banda também trocava a roupa). Efeitos: Estilo Holga.

Ficha técnica (em 1973):

Essa é a ficha técnica do David Bowie, em 1973. Tirei de uma revista de fã-clube, de 1973. Não tive tempo de traduzir, evidentemente.

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Da da da…

“Just look through your window, look who sits outside (Love you till Tuesday, 1967)”

Tive que fazer uma retrô forçada de quase tudo que o David tocou antes de Ziggy Stardust para poder entender esse disco. Ouvi o primeiro disco que ele lançou em carreira solo: “David Bowie”, de 1967 (ele teve duas bandas antes, a King Bees e a Lower Thirdies. Nenhuma deu certo). Tem um disco com músicas dessa época “I Dig Everything”. Em mono, não estéreo.

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Admito que achei “David Bowie”, o disco, mega engraçado. Não só a capa, mas as músicas também. “Love you till Tuesday” (a faixa mais famosa) é mega engraçada. Como o cara que depois compôs pérolas poéticas como “Heroes”, uma das canções de amor mais bonitas de todos os tempos que conta a história de dois jovens separados pelo Muro de Berlim com armas por cima de suas cabeças (um amor tido como impossível naqueles tempos de Guerra Fria), compôs uma canção que pelos padrões Bowie é meio bobinha (mas nada que tenha o dedo do David é bobinho)? A única parte que eu decorei foi a seguinte: “Ohh, beautiful baby/My burning desire started on Sunday/Give me your heart and I’ll love you till Tuesday” (Ohh, lindinha/Meu desejo ardente começou no domingo/Me dê seu coração e te amarei até terça-feira). Da da da… Isso é muito leve em relação a letras como “Cracked Actor”, que fala claramente em pegar um rapaz depois de ficar rico e famoso sendo ator; “John, I’m only dancing”, que fala de se pegar alguém, mesmo que o namorado não esteja reparando (o namorado do eu-lírico é o tal John); e a citada umas cem mil vezes “The Width of a Circle”, que fala de um relacionamento homossexual e de maneira lírica.

Antes que eu me esqueça: esse primeiro disco foi relançado em 2010 pela EMI numa edição remasterizada com disco duplo. Com toneladas de faixas-bônus.image

Alguns bootlegs legais de antes de “David Bowie”: “London Boy” (1995) e “The Forgotten Songs of David Robert Jones” (1997). As músicas gravadas na época da Deram (incluindo o primeiro disco na íntegra) foram agrupadas em um disco, “The Deram Anthology 1966-1967” (1997). A mais legal é “The Laughing Gnome”, uma faixa super engraçadinha e super fofa que a minha irmã mais nova gostou. Fofinha mesmo: dá uma vontade de rir junto com o gnomo risonho. Pode parecer meio boba, mas nada que tenha o dedo do Actor (nesse caso, o David) é bobinho.

The Deram Anthology 1966-1968

E sim, antes de viver a encarnação branquela e de ruivos cabelos e roupas coloridas e maquiagem fortíssima e sobrancelhas raspadas (ou descoloridas, sei lá) conhecida como Ziggy Stardust, David Bowie foi um rapaz normal. Mas se ele fosse normal, ele jamais seria David Bowie, certo?

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David Bowie na época da Deram (o braço independente da gravadora Decca, que era a gravadora dos Stones), em 1967. David teve muito azar com esse seu primeiro disco: no mesmo dia havia sido lançado “Sgt. Pepper Lonely Heart Club Band”, a obra-prima dos Beatles. E quem ligaria para um cantorzinho que tinha um olho não-humano quando os Beatles lançaram seu melhor disco? O disco do David foi praticamente esquecido por anos (só foi relançado em 2010). Muitos críticos consideram o seu primeiro disco “Space Oddity” (que foi lançado nos EUA como “David Bowie”).

“We’ve really got a good thing going!”

Depois de se decepcionar com a música (esse primeiro disco não deu o que tinha que dar), o David se mandou para um retiro budista na Escócia, ficou um ano por lá e mais tarde se mandou para a companhia de mímica de Lindsay Kemp. Já que com a música as coisas não iam bem, ele foi tentar a vida de ator. Fez uma peça que passou na BBC, chamada “The Pistol Shot”. Lá conheceu Hermione Farthingale, uma atriz e dançarina, e se apaixonou por ela.Coração vermelhoCoração vermelho . Os dois viviam numa casinha vitoriana simpática e tinham uma vida social tão fechada que se sabe pouco do que os dois aprontavam. O que sabemos: David e Hermione eram um típico casal hippie. Preparavam refeições macrobióticas, discutiam arte, poesia romântica e filosofia budista e nos fins de semana, os dois iam pro campo tomar sol pelados (não é muito legal fazer isso em Londres. Vai que os vizinhos olham…).

Mas o Bowie não dava o braço esquerdo a torcer. Junto com Hermione e um guitarrista chamado John Hutchinson, montou um combo hippie chamado Feathers. O povo cantava, tocava e nos intervalos fazia mímica. Uma suruba desgraçada. Mas acabou, durou até maio de 1969. Como todas as bandas que o David tentou montar não deu certo de jeito nenhum (além das citadas King Bees e Lower Thirdies dos anos 1960, em 1989 o Bowie tentou montar uma banda, a Tin Machine, que também não deu certo). Motivo: o cara não se dá com bandas. Ele é do “bloco do eu-sozinho”, como o disco do Los Hermanos. Acho que a única banda com o qual ele se ajustou legal foram os Spiders from Mars.

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Na primeira foto (da esquerda pra direita): Hermione Farthingale, David Bowie, Tony Visconti e John Hutchinson. The Feathers, em 1968. A única garota dessas fotos é a Hermione Farthingale. A trupe que não ganhava nenhum tostão, mas que fazia David Bowie feliz.

E o romance hippie com Hermione terminou em 1968, no set de “Love you till Tuesday”.Coração partidoCoração partido . E Hermione, como que atingida com um feitiço de desaparecimento, sumiu da face da Terra (O próximo post vai falar do meu livro favorito da série Harry Potter, aguardem!). As músicas que o David cantou no filme (média-metragem, tem 29 minutos) foi lançado em 1989. Isso, depois de 20 anos.

Na época de Ziggy Stardust o David restabeleceu contato ligeiramente com Hermione. Mas nessa época o encanto havia se acabado: David estava casado, com filho e não se parecia em nada com o David hippie pelo qual Hermione havia se apaixonado.

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Capa de Love You Till Tuesday, trilha sonora do filme, de 1989. Na capa, uma foto que saiu da gravação do clipe original de “Space Oddity”, de 1968. Essa versão de “Space Oddity” é diferente da versão mais famosa, de 1969 e que foi a trilha sonora da chegada do homem à Lua.

E vou falar em detalhes do tal “Pierrot in Turquoise or The Looking Glass Murders” para não dizerem que eu só dou referência sem explicar: foi encenada em 1967 pela companhia de mímica de Lindsay Kemp, fez sucesso, mas não gerou muito retorno (e daí?). A adaptação para a televisão é do ano de 1970 e foi feita por uma televisão escocesa (nota do Imbd: 6,1 em uma escala de 1 a 10). Vou por uma tabelinha com o resumo. Com soundtrack e tudo!

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Na primeira foto, a intro da adaptação da peça para a TV. Na segunda, Lindsay e Annie como o Pierrô e a Columbina. E sim, na terceira foto é o David, como Cloud. O cara tá assanhado e parecendo um desvalido, mas e daí? É o David Bowie. Cast:

David Bowie como Cloud

Lindsay Kemp como Pierrot

Jack Birkett como Harlequin

Annie Stainer como Columbine

Michael Garret como Piano Player

“Descrito por Lindsay Kemp como “um anjo loiro”, depois que seu disco não deslanchou, tentou ser ator. Montou ao lado de Kemp “Pierrot in Turquoise”, uma adaptação da história clássica dos palhaços Pierrô, Columbina e Arlequim. A trilha sonora foi composta por Bowie e está no bootleg “The Forgotten Songs Of David Robert Jones”. Essa peça foi adaptada para a televisão em 1970 com o nome de “The Looking Glass Murders”, inclusive chegou a passar numa pequena televisão escocesa (a gravação resistiu até os nossos dias). Bowie no papel de Cloud (uma espécie de musa inspiradora do Pierrô, nesse caso, muso) e Kemp no papel de Pierrô faziam um par romântico.”. A soundtrack dessa apresentação é composta por: “Threepenny Pierrot”, “Columbine”, “The Mirror” e “When I Live My Dream”. Gostei mais de “Threepenny Pierrot”.

A História: o Pierrô está apaixonado pela Columbina, mas ela está apaixonada pelo Arlequim. E como se não bastasse, Cloud também está apaixonado pelo Pierrô. No fim, Pierrô mata o Arlequim (nossa, que bizarro).

“Ground control to Major Tom…”

“(…) And the papers want to know whose shirts you wear (Space Oddity, 1969)”

Ouvi “David Bowie/Man of the Words, Man of the Music/Space Oddity”, de 1969. Esse disco tem três capas e três nomes: a capa original da edição do Reino Unido, a capa da edição americana e a capa do relançamento (da RCA, atual Sony Music), de 1972. Mas a música não muda, não! Tá, tem uma faixa chamada “Don’t Sit Down”, que não entrou na versão de 72. Motivo: era muito curta (43 segundos!) e na maior parte da música o David está achando graça!

Esse disco marcou um momento de transição do David. Ele havia rompido com Hermione Farthingale, o movimento hippie na Inglaterra era uma coisa já meio démodé e sua vida pessoal deu uma guinada. O cara conheceu duas pessoas que mudaram a sua vida: Calvin Mark Lee, executivo de artistas & repertório da gravadora Mercury e Angela Barnett, uma estudante de Economia de Yorkshire. Calvin deu um contrato para o David na Mercury e uma oportunidade de ouro. E a Angela…Bom, ela começou a namorar com o David, logo no primeiro encontro ele a levou para a cama, os dois namoraram e mais tarde Angela se tornou a primeira Sra. Bowie.

Por causa da chegada do homem à Lua a BBC escolheu uma faixa para servir de trilha sonora. A escolhida: “Space Oddity”. Tem duas versões completamente diferentes dessa música: uma de 1968 com um clipe mega bizarro de 1969 (só vendo umas cem vezes para entender) e a de 1969 (a oficial) que ganhou um clipe em 1972. No primeiro clipe o David Bowie faz dois papéis ao mesmo tempo: o Major Tom e o cara do Ground Control, tinha duas garotas do espaço, um capacete que lembra o pessoal do Daft Punk, era mega literal. O segundo era mais centrado no subjetivo: David Bowie (com um salto branco de dar inveja) com um violão e algumas luzes vermelhas ficava cantando “Space Oddity”, intercalava com imagens de um computador das antigas, e na parte da contagem regressiva mostrava os números num mostrador digital.

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As quatro primeiras fotos são do primeiro clipe, de 1969. As outras quatro fotos são do clipe de 1972, inclusive com o bisavô do notebook que digita essas linhas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

O som de “Space Oddity” (o disco) mistura sons folks (muito violão e gaita, até um acordeom, influência de Bob Dylan!) com sons eletrônicos tirados de um Mellotron (um sintetizador que tem um som parecido com o sintetizador que era usado pelo RPM nos anos 1980) e de um Stylophone (uma espécie de teclado que também faz um som parecido com o teclado usado pelo RPM! Será que são a mesma coisa?).

Eu achei massa as faixas “Space Oddity” (porque será, hein?), “Unwashed and Somewhat Slightly Dazed” (tem um solo de gaita muito legal, a versão de “Bowie at the Beeb” disco 1 faz a pessoa se sentir na frente de um rádio por causa do som. D+), “Letter to Hermione”, (uma carta de amor que jamais foi enviada) e “Wild Eyed Boy From Freecloud” (eu acho muito massa todas as versões, mas essa ganha).

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Da esquerda para a direita: “Space Oddity”, de 1969 capa original da edição britânica (Phillips), “Man of the Words/Man of the Music”, 1969, edição americana de “Space Oddity” (Mercury) e o relançamento de 1972 para Space Oddity (RCA). Fico com a primeira!

“You’re face to face with The Man Who Sold The World”

“Oh no, not me, I never lost control” (“The Man who Sold the World”, 1970)

Também dei uma ouvida no tal “The Man who Sold the World”, de 1970. Esse disco também tem três capas diferentes: a capa do vestido (da edição britânica), uma capa em desenho (da edição americana) e a capa do relançamento da RCA, que como “Space Oddity” é do ano de 1972. Além de ter ouvido a faixa-título (que foi regravada pelo Nirvana e ficou mais famosa), ouvi “The Width of a Circle”, “Black Country Rock”, e “All the Madmen” com gosto. Kurt Cobain fez uma lista dos 50 discos mais legais que ele achava e “The Man…” ficou na 45ª posição.

O som desse disco é pesado, forte, precursor do heavy metal (tem a ver com Deep Purple e Led Zeppelin). O momento que o David vivia também explicava o som tão forte: pouco depois do lançamento de “Space Oddity” o pai do David morreu de pneumonia. Angela já morava com David na lendária Haddon Hall e lá o casalzinho feliz fez uma despedida de solteiro: chamaram um amigo e fizeram sexo a três. Foi dela a ideia do vestido na capa.

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Da esquerda para a direita: capa da edição britânica de “The Man who Sold the World” (causou polêmica, por causa do vestido, Phillips, 1970), capa da edição americana (Mercury) e a capa do relançamento, de 1972 (RCA).

Ziggy Stardust transformou David Bowie de um artista folk num rockstar de verdade. Foi o seu primeiro disco de sucesso não só dentro do Reino Unido, mas também nos EUA, que normalmente torcem o nariz para artistas britânicos (artistas, mas eles deliram com bandas). Mas ele já fazia sucesso nos EUA. Seu apelido por lá: o Bob Dylan inglês (na época de “Space Oddity” ele se apresentava quase da mesma maneira que o bardo norte-americano, exceto que o Bob não tem um olho cuja pupila nunca fecha). O grande responsável foi “The Man who Sold the World”.

“The Man…” (aquele lá da capa do vestido), de 1970 vendeu cerca de 50 mil cópias nos EUA (o que era muita coisa), enquanto em todo o Reino Unido vendeu a incrível quantia de 7 cópias. Não tô frescando. Cinco delas o Bowie comprou para presentear e as outras duas foram compradas por um fã. Essa edição original de “The Man…” (da parceira britânica da gravadora Mercury, a Phillips) é disputada a tapa.

Nessa época David resolveu declarar todo o seu amor por Angie em uma canção (devia ter algum para compor uma música…): “The Prettiest Star” (A estrela mais bela). Gravou e lançou como um single que saiu antes mesmo de “The Man…” ao lado de Marc Bolan. Recepção: apenas 800 cópias vendidas no Reino Unido. David a regravou com as guitarras de Mick Ronson em 1973 e entrou no disco “Aladdin Sane”. Só coloquei essa informação a título de curiosidade. Mas acho “The Prettiest Star” uma música muito linda. =)

Ch-ch-ch-ch-Changes…

“Time may change me, but I can’t trace time” (Changes, 1972).

Durante o ano de 1970 aconteceram mudanças (changes, em inglês) na vida dos Bowie. Primeira viagem do casal para os EUA, o casamento dos dois ainda era tido como “normal” (os dois ainda se comportavam e se pareciam com um casal jovem normal apaixonado), David trocou de gravadora (o contrato com a Mercury havia expirado e ele foi para a RCA) e Angela estava grávida. Essa carta enviada por Bowie para uma editora musical explica quase tudo o que rolava: “Now I am 24 and I am married and I am not at all heavy. And I’m still writing and my wife is pregnant…” (Agora tenho 24 anos e estou casado e isso não é tudo que está rolando. E eu ainda estou escrevendo e minha esposa está grávida).

Isso se refletiu no som do disco que David Bowie fez no ano seguinte. Até o nome do disco dizia a situação do cara: Hunky Dory, uma expressão inglesa que queria dizer que estava tudo em cima. Esse disco tem somente uma capa. Na contracapa tem as informações do disco escritas a mão pelo Bowie em pessoa. Com erros e tudo.imageimage

Realmente os tempos mudaram para o David: capa e contra-capa de Hunky Dory (RCA), 1971.

Na contracapa tem algumas observações sobre algumas faixas: em algumas canções tem um asterisco, que indica que os arranjos foram feitos por Mick Ronson. Em “Life on Mars?” tem uma dedicatória irônica a Frank Sinatra (ele mesmo!), em “Kooks” (uma fofinha lullaby, canção de ninar, a mais fofa de todo o disco) tem outra dedicatória, dessa vez para o filho de David e Angie, Zowie (Zowie é uma adaptação da palavra grega Zoe que significa vida, segundo a explicação dada por Angie. Mas Zowie, escrito desse jeito, rima com Bowie, certo?), em “Queen Bitch” (a única que minha irmã que curte funk gosta de toda a discografia do David Bowie), tem uma dedicatória ao pessoal do Velvet Underground (v.u White Light returned with thanks, White Light/White Heat é uma música do Velvet. Ouvi e achei legal).

É um dos meus discos favoritos do David, gosto de quase todas. “Changes” (as partes de piano são muito legais), “Oh! You Pretty Things” (uma homenagem a uma banda que o David curtia, The Pretty Things. Se tornou um hino do glam rock), “Life on Mars?” (o clipe é meio bizarro), “Kooks” (uma canção de ninar que mostra como era o clima na casa em Haddon Hall), “Queen Bitch” (uma das minhas favoritas de toda a discografia do David. Um cara morre de ciúmes de uma bicha…).

“You’re the blessed, we’re the Spiders From Mars!”

Na época de Hunky Dory David montou ao lado de Mick Ronson os Spiders from Mars (guarde bem esse nome!). Os Spiders pareciam uma continuação de um trabalho anterior do Bowie de antes de Hunky Dory, o Arnold Corns. Esse nome (Arnold Corns) foi tirado de uma música do Pink Floyd.

O Arnold Corns lançou apenas um compacto independente, “The Arnold Corns” de 1971, anterior a Hunky Dory. Tinha somente duas faixas, que foram regravadas com algumas alterações nas letras em “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”: “Moonage Daydream” e “Hang on to Yourself”. Terei que repetecar uma foto do post nº2.

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“Come on strong girl, lay the heavy trick on me” (Moonage Daydream, Arnold Corns, 1970). O Arnold Corns não durou muito, apenas alguns meses entre 1970 e 1971. Formado pelos futuros integrantes dos Spiders from Mars, pelo designer de roupas Freddi Buretti (que está do lado do David na foto acima) e por David Bowie, o Arnold Corns tinha canções mais leves em relação às canções de “The Man Who Sold the World”. O compacto foi lançado de maneira independente pois o nome David Bowie estava registrado na Mercury e enquanto o contrato não acabasse ele não podia gravar nenhum disco como David Bowie. Mas podia ser como Arnold Corns, certo?

A banda inicialmente tinha somente três integrantes (3-piece band): o citado umas cinquenta vezes Mick Ronson (nas guitarras), Mick “Woody” Woodmansey (na bateria) e Trevor Bolder (no baixo). Lembram-se que no post nº2 disse que até a banda entrou na vibe do David. Taí. A primeira é de “The Jean Genie”, de 1973. A segunda é da sessão de fotos de “Ziggy Stardust”, o disco.

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Referências bibliográficas:

Livros:

Bowie, Angela, com Patrick Carr. Backstage Passes – Life on the Wild Side With David Bowie. Nova York: Cooper Square Press, 2001.(disponível somente em inglês)

Buckley, David. Strange Fascination: David Bowie—The Definitive Story. Londres: Virgin Books, 1999. (disponível somente em inglês)

Pegg, Nicholas. The Complete David Bowie. Londres:Reynolds and Hearn Ltd., 2004. (disponível somente em inglês)

Rock, Mick, and David Bowie. Moonage Daydream: The Life and Times of Ziggy Stardust. Nova York: Universe Publishing, 2002. (disponível somente em inglês)

Spitz, Marc. Bowie – A Biography. Nova York: Crown Publishers, 2009. (disponível também em português, edição da Editora Benvirá).

Mídias:

Documentários:

Cracked Actor (BBC, 1975, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=HnIBBkgkO5o).

David Bowie and the Story of Ziggy Stardust (BBC, 2012, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=S_hZ-Z_4ZVg)

Videoclipes:

“Space Oddity”, videoclipe original (1969, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=D67kmFzSh_o)

“Space Oddity”, videoclipe oficial (1972, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=cYMCLz5PQVw)

“Queen Bitch”, no The Old Grey Whistle Test (1972, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=O8oGyGo1q-k)

“Life on Mars?” (1972, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=v–IqqusnNQ)

“John, I’m Only Dancing” (1972, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6VrqCBsbeuc e a reedição de 1973 disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4SMwHgEsgPo&feature=share)

“The Jean Genie” (1973, disponivel em http://www.youtube.com/watch?feature=episodic&v=CGQo6zpVzt8&NR=1)

Tv shows:

Part I of The Looking Glass Murders (When I Live my dream) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=aOvHM7IQLts)

Part II of The Looking Glass Murders (Columbine) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=CEei36gynqA)

Part III of The Looking Glass Murders (The Mirror) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=_388rRqS40M)

Part IV of The Looking Glass Murders (Threepenny Pierrot) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4PTHHLgg7do)

Shows:

Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (gravado em 03 de julho de 1973, mas lançado em 1983, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=3cZxVHim0Co)

The 1980 Floor Show, exibido no programa da NBC “Midnight Special” (gravado entre 18, 19 e 20 de outubro de 1973, exibido em 16 de novembro de 1973, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=dxRWsQ1nre4)

Sites:

David Bowie – The Official Website, disponível em http://www.davidbowie.com/

The Ziggy Stardust Companion, disponível em http://5years.com/start.htm

Teenage Wildlife, disponível em http://www.teenagewildlife.com

Bowie Wonder World, disponível em http://www.bowiewonderworld.com/index.html

New Killer Star, disponível em http://newkillerstar.wordpress.com/

http://www.beatrix.pro.br/mofo/ziggystardust.htm

http://www.beatrix.pro.br/mofo/bowielow.htm

Community of Bowie fans (faço parte!) , disponível em http://community.davidbowie.com

Quatro Vezes Você

Já que David Bowie, um dos tiozinhos do rock que ainda está inteiro, lançou um clipe polêmico nos últimos dias: “The Next Day” (eu vi, não achei nada demais, mas foi censurado pela Liga Católica americana, pede a confirmação de idade no Youtube e tem um monte de visualizações e eu vi foi na VEVO!), vou fazer um texto desanuviando essa figura folclórica do rock. Ou melhor essas figuras folclóricas do rock. O cara era um e ao mesmo tempo era vários.

Eu estava um dia desses imaginando. Algo quase cotidiano para mim. Imaginando quatro garotas da minha classe vestidas como as  quatro principais personas artisticas do David Bowie: Major Tom,  Ziggy Stardust, Aladdin Sane e Thin White Duke. Ficou meio estranho cada uma vestida com uma particularidade de figurino, mas seria fodão. Uma vestida de astronauta, outra de roqueiro alienígena, outra de roqueiro americano com um raio no rosto e mais uma vestida de nobre decadente.

Antes que o caro leitor fique boiando, vou explicar: já ouviu falar no Fernando Pessoa? Um dos maiores poetas da língua portuguesa, que ficou famoso por seu heterônimos. Os mais famosos são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos (tem mais 121,se ficou curioso). Pois é, o David Bowie fez diversas personas, os seus heterônimos (a que ficava melhor em mim seria o Screaming Lord Byron, de 1985, que é menos conhecido. E eu estava imaginando meus cabelos pintados de roxo e minha pele meio azulada). As mais famosas são as quatro citadas lá em cima.

Primeiro, vou falar do astronauta: o Major Tom. O Major Tom é um astronauta, que foi mandado para as estrelas, por livre e espontânea vontade. Tudo estava as mil maravilhas, mas ocorre uma falha na comunicação grave, o foguete fica com problemas e a última transmissão do Major é “diga a minha esposa que eu a amo muito” e a resposta é “ela sabe”, meio que prevendo que ele não iria voltar. Tom tem  problemas com drogas, mas esse assunto é mais citado na faixa “Ashes to Ashes”, de 1981. A faixa “O Astronauta de Mármore”, da banda brasileira Nenhum de Nós descreve um pouco o astronauta chapado. Mesmo que seja de outro alterego, o Ziggy Stardust. O Major Tom apareceu pela primeira vez na faixa “Space Oddity”, de 1969. Essa música foi a trilha  sonora da chegada do homem à Lua no Reino Unido e fez o vesgo David Robert Jones famoso e virar um dos sex-symbols do rock. Rock tambem é história, folks!

“This is Major Tom to ground control
I’m stepping through the door
And I’m floating in the most peculiar way
And the stars look very different today

For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue, and there’s nothing I can do” (David Bowie, Space Oddity, 1969).

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Depois de dois discos sem “personagens” mas com o visual bem andrógino, quase feminino (Hunky Dory e The Man Who Sold the World, agradeçam a Angela, primeira mulher do David), vem o personagem mais famoso do David: Ziggy Stardust. Ziggy é um alienigena (de novo, o tema do espaço) que é uma espécie de mensageiro do Apocalipse. Resumindo a história: a Terra vai acabar dentro de cinco anos. Ziggy tenta avisar o povo da Terra que “o fim está próximo”. Mas  diferentemente da maioria desses “profetas do Apocalipse”, Ziggy usa o rock para espalhar essa mensagem com a sua banda, a Spiders from Mars. Mas depois o cara fica doido com o sucesso que lhe sobe à cabeça (vira um cara egocêntrico, drogado, explosivo e completamente doidão), acha que é um profeta do “Starman” (o salvador da pátria, ou melhor, do mundo), e acaba se matando. O disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” de 1972 conta a história desse roqueiro alienígena gente fina, mas que diz muito sobre a vida dos rock stars: o sucesso sobe a cabeça e leva a autodestruição. Esse texto abaixo é de uma entrevista do David Bowie para a Rolling Stone americana na época do lançamento do disco. Coloquei o texto em inglês e uma tradução que eu fiz (ué, sou estudante de Letras! Preciso fazer traduções decentes!). O curioso: depois da turnê do disco, o David demitiu toda a banda. O Ziggy não bateu as botas (botas de couro vermelhas!) e a banda dele não acabou? Então. Se não bastasse,em um show na casa de shows no Oxford Town Hall o maluco do David fez o seguinte: “se ajoelhou diante de Mick Ronson, enlaçou o traseiro do guitarrista com as mãos e puxou Ronson e sua guitarra em direção à sua boca – em uma simulação de sexo oral”(nada muito infantil) e parecia uma orgia na plateia. Mais info sobre esse episódio escandaloso: http://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-74/como-ziggy-stardust-caiu-na-terra Não achei a foto na internet (ainda!). Foto abaixo.

Crianças, não façam isso em casa, sob nenhuma hipótese!
Crianças, não façam isso em casa, sob nenhuma hipótese!

“The time is five years to go before the end of the earth. It has been announced that the world will end because of lack of natural resources. Ziggy is in a position where all the kids have access to things that they thought they wanted. The older people have lost all touch with reality and the kids are left on their own to plunder anything. Ziggy was in a rock-and-roll band and the kids no longer want rock-and-roll. There’s no electricity to play it. Ziggy’s adviser tells him to collect news and sing it, ‘cause there is no news. So Ziggy does this and there is terrible news. ‘All the young dudes’ is a song about this news. It’s no hymn to the youth as people thought. It is completely the opposite. […]

The end comes when the infinites arrive. They really are a black hole, but I’ve made them people because it would be very hard to explain a black hole on stage. […]

Ziggy is advised in a dream by the infinites to write the coming of a Starman, so he writes ‘Starman’, which is the first news of hope that the people have heard. So they latch onto it immediately…The starmen that he is talking about are called the infinites, and they are black-hole jumpers. Ziggy has been talking about this amazing spaceman who will be coming down to save the earth. They arrive somewhere in Greenwich Village. They don’t have a care in the world and are of no possible use to us. They just happened to stumble into our universe by black hole jumping. Their whole life is travelling from universe to universe. In the stage show, one of them resembles Brando, another one is a Black New Yorker. I even have one called Queenie, the Infinite Fox…Now Ziggy starts to believe in all this himself and thinks himself a prophet of the future starmen. He takes himself up to the incredible spiritual heights and is kept alive by his disciples. When the infinites arrive, they take bits of Ziggy to make them real because in their original state they are anti-matter and cannot exist in our world. And they tear him to pieces on stage during the song ‘Rock ‘n’ roll suicide’. As soon as Ziggy dies on stage the infinites take his elements and make themselves visible.”

Minha tradução:

“A época é cinco anos antes do fim da Terra. Foi anunciado que o mundo iria acabar por carência de recursos naturais. Ziggy está em uma situação em que todas as crianças têm acesso às coisas do jeito que elas querem. Os mais velhos perderam todo o senso de realidade e as crianças deixam de se roubar umas as outras. Ziggy está em uma banda de rock’n’roll e as crianças não querem saber de rock’n’roll. Não há eletricidade para tocar. O assessor de Ziggy lhe diz para procurar notícias e cantá-las, pois não há notícias. Então, Ziggy faz isso e há terríveis notícias. ‘All the Young Dudes’ é uma faixa sobre essas notícias. Não é um hino sobre a juventude, como as pessoas acham. É completamente o oposto. […]

O fim chega quando the infinites (não tem tradução, nesse caso) chegam. Eles na verdade são buracos negros, mas eu os criei como pessoas porque é muito difícil explicar o que são buracos-negros no palco.

Ziggy é avisado em um sonho pelos infinites para escrever sobre a vinda de um ‘Starman’, então ele escreve ‘Starman’, que é a primeira notícia de esperança que as pessoas estavam ouvindo. Então, eles ‘sacam’ o que significa imediatamente. Os ‘starmen’ do qual ele está falando são os chamados infinites e eles são saltadores de buracos-negros. Ziggy estava falando sobre aqueles fantásticos homens do espaço que vieram para salvar a Terra. Eles aterrissam em algum lugar em Greenwich Village. Eles não ligam para esse mundo e não é possível a ajuda deles. Eles só vieram parar no nosso universo porque eles estavam “saltando buracos-negros”. A vida inteira deles é viajar de universo em universo.

No show, um deles se parece com (Marlon) Brando, outro é Black New Yorker. Tem um que se chama Queenie, the Infinite Fox. Agora Ziggy começa a acreditar em tudo de si e que pensa que é um profeta dos futuros starmen. Ele se eleva a tais alturas espirituais e é seguido por seus discípulos. Quando os starmen aparecem, eles dão mordidas em Ziggy para serem reais, já que são feitos de antimatéria e que não existe no nosso mundo. E eles o rasgam em pedaços (rasgam o Ziggy) no palco durante a faixa ‘Rock’n’roll suicide’. Assim que ele morre, os starmen pegar seus elementos e se tornam visíveis.”

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Depois desse roqueiro alien que se vestia esquisito, o David continuou com os cabelos vermelhos. Gravou o disco “Diamond Dogs” (inspirado no livro 1984, de George Orwell) em que a capa foi feita por um pintor holandês, Guy Peelaert. A capa é meio esquisita, vide foto abaixo. Digita no Google “diamond dogs” que você encontra a foto completa. A única faixa que eu gosto de verdade é “Rebel Rebel”. Minha cara. “Rebel Rebel, you’ve torn your dress/Rebel Rebel, your face is a mess/Rebel Rebel, how could they know?/ Hot tramp, I love you so!” (tradução:” Rebelde Rebelde, você rasgou seu vestido/ Rebelde Rebelde, seu rosto é uma bagaça, Rebelde Rebelde, como eles poderiam saber?/ Vagabunda gostosa, eu te amo demais!”)

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E o tal Aladdin Sane, que eu passei metade da semana falando sobre ele e ninguém entendeu? Segundo o David era “Ziggy Stardust indo aos Estados Unidos” e é também uma frase (Aladdin Sane é um trocadilho com a frase “a lad insane”, um cara doidão). Não havia muita diferença entre Aladdin e Ziggy. As diferenças: Aladdin era americano (de Detroit), já Ziggy era marciano, os figurinos do Aladdin eram mais elaborados e a personalidade do ruivo de Detroit era quebrada. E o som tinha uma levada mais americana (inclusive no inglês), mas as roupas eram um episódio a parte. Nem mesmo Lady Gaga teria coragem de usar roupinhas tão doidas (cortesia da modelo Angie). Mais uma dica: se tiver se interessado, caro leitor, digite “Aladdin Sane”. O que mais marcou foi a maquiagem do raio, que representa a dualidade da mente. Traduzindo: todo mundo é um. Mas ao mesmo tempo é dois, três, quatro, 124 (no caso do Fernando Pessoa)…

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Depois de ter feito um figurino mais “normal” no disco “Young Americans” (com direito a backing vocal do John Lennon em “Fame”, a minha favorita do disco!), David Bowie, o Camaleão ataca novamente. Dessa vez, com um figurino mais normal. O Thin White Duke, apresentado ao mundo no disco “Station to Station” (de 1976), era um nobre decadente, interessado em cabala e misticismo de toda e qualquer espécie, que cantava canções de amor meio insossas. Normal, certo? Errado. O cara estava magérrimo, vivendo à base de “red peppers, cocaine and milk” (pimentas malaguetas, cocaína e leite), a paranoia estava o perseguindo e a personalidade que demonstrava em suas entrevistas era meio sombria. E o casamento com Angie estava no buraco (horrores de beijos sem paixão, chifres para os dois lados e o filho dos dois pagava o pato…). O figurino estava normal, já a cabeça dele, nem tanto. Se mandou para Berlim Ocidental e se vacilar, deve ter cruzado com uma certa Christiane F. E lançou a trilogia de Berlim (“Heroes”, Low e Lodger), junto com Brian Eno. Mas isso é assunto para um post anterior. Não analisei a soundtrack do filme da Christiane F. porque eu não sabia, só baixei há pouco tempo. Quer mais imagens? Vá a http://bowieisgod.tumblr.com/page/2 .Tem diversas fotos bacaninhas. A que eu mais curti foi a do David com sua ex-mulher Angie como dois alienígenas trabalhados no Tecnicolor, datada de 1972. Uma foto linda (não sei se  vocês vão achar o mesmo, caros leitores), mais pela forma que pelo conteúdo.

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E eu achei fodona a faixa V-2 Schneider! É, fugi do assunto. Que se foda!

Ainda sobre “Station to Station”, de tanto eu tocar lá em casa, minhas duas irmãs aprenderam o refrão. A contra-gosto, admito. Mas elas aprenderam e é isso que importa! (E a minha irmã do meio adorou o filme da Christiane F.!)

“The return of the Thin White Duke
Throwing darts
In lovers’ eyes
Here are we one magical moment
Such is the stuff from
Where dreams are woven
Bending sound
Dredging the ocean lost in my circle
Here am I
Flashing no colour tall in this room
Overlooking the ocean”  (David Bowie, Station to Station, 1976).

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E a lição do dia: todo mundo é um. E se reinventa o tempo todo.

Ao som de: Space Oddity, Starman, Panic at the Detroit,Station to Station, O Astronauta de Mármore, Marcianos Invadem a Terra…