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Um lugar chamado Haddon Hall

“Who Fucked Mick Jagger?” (Quem comeu o Mick Jagger?). Vi essa frase na camiseta do vocalista do Maroon5 no clipe de “Moves Like Jagger”. A palavra ‘fucked’ estava apagada (é um palavrão), mas eu já sabia o que era. Desde que eu comecei a curtir com mais intensidade rock das antigas essa pergunta martela minha cabeça. Eu já respondi e vou dividir as minhas conclusões a respeito desse assunto.Essa história se passa em outubro de 1973, aproximadamente. Envolve um casal 20 e um roqueiro pegador. Mas antes, vamos nos situar.

Mary Angela Barnett conheceu David Robert Jones quando ela tinha 19 anos e ele 22 (em 1969) e ela imediatamente se apaixonou por ele e ele por ela. Os dois eram fisicamente parecidos e tinham interesses em comum: ficar famosos, e coisas do gênero. Angie havia se encantado pelo “rosto de anjo caído” de David. Já o David se apaixonou pela garota que se vestia com roupas de homem. Na biografia do Bowie que eu estou lendo tem um capítulo dedicado especialmente a ela. Foi uma paixão fulminante. Tão fulminante que apenas um ano depois de terem se conhecido os dois casaram. E um ano mais tarde, os dois tinham uma criança. O roqueiro loiro inglês se apaixonou pela modelo americana nascida na ilha de Chipre. Angela passou a adotar o sobrenome artístico do marido. Entrou para os anais do rock como Angela Bowie, a única mulher do rock famosa por não ter entrado para uma banda e sim por ter várias músicas dedicadas a ela e por ter sido mulher de roqueiro. A mais famosa pode ter sido “Angie”, dos Stones (já falei dela em um post anterior, lembram-se caros leitores?). Mas a mais bonita é “The Prettiest Star”, do disco “Aladdin Sane” (1973). Angela é mais famosa que a atual do Bowie, Iman (e olhe que a Iman além de ser umas cem mil vezes mais bonita que a Angie, já fez clipe com o Michael Jackson). Motivo: Iman é um milhão de vezes mais discreta do que a Angie. Que quando se separou contou os podres do ex-marido para todo mundo.Havia um pequenino probleminha nessa linda historinha: os dois eram bi. Angela havia tido um caso com uma estudante, Lorraine, enquanto estudava nos EUA. E o David… não se sabe de casos documentados de que ele pegou algum cara antes de conhecer Angie, se sabe que ele pegou mulher. Uns acham que ele pegou o manager Kenneth Pitt. E os dois não se amavam. David não esqueceu seu primeiro grande amor, Hermione Farthingale, uma dançarina e atriz que haviam feito um espetáculo juntos. Parecia um casamento de aluguel, um contrato assinado oficialmente em março de 1970. A roupa da noiva: um vestido rosa com roxo. A roupa do noivo: um paletó enorme (provavelmente de lã, pois há as palavras shearling-trimmed, que são usadas para lã) e quatro braceletes de prata, pois não havia alianças. Estava claro que não daria certo.

Foto do casamento, em 1970.  EM NENHUMA HIPÓTESE, SE VISTA ASSIM PARA SE CASAR, DÁ MÁ-SORTE!
Foto do casamento, em 1970. EM NENHUMA HIPÓTESE, SE VISTA ASSIM PARA SE CASAR, DÁ MÁ-SORTE!
Angie tentando agradar a sogrinha, Peggy.
Angie tentando agradar a sogrinha, Peggy Jones.

A dupla ficou conhecida como A e D, adivinhe por que. Alegre. O casalzinho feliz morava em Haddon Hall, Londres. Mas infelizmente o lugar não existe mais. Foi demolido em 1975 e deu lugar a um estacionamento feio e sem graça. As fotos lá embaixo foram tiradas lá em Haddon Hall e são de Mick Rock.

love is a crazy thing

Ah, que bonitinho.... #Será?

"Staying back in your memory Are the movies in the past How you moved is all it takes To sing a song of when I loved The Prettiest Star"
“Staying back in your memory
Are the movies in the past
How you moved is all it takes
To sing a song of when I loved
The Prettiest Star”
"Cold fire, you've got everything  but cold fire You will be my rest and peace child I moved up to take a place near you"
“Cold fire, you’ve got everything
but cold fire
You will be my rest and peace child
I moved up to take a place near you”
"One day though it might  as well be someday You and I will rise up all the way All because of what you are The Prettiest Star"
“One day though it might
as well be someday
You and I will rise up all the way
All because of what you are
The Prettiest Star”

David Bowie em Haddon Hall, por Mick Rock

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Angie havia notado algo interessante e que pouca gente havia notado antes: o seu querido maridinho era fisicamente atraente tanto para rapazes quanto para moças. Se tivesse peito e bunda seria uma mulher. E aproveitou isso. Começou a vestir o maridinho com vestidos femininos e uns roupões meio esquisitos, antes o cara se vestia mod total (com uns terninhos e umas gravatinhas. Depois o cara caprichou no gliiiter!). Os exemplos mais lapidares são as capas do disco “The Man Who Sold The World”, de 1970; em que David aparece vestido com uma túnica que parece ter sido feito de uma cortina ou daquelas colchas de cama baratas, mesmo sendo de seda (abaixo) e do disco Hunky Dory, de 1971; em que o David aparece com um visual feminino, inspirado em Marlene Dietrich, uma atriz alemã que ele adorava e que parecia muito com Veronica Lake, outra atriz (mais embaixo). Quando minha irmã que gosta de funk viu as duas capas ela disse assim:

É esse aí o David Bowie? Parece uma mulher.

— É sim. Não acredita?

— Não. Ele é boiola?

— Depende do seu ponto de vista. De uma certa forma, sim. The-Man-Who-Sold-The-World hunkydory

Angela dava pitacos na carreira de Bowie e chegou a mandar despedir um dos empresários da MainMan, que administrava a carreira do David. Quando não estava cozinhando ou metendo o pau no povo que trabalhava com o marido, ela desenhava e costurava as roupas de show do marido e de sua banda.Quando eu li uma parte de uma biografia do Bowie eu ri. A banda Hype, criada para a turnê de “Space Oddity” (1969/1970), tinha uns figurinos esquisitíssimos e o povo tinha uns nicks (apelidos) meio idiotas, admito. Influência de Alice Cooper. O Bowie era o Rainbow Man (sua roupa era como um prisma com todas as cores do arco-íris, ui!), Tony Visconti (baixista) era o Hype Man (um baixista super-herói), John Cambridge (baterista) era o Cowboy Man (com direito a chapéu e franja) e Mick Ronson (guitarrista, famoso pelo episódio da quase-felação descrito anteriormente) era o bem-vestido Gangster Man. (Fonte: SPITZ, Mark. Bowie – A Biography, New York, Crown Publishers, 2010. ISBN:978-0-307-46239-8. Páginas 250 a 254, se estiver no PDF.). Tem uma edição em português da Editora Desiderata, mas eu li na versão em inglês e que pro meu azar não tem muita foto.Cadê o arco-íris?

E o carnaval não acabou. Na fase super-hiper-mega glitter do David Bowie (Ziggy Stardust total), aconteceu o episódio citado lá em cima, no primeiro parágrafo do desenvolvimento do meu texto. Vamos falar do Ziggy? Só aí arremato com a história que introduzi no começo.Em 1972 saiu “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”. Entra na categoria “disco conceitual”, como diversos trabalhos do Bowie. Conta uma historinha (que eu já contei nesse post) de um roqueiro alien com voz em falsete que pira com o sucesso que lhe sobe à cabeça e se mata, um verdadeiro Rock’n’roll Suicide. E nos shows David não era David, era Ziggy. Ponto.

“Call me Ziggy, call me Ziggy Stardust!” (Me chame de Ziggy, me chame de Ziggy Stardust!)- Bowie (1972)

 

Os shows eram episódios a parte: eram intensos ao extremo, e cheios de “fluídos” na plateia (nem queiram saber de onde vêm). E o Bowie meteu o pau com gosto de gás. Em uma entrevista para o Melody Maker (vou citar esse periódico de novo em um próximo post, aguardem!) ele admitiu o seguinte: “Eu sou gay e sempre fui, desde que era David Jones”. E arrematou com essa frase: “Não sou ridículo. Sou David Bowie”. Foi como se tivesse caído uma bomba nuclear. Ou uma bomba de purpurina. (Fonte: SPITZ, Mark. Bowie – A Biography, New York, Crown Publishers, 2010. ISBN:978-0-307-46239-8. Páginas 316 a 331, se estiver no PDF). Resumi isso tudo em um parágrafo.

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Essa fotografia se relaciona com uma postada anteriormente. A da quase-felação.
Essa fotografia se relaciona com uma postada anteriormente. A da quase-felação.

Nessa época em que David Bowie fazia questão de admitir que era gay em todas as nuances possíveis e impossíveis dos seus ruivos cabelos, um outro roqueiro não sabia o que queria da vida. Se gostava de homem, de mulher…Mick Jagger, o pegador, começou a virar o pal (Pal é colega. Vocês devem ter pensado besteira, tipo que pal é caralho… caralho é outra coisa) de David Bowie. Ele estava se recuperando dos excessos das gravações do disco “Exile on Main St.”, de 1972. Pelo que eu soube a suruba foi tão louca que Mick Taylor (guitarrista que substituiu Brian Jones, morto em 1969), que não bebia nem vinho antes de começar a gravar saiu das gravações viciado em heroína (culpa do Keith!). A putaria deve ter sido grande na mansão do Keith Richards na Riviera francesa. Pelo que peguei na net sobre esse disco, tinha montes de garotas que não eram as esposas dos integrantes. O resultado de tamanha putaria foi um dos melhores discos da história. Depois conto com detalhes sórdidos o que deve ter rolado.Mick-Jagger-Andy-Warhol-1975Capa e contra-capa do disco Exile on Main St., de 1972.Em outubro de 1973, Angie foi viajar com uma amiga. Voltou uma manhã e foi para a cozinha fazer chá. A empregada, que havia chegado uma hora antes, avisou que havia alguém mais no quarto. Ao abrir a porta, a mulher encontrou a seguinte cena no seu “ninho de amor” ainda em Haddon Hall: deu de cara com Mick e David dormindo PE-LA-DOS. Ambos acordaram. “Oh, olá, como está você?”, perguntou Bowie. “Estou bem”, respondeu Angela, oferecendo café à dupla. “Estava na cara que eles tinham transado. Nunca considerei a possibilidade contrária”, segundo as palavras de Angie. Imaginei o que ela pensou.NADA! No livro “Backstage Passes”, lançado em 1981, em que Angie conta a maior parte dos podres do seu ex-marido (os dois se separaram em 1980 e ela conta mais podres em outro livro, “Free Spirit”) ela revela que não viu os dois tendo intercourse (palavra do inglês para relação sexual), mas pelo olhar assustado dos dois ela teve que admitir: provavelmente Mick transou com Bowie. Ou o contrário, que foi o mais provável. Ela afirma que os dois podem ter dormido na mesma cama após uma noite de bebedeiras e uso de drogas. A prova do crime.

Namoro ou amizade? Escolha!
Namoro ou amizade? Escolha!

Mas o rock é tão maluco que quase dez anos depois desse episódio o David e o Mick lançaram um single juntos: Dancing in the Street, para o Live Aid (1983). Angela Bowie (mesmo depois de separada ela manteve o sobrenome artístico e o real do ex, ela é Mary Angela Jones) em uma entrevista recente para o tabloide inglês The Sun dada neste ano (no link abaixo) contou um dado interessantíssimo: David sentia atração pelo povo que rivalizava com ele na música (na época: Marc Bolan do T-Rex, Alice Cooper, , o povo do Led Zeppelin, dos Stones, dos Beatles, do Queen, imagina esse povão todo na cama da Angie!). Angie ainda contou mais detalhes sórdidos do caso Mick and Bowie, como que a empregada riu quando ela chegou naquela manhã e disse que os dois estavam ‘se trocando’, que o Bowie estava todo coberto de almofada, provavelmente para esconder a nudez (Acho que ela só reconheceu o marido pelos cabelos Red Hot Red, que era a cor da tintura e pelo ‘snow White tan’, bronzeado branco como neve), que viu uma perna do Mick entre as almofadas do outro lado da cama (e o resto do corpo do cara, também), que os dois estavam tão bêbados que dava uma peninha. Que quando casaram ele fez questão de dizer: “Eu não te amo”, que seis semanas antes de casar encontrou com 14 pessoas com quem seu querido ex-marido havia tido, pelo menos intercouse (e tinha homem no meio), que ele só casou com ela porque queria um amparo psicológico (pouco tempo antes, o pai do David havia morrido de pneumonia). E ainda por cima ela meteu o pau no disco novo do ex, disse que estava um lixo, que desde a Trilogia de Berlim (“Heroes”, Low e Lodger) tudo que o David lançou era um completo lixo. Dor de cotovelo? Pode ser. E eu achando que três livros haviam sido o bastante para contar os podres do Bowie… Imagina se a Iman se separa e resolva engrossar a lista de podres de David Robert Jones, a.k.a David Bowie…

Pra não dizer que eu só fiquei falando da Angie, olha a Iman. Acho que ele fez uma boa escolha. (Acho não, tenho certeza!).
Pra não dizerem que eu só fiquei falando da Angie, olha a Iman. Acho que ele fez uma boa escolha. (Acho não, tenho certeza!).

Se você se interessou, tem uns sites legais. São os seguintes: Bowie Wonder World, Teenage Wildlife , The Ziggy Stardust Companion. Todos estão em inglês e dá para entender um tiquinho do que rolava no clã Bowie naqueles tempos. Mas é melhor ter um bom dicionário de inglês ou ser fluente. Mas vocês devem estar se perguntando: o que essa história tem a ver com o “Cadê a Luz do Fim do Túnel?”. Camilla descobre que seu namorado se veste de mulher. E para piorar, ele é bi.

Ao som de: “Five Years”, “Soul Love”, “Moonage daydream”, “Starman”, “It Ain’t Easy”, “Lady Stardust”, “Star”, “Hang onto Yourself”, “Ziggy Stardust”, “Suffragette City”, “Rock ‘n’ Roll Suicide” e …” The Prettiest Star” (cujos pedaços da letra eu escrevi na sequencia de fotos da Angie com o Bowie lá em cima).