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Rock is dead. Pop is already dead.

(Pelo amor de Deus, não me batam!)

(Esse post pode conter palavrões cabeludos)

Na minha humilde opinião, não tem muita coisa boa na música atualmente. Podem me linchar, me chamar de recalcada, mas o que eu estou falando tem fundamento.

Rock is dead. Mortinho da silva. E não foi o Billie Joe Armstrong quem matou o gênero punk rock. Atualmente não tem mais nada bom demais no gênero. Tanto é que eu fico ouvido clássicões tipo David Bowie, The Rolling Stones, The Beatles (só não acho que seja tudo isso), The Doors (o que eu ando ouvindo para caralho ultimamente. Porra, o Jim Morrison era lindo para caralho e cantava bem demais, o problema é que é ruim de entender tanta imagem maluca e ele bebia demais…).

Porque você se foi tão cedo, Jim Morrison?!
Porque você se foi tão cedo, Jim Morrison?!

O rock atualmente não tem nada de novo. Motivo: tudo já foi feito. Se aparecesse alguma coisa, vai ser comparado com outra do passado. Para que vou ouvir o novo, se os antigos são melhores?

E a música pop morreu para mim quando o Michael Jackson morreu. Na minha opinião, não tem nenhum artista que atualmente eu acompanhe, simplesmente porque na minha opinião não vale a pena. Eu escuto, mas não acho que seja isso tudo. OK, até a Madonna. Mas a Madonna vale a pena.

OK, não achei o disco novo da Madonna nada demais. Por um motivo óbvio: não há nada de novo no front. Nada mesmo. Ela já fez de tudo.

Hip-hop? Nem curto muito. Próximo!

(P.S.) A música da Iggy Azalea PU$$Y.

E o discurso “maravilhoso” de Chet Pussy (Cheech Marin) em Um Drink no Inferno, o filme. Toda vez que eu escuto a música da Iggy Azalea do post anterior (ou a filha bastardinha do Iggy Pop, porque eles se parecem muito) eu lembro dessa parte do filme.

Eu até curto música eletrônica, mas depois que o David Guetta perdeu o pen-drive… (Não acredita? Tem o vídeo no YouTube!) o respeito por ele foi junto.

Mas voltando: o que me deixa irritada com tudo isso é: Porque não discoteca aquilo ao vivo? Dá trabalho, eu sei, tenho amigos DJs, mas você gasta para caralho para pagar por um DJ cujo playlist está no pendrive?! Porra!

Depois eu termino, porque isso vai demorar e isso é somente uma demo. Fiquem com o “Soldado Desconhecido” do The Doors. E não me batam, por favor!

Uma Carreira Nova em Uma Nova Cidade: A Trilogia de Berlim

Finalmente vou falar da Trilogia de Berlim. São três discos de estúdio que simplesmente eu amo. Musicalmente são os trabalhos mais influentes do David Bowie (se não fosse por isso não haveria Joy Division nem David Guetta). Eles têm também um dedinho de Brian Eno, que mais tarde produziria um dos discos mais influentes do U2, “Achtung Baby” (1991) e mais obras do Bowie nos anos 1990 como “Outside” (1995) e “Earthling” (1999). Não estou frescando. Se não fosse pela Trilogia de Berlim, parte da música como a conhecemos hoje em dia não existiria. E você ainda acha David Bowie uma coisa chata…

Eu fiz um wallpaper com as capas dos três discos da trilogia, pode salvar e usar como papel de parede. Lá embaixo tem um com os discos da soundtrack de “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” e um cartaz do filme.

Trilogia de Berlim

O que caracteriza o som dos discos dessa Trilogia é o experimentalismo. David Bowie, cansado do rock de glitter (de “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, “Aladdin Sane” e “Diamond Dogs”), do plastic soul (de “Young Americans”) e do plastic funk com pitadas de música eletrônica (de “Station to Station”) resolveu criar algo novo, que fosse seu. Para isso contou com a ajuda de Brian Eno, que havia saído do Roxy Music, contemporâneo da fase glitter de Bowie.

Vou esclarecer alguns equívocos relacionados a esses três discos. De acordo com os críticos da obra de Bowie o nome “Trilogia de Berlim” é incorreto. Primeiro: somente um dos discos foi gravado integralmente em Berlim, que foi “Heroes”. “Low” teve partes gravadas em Nova York, Berlim e em Hamburgo e “Lodger” não teve uma faixa sequer gravada na capital da Alemanha (foi gravado em Nova York e na Suíça e finalizado em Montreal). Segundo: entre “Heroes” e “Lodger” tem um disco ao vivo, “Stage” (1978), gravado no Philadelfia Tower onde Bowie havia gravado quatro anos antes “David Live” (1974). Então, o nome “Trilogia de Berlim” seria somente para os discos de estúdio. Outro equívoco é dizer que os discos foram produzidos por Brian Eno pois, oficialmente os discos foram produzidos por Bowie e Tony Visconti. Eno, que foi um personagem vital no processo de criação dos mesmos, afirma que seu nome ficou fora dos créditos por não ter ajudado a pagar as horas gastas em estúdio.

Depois de uma tempestade dos diabos na vida do David (o vício em cocaína estava o destruindo completamente, seu casamento com Angie estava indo pelo esgoto e ainda o tachavam como nazista), um amigo lhe sugeriu que se mudasse. Para onde? Berlim, capital da Alemanha, para onde Lou Reed se mandou em 1973 e lá gravou um disco (ou melhor O DISCO dele): Berlin. Uma cidade dividida, como o nosso querido Actor. Bowie chegou a ser preso para averiguações nos EUA e a CIA montou um dossiê sobre a sua vida pregressa e colocando-o na lista de pessoas “potencialmente perigosas para a democracia”.

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O plano inicial de David era morar em Blonay, Suíça. Morando em uma área rural perto de um rio e só lendo, pintando e se vestindo de maneira simples David passava os dias. Era querido por todos. Lia horrores e pintava. Esse quadro foi pintado pelo Bowie e representa Iggy Pop em Berlim.

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Até que alguém apareceu para lhe tirar a paz. Isso mesmo: sua querida esposa, Angela. Ele começou a fugir dela, como o diabo foge da cruz. Pensou seriamente em ficar em Berlim. David se mudou de Los Angeles para Berlim após o fim de sua turnê, a Isolar I (do disco “Station to Station”), em setembro de 1976.

Antes dessa temporada conturbada em Berlim, David passou um tempo em Paris produzindo o primeiro disco solo de Iggy Pop: “The Idiot” (1976). Não é só porque o David faz um milagre de novo (o primeiro foram no disco Transformer, do Lou Reed e em All the Young Dudes, do Mott the Hopple, ambos de 1973) que eu recomendo. Uma curiosidade sobre esse disco: Ian Curtis, vocalista do Joy Division se matou e antes de se enforcar com o cinto pôs “The Idiot” para tocar (mas não foi por isso que o Ian se matou).The Idiot

E para promover o disco o Iggy teve uma ideia genial: chamou o David para ser tecladista e o backing vocal de sua banda. E obviamente Bowie topou, com uma condição: que não fosse revelado que o tecladista misterioso era ninguém mais ninguém menos que David Bowie. Mas isso só durou alguns shows. Descobriram que o tecladista misterioso era David Bowie. Causou um fuá…

Os três discos da Trilogia foram remasterizados nos estúdios Abbey Road de Londres (o mesmo que os Beatles gravaram durante anos e onde os discos da Legião foram remasterizados em áudio digital em 1995) e foram remasterizados em 1999. Fazem parte da “David Bowie Series” da EMI, no qual todos os discos do David Bowie que haviam sido lançado em LP foram remasterizados digitalmente (de “Space Oddity” de 1969 a “Black Tie White Noise” de 1993). O disco ao vivo Stage e a trilha sonora de Christiane F. ganharam edições digitais somente em 2001. A mesma coisa acontece na caixa “Por Enquanto” da Legião Urbana. É só uma dica.

Sangue e lágrimas em Berlim

Berlim, capital da Alemanha. Um lugar dividido por um muro, o famoso e infame Muro de Berlim. Esse muro, erguido em 1961 e demolido em 1989 dividia a cidade de Berlim (que ficava na Alemanha Oriental, consulte um livro de História) em duas partes: Berlim Ocidental (capitalista) e Berlim Oriental (socialista). Ninguém podia pular o muro (o povo queria fugir da influência socialista). Diferente desses muros de escola que dá para se pular, o Muro era uma construção fortemente protegida: apesar de ser baixinho (tinha somente 3 metros de altura), tinha grande extensão (45 quilômetros), muito arame farpado, minas explosivas e havia diversas guaritas com guardas armados com metralhadoras, prontos para metralhar quem ousasse pular o Muro. Muitos que tentaram fugir foram metralhados ou morreram por causa das minas terrestres.

Já que Angela o perseguia, David Bowie chamou Iggy Pop e foi morar na área de influência britânica em Berlim. Primeiro, o cara foi morar no hotel Gehrus. Depois se mandou para um apartamento térreo na Haupstrasse 155, em Schöneberg. Para alguém que ficou em muitos hotéis de luxo, não poderia haver algo pior, um verdadeiro muquifo: o local tinha três quartos, uma cozinha pequena, cortinas pesadas e paredes que deixavam a água entrar em dias de chuva. Mas até que o David gostava: lá em Berlim ele poderia ser ninguém além de David Jones, alguém que ele não era há pelo menos dez anos. Ele passeava sem pressa pelas ruas de Berlim. Somente Corinne “Coco” Schwab (sua assistente e braço-direito) e o próprio Iggy Pop faziam parte do seu círculo pessoal.

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Mas no começo o couro comeu para o seu lado: seus problemas pareciam somente ter mudado de lugar. David era visto constantemente bêbado e vomitava nos becos. Sem contar que constantemente se escondia dentro de um banheiro, longe das vistas de Iggy (que queria se livrar do vício em metadona) e de Corinne para cheirar carreiras de cocaína. Não parecia em nada com um dos maiores astros dos anos 1970, e sim com uma criatura carente que não conseguia dar conta de seus problemas. E “seus problemas” tinham nome: Angela Bowie, cocaína, alcoolismo.

Enquanto essa doidice rolava na vida do David Bowie, uma outra coisa acontecia na mesma Berlim (e do mesmo lado do Muro): Babystrich (prostituição de menores). Já sabem, Christiane F. e as crianças da Bahnhof Zoo. David Bowie teve contato com a triste história da menina que usava heroína e se prostituía para poder pagar sua próxima picada: em “Heroes”, o segundo disco da Trilogia de Berlim tem uma música chamada “Neuköln”, que é o nome da área de Berlim que fica localizado o Conjunto Gropius, onde Christiane morou durante um tempo. E ele se transformou em um personagem do livro “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…”. Um personagem que faz um show e depois dele uma de suas fãs vai se baratinar com heroína. Legal, virar um personagem de livro… Utilizei nessa colagem o cartaz americano do filme (a foto do meio) e as capas (e contracapas) da edição alemã e britânica da trilha sonora do filme. Vou colocar como capa do meu Facebook…

"Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída"

Mas voltando ao David… Vou falar dos três discos e se der espaço, da trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída…”. No mesmo esquema do post nº4 de “Nos Tempos da Purpurina”: títulos coloridos nas cores de cada disco. Tem uma curiosidade na lista das músicas: as que tiverem marcadas com # não entraram nas edições originais, só nos relançamentos. E os discos estão no meu Skydrive, curta, compartilhe e dê seu feedback. A Trilogia que eu escuto é a versão da RYKO inglesa, que vem com algumas faixinhas de bônus.

Waiting for the gift of sound and vision: Low

Low

O primeiro disco do que seria a Trilogia de Berlim foi lançado no comecinho de 1977, uma semana depois do aniversário de 30 anos de Bowie (ele é de Capricórnio, nasceu em 8 de janeiro). “Low” tinha a influência do Kautrock (ou rock industrial) de grupos alemães como Neu! e Kraftwerk que já haviam influenciado “Station to Station”. A capa, tirada de um dos cartazes do filme “O Homem que Caiu na Terra” era um pouco provocativa. O disco surpreendeu todo mundo: a imprensa, os fãs e até a própria gravadora.

Mas a maior provocação não tá na capa e sim dentro do disco: seis das onze faixas são instrumentais. “Low” estava programado para ser lançado no Natal de 1976, mas a gravadora RCA não achava que esse disco seria uma boa opção de presente, de tão bizarro que era. E as letras das músicas (quando tinham letras) eram curtas, discretas, reflexivas. E agora, uma citação de Tony Visconti, co-produtor de Low sobre o clima nas gravações do disco:

“David passava por um período de grande depressão. A gravação de The Idiot, em Paris foi um caos e quase um milagre ter sido finalizada, pois ele estava absolutamente sem condições psicológicas e Low acabou sendo uma continuação do processo.”

Traduzindo: o David não estava legal. E o disco é um tanto esquisito. A voz do Bowie soa um tanto mecânica (principalmente em “Sound And Vision”, “Breaking Glass” e “What in the World”, costumo dizer que parece a voz de vidro quebrando).

Então a crítica caiu em cima do disco com gosto de gás (com gosto de gás quer dizer com vontade). Motivo: o disco se aproximava do que mais tarde se convencionou a chamar de punk e a crítica queria de volta o Bowie elegante de “Young Americans” e “Station to Station”. Agora, a lista das faixas da edição em CD da RYKO (que é a que eu tenho no computador). Para o LP: depois de “A New Career in a New Town”, começa o lado B. Mas como eu pus na edição em CD…

1. “Speed of Life” – 2:46

2. “Breaking Glass” (Bowie, Dennis Davis, George Murray) – 1:52

3. “What in the World” – 2:23

4. “Sound and Vision” – 3:05

5. “Always Crashing in the Same Car” – 3:33

6. “Be My Wife” – 2:58

7. “A New Career in a New Town” – 2:53

8. “Warszawa” (Bowie, Brian Eno) – 6:23

9. “Art Decade” – 3:46

10. “Weeping Wall” – 3:28

11. “Subterraneans” – 5:39

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

12. “Some Are” [#] – 3:16

13. “All Saints” [#] – 3:38

14. “Sound And Vision” [Remixed Version 1991] – 4:42

A versão do disco que eu estou ouvindo é a de 1991, da RYKODISC, com três faixas-bônus. Eu gostei de “Speed of Life”, “Breaking Glass”, “What in the World”, “Sound and Vision” (que tem uma letra miúda e meio doida, mas que ainda assim é legal) “Always Crashing In The Same Car”, “Be my Wife” (na qual o Bowie praticamente suplica: seja minha esposa), “A New Career In A New Town” (que dá nome a esse post), “Warszawa” (o nome em inglês da capital da Polônia, Varsóvia, mas a música está em italiano) e o remix de “Sound And Vision” da versão do disco de 1991. Muito legal, recomento. Juro que não vai tombar festa nenhuma!

Curiosidade: a banda Joy Divison (que mais tarde virou New Order) deveria se chamar “Warszawa” (por causa da música). Mas já tinha outra Warszawa na área. Mais outra curiosidade: é o terceiro disco de estúdio mais vendido na loja de música iTunes (perde para “The Next Day” e “Let’s Dance”).

Neste ano a faixa “Sound And Vision” ganhou uma nova mixagem, feita a partir da gravação original de 1976. Virou um single. O resultado ficou excelente. O link para o vídeo está na capa do single, abaixo.

Sound And Vision 2013

Dann sind wir Helden Für diesen Tag: “Heroes”

_Heroes_

O segundo disco da Trilogia de Berlim (e um dos mais importantes de toda a história do rock) é “Heroes”. Também muito influenciado pelo Kautrock, é o único disco da Trilogia a receber a denominação “Berlin” (por ter sido o único a ter sido gravado integralmente na capital alemã). John Lennon queria que “Double Fantasy”, que foi seu último disco gravado em vida fosse tão bom quanto “Heroes”. Que responsa, hein David?

As fotos abaixo são da sessão para a capa e o encarte do disco. Fotos por Masayoshi Sukita.heroes3heroes2heroes - Cópia

Inclusive a capa de “Heroes” foi ligeiramente alterada e virou a capa de “The Next Day”, o disco que David Bowie gravou depois de dez anos sem lançar nada inédito. E É DESSE ANO DE NOSSO SENHOR DE 2013! Meus amigos reclamam que eu praticamente parei no tempo por ouvir David Bowie, mas David Bowie ainda é atual (tá até na novela das 9, é “The Stars (Are Out Tonight)” porque as estrelas não dormem, nem as mortas nem as vivas)! Apesar de eu não ter gostado muito (a capa de “Heroes” é linda demais!) eu entendi a mensagem da capa. David Bowie está revisitando David Bowie. Nota 7,5. Só o tempo dirá se acertei na nota ou não. Vou dizer as faixas que eu curti: “The Next Day”, “The Stars (Are Out Tonight) ”, “Valentine’s Day ”, “If You Can See Me”, “Dancing Out In Space” e “(You Will) Set The World On Fire”. Já que a crítica é da Trilogia de Berlim não vou entrar em detalhes em “The Next Day”. Mas esse disco tem muitos momentos com o clima frio e triste de Berlim. #TND fica para outro dia. Sem contar a edição “The Next Day Extra” com o disco, mais 7 faixas de bônus e um DVD com os clipes de divulgação do disco. Na capa da edição Extra tem um link para o vídeo de “Love Is Lost”, um clipe que custou a bagatela de 30 reais.

The Next DayThe Next Day Extra

Talvez “Heroes”, ao lado de “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, seja o trabalho mais influente do David Bowie. As camadas de som, que foram muito exploradas no disco anterior são exploradas ao extremo aqui, em “Heroes”. É um disco interessante de se ouvir. A maioria das músicas são animadas com esperança, exceto “Sense of Doubt” e a tal “Neuköln” (que é depressiva). Com a voz de David às vezes soterrada por camadas de sons, às vezes sintetizada (como em “Beauty And The Beast” e “Blackout”) e às vezes com uma força assustadora, como que emergindo das sombras (vide “Heroes”, o single do disco e “Sons of Silence Age”) e às vezes sem voz (esse disco tem quatro instrumentais). Lista de músicas abaixo (a do CD). No LP: depois de “Blackout” começa o lado B:

1. “Beauty and the Beast” – 3:32

2. “Joe the Lion” – 3:05

3. “‘Heroes'” (Bowie, Brian Eno) – 6:07

4. “Sons of the Silent Age” – 3:15

5. “Blackout” – 3:50

6. “V-2 Schneider” – 3:10

7. “Sense of Doubt” – 3:57

8. “Moss Garden” (Bowie, Eno) – 5:03

9. “Neuköln” (Bowie, Eno) – 4:34

10. “The Secret Life of Arabia” (Bowie, Eno, Carlos Alomar) – 3:46

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

11. “Abdulmajid” (Previously Unissued Track – Recorded 1976 – 1979) [#] – 3:36

12. “Joe The Lion” (Remixed Version – 1991) – 3:09

Sobre a faixa-título: foi inspirada num fato real. David Bowie, quando ia para o Estúdio Hansa para gravar (o estúdio é perto de um trecho do que sobrou do Muro de Berlim) viu uma cena que lhe chamou a atenção. Um rapaz estava no Muro falando com uma garota que estava do outro lado. Passou de novo e viu a mesma cena e assim durante vários dias. Então, resolveu fazer uma letra e Brian Eno fez a melodia. A letra, apesar de melancólica e cheia de metáforas, transmite esperança. Não só de que os amantes do Muro se unam pelo menos uma vez, mas de que a Guerra Fria acabe, o Muro caia e que haja liberdade. Podemos ser heróis, mesmo que por um dia.

Bowie ficou chocado quando, andando a pé pelos arredores do estúdio Hansa, viu seu nome entre duas suásticas. Ele queria mostrar que “Heroes” era uma homenagem a uma Alemanha dividida e destroçada pela Segunda Guerra.

Como “Low”, a versão de “Heroes” é a de 1991, com duas faixas de bônus. As minhas favoritas são “Beauty and the Beast” (animada até o tutano dos ossos), “Joe the Lion” (apesar de ser animada, trasmite melancolia), “Heroes” (a versão completa é demais, arranca lágrimas), “Blackout” (gostei, apesar de não ter conseguido acompanhar a música), “V-2 Schneider” (praticamente um instrumental, a única frase é o nome da música), “Neuköln” (um instrumental climático), “The Secret Life Of Arabia” (apesar de ter uma letra mais indecifrável que a de “Hang on to Yourself”) e o remix de “Joe the Lion”. Essa também não tomba festa!

Curiosidade: Bowie regravou “Heroes” em alemão (Helden) e em francês (Les Heros). A regravação em alemão está no lado B do single “Heroes” que foi lançado na Alemanha Ocidental. É mais famosa a versão em alemão por causa de “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” (está numa das cenas mais legais do filme quando a turma do Sound faz um assalto no Europacenter, um shopping de Berlim). “Heroes/Helden” está na trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” e a versão em alemão está no disco “Bowie Rare”, de 1982. Ainda sobre “Heroes”: David Guetta remixou a faix-título com o nome de “Just for One Day (Heroes)”. Apesar de ficar somente repetindo a frase “We can be Heroes, just for one day”, é uma versão que merece ser conferida. Aparece na coletânea “F**ck Me, I’m Famous”, de 2002 e na versão em DVD da coletânea “Best of Bowie”, também de 2002. Se não aguenta esperar, a versão remixada está nesse link e na capinha abaixo, do single.

Just for One Day (Heroes)

DB on Stage

Stage (Live) [Remastered]

O nosso querido David Bowie se meteu na estrada junto com sua banda com a Isolar II ou Low and “Heroes” Tour. O clima no David era bem melhor: segundo Natasha Korniloff (figurinista e grande amiga de Bowie desde a época de “Pierrot in Turquoise”, de 1967), ela encontrou um David saudável, em excelente forma e com ideias gigantescas (e bem mais feliz, vide as fotos abaixo). A turnê Isolar II foi a grande volta para o David Bowie. Depois de uma turnê praticamente em preto e branco e com luz branquela (a Isolar I), a Low and “Heroes” Tour é bem colorida. O palco tinha tubos de neon. Um clima bem solar em relação a Isolar I.

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A gravadora pressionou o David para que gravasse um disco ao vivo como uma espécie de tapa-buraco. Na Filadélfia, onde foi gravado “David Live” (de 1974).

O disco foi gravado exatamente na ordem inversa, já que ele e Visconti começaram a mexer primeiro nas músicas velhas para depois chegar às recentes, que foi corrigido nas versões posteriores do disco.

Como o disco foi feito para cumprir o contrato com a gravadora, David não deu muita bola a ele, apesar de ser extremamente bem gravado e com grandes versões de “Heroes” e “Station to Station” (que entrou na trilha sonora de Christiane F.). A ordem do disco em CD:

Disco 1:
1. “Warszawa” – 6:47
2. “Heroes” – 6:11
3. “What in the World” – 4:17
4. “Be My Wife” [#]– 2:36
5. “Blackout” – 3:53
6. “Sense of Doubt” – 3:07
7. “Speed of Life” – 2:40
8. “Breaking Glass” – 3:22
9. “Beauty and the Beast” – 5:01
10. “Fame” – 4:03
Disco 2:
1. “Five Years” – 3:58
2. “Soul Love” – 2:55
3. “Star” – 2:26
4. “Hang on to Yourself” – 3:22
5. “Ziggy Stardust” – 3:28
6. “Art Decade” – 3:01
7. “Alabama Song” [Aufstieg Und Fall Der Stadt Mahagonny] – 3:56
8. “Station to Station” – 8:41
9. “Stay” – 7:18
10. “TVC 15” – 4:33

Look Back in Anger: Lodger

Lodger [Bonus Tracks]

David voltou a morar em Nova York em 1979. Depois de seu segundo filme que havia sido gravado em Berlim (Apenas um Gigolô, 1979) ele voltou para os EUA. Limpo, mais saudável e com a guarda do filho, Joey (David mudou o nome do filho depois que conseguiu a guarda, de Zowie para Joey). E para comemorar, gravou um disco com Brian Eno. Em time que está ganhando não se mexe! A lista das músicas se segue. Para o LP: o lado B se inicia depois de “Red Sails”:

1. “Fantastic Voyage” – 2:55

2. “African Night Flight” – 2:54

3. “Move On” (Bowie) – 3:16

4. “Yassassin (Turkish for Long Live)” (Bowie) – 4:10

5. “Red Sails” – 3:43

6. “DJ” (Bowie, Eno, Carlos Alomar) – 3:59

7. “Look Back in Anger” – 3:08

8. “Boys Keep Swinging” – 3:17

9. “Repetition” (Bowie) – 2:59

10. “Red Money” (Bowie, Alomar) – 4:17

Faixas-bônus (RYKO, 1991):

11. “I Pray Olé” [#] [Ryko Edition Only] – 3:56

12. “Look Back in Anger [New Version Recorded 1988]” – 6:58

A capa de “Lodger” é particularmente chocante: David está caído num banheiro, com uma coisa semelhante a uma seringa espetada em um dos seus braços (é uma seringa mesmo, ela faz sombra) e com uma cara de morto. Ao ver essa capa me lembrei de uma frase que apareceu no livro da Christiane F.: “Os drogados morrem sós. Mais frequentemente em banheiros fedorentos.”. Minha interpretação dessa capa: faz referência aos jovens viciados em heroína que morreram de overdose em banheiros em Berlim, ou aos que morrem sós sem amparo. A foto completa é uma espécie de cartão-postal com a palavra Lodger em inglês, francês, alemão e japonês (Lodger quer dizer inquilino). Tem até lugar para pôr o selo. Um cartão-postal desses eu não dispensava.1979 - Lodger - Front 2

Apesar de ser um disco mais pop em relação aos anteriores, não perde a veia experimental. Achei genial. Pegou todas as referências que Bowie teve durante os três anos de Berlim: viagens fantásticas por lugares fantásticos.

Do mesmo jeito que os discos anteriores, estou ouvindo a edição da RYKODISC, de 1991, que só tem duas faixas a mais em relação ao original. Eu gostei de “Fantastic Voyage” (é uma viagem, no bom sentido), “African Night Flight” (a pessoa se sente no meio de uma savana), “DJ” (o clipe é doido, o David detona um estúdio de gravação), “Look Back in Anger” (uma amiga minha sempre acha que essa é do Oasis), “Boys Keep Swinging”, (rebolante e que fala de disparidades de gêneros) e a versão de 1988 de “Look Back in Anger” (não tomba festa!).

Bending sound: Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)

Christiane F._ Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from

E não é que deu espaço para caber a soundtrack de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída”? Muita gente acha essa trilha sonora um dos melhores discos do David Bowie, apesar de ser uma compilação. Motivo: a escolha das músicas que integram esse disco combina com os momentos do filme. Músicas abaixo:

1. “V-2 Schneider” (de “Heroes”, 1977) – 3:12
2. “TVC 15” (Single Version de “Station to Station”, 1976) – 3:35
3. “Heroes/Helden” (de “Heroes, 1977) – 6:08
4. “Boys Keep Swinging” (de “Lodger”, 1979) – 3:18
5. “Sense of Doubt” (de “Heroes”, 1977) – 4:01
6. “Station to Station” (de “Station to Station”, 1976 mas versão tirada do disco “Stage”, 1978) – 8:49
7. “Look Back In Anger” [US Single Version] (de “Lodger”, 1979) – 3:08
9 “Stay” [US Single Version] (de “Station to Station”, 1976) – 3:23
10. “Warszawa” (de “Low”, 1977) – 6:16

Revisitando a história de Christiane e que diabos ela tem a ver com o David Bowie (se você digitar no Google Christiane F. vai encontrar como um dos resultados de pesquisa David Bowie): em 1976, durante um show da Isolar I (turnê do disco “Station to Station”) a jovem alemã Christiane F. cheirou heroína pela primeira vez e começou aí sua dramática experiência no submundo do vício. Perdeu a confiança da mãe, do pai, e alguns amigos para a heroína. Christiane começou a vender seu corpo e sua dignidade por cerca de quarenta marcos na Estação Zoo de Berlim. Como eu disse lá em cima,  David Bowie teve contato com essa história no período em que morou em Berlim (1977 a 1979, “Wir Kinder vom Bahnhof Zoo” saiu em 1979 e foi traduzido primeiro para o inglês). E provavelmente enquanto passeava pela capital alemã ele deve ter visto a menina drogada e prostituída aos 13 anos, que era sua fã. (Antes que eu esqueça: é o David Bowie mesmo que aparece no filme e a sua banda de verdade na época do início dos anos 1980!). Essas fotos aparecem no filme (não estão na ordem, desculpa) e se quiser ver a parte do show no filme clique nesse link. tumblr_moyf60jMUY1s8jasmo2_1280tumblr_mj8dbgd0OZ1r425d9o1_500tumblr_moyf60jMUY1s8jasmo1_500Christiane-F-2tumblr_lzsbciC7lv1qflt1lo1_r1_400M8DCHFF EC001cristiana_f_noi_i_ragazzi_dello_zoo_di_berlino_nadja_brunkhorst_ulrich_edel_009_jpg_xpnu2014_cbc5_960

David Bowie (como ele mesmo) e Natja Brunckhost (como Christiane F.): os anjos do pó, 1980. David Bowie aceitou de bom grado fazer ele mesmo no cinema. Inclusive é creditado no filme como ator e autor da trilha sonora. Como David não podia sair de NY (pois estava numa peça da Broadway, “O Homem Elefante”), a equipe alemã do filme Christiane F. teve que levar uma pequena parte do elenco para os EUA, e gravar as tomadas do que seriam o show lá. O show (que não era de verdade) foi gravado com um playback de “Station to Station” (tirado do disco “Stage”, de 1978), mas parece que o David cantou de verdade e sua banda tocou de verdade. Os críticos dizem que é a melhor OST (Original Sound Track) feita por David Bowie, pois as músicas combinam com os momentos do filme: animada na Sound, triste quando Christiane tenta se matar com uma superdose. Melhor que “Labyrinth” (1986) (que não foi feita somente por Bowie) e “Budda of Subburbia” (1993) (que apesar de ter canções feitas especialmente para essa série da BBC, não ficou muito criativo o resultado).

As faixas desse disco foram tiradas dos discos “Station to Station”, “Low”, “Heroes” e “Lodger”. O disco tem os momentos que lembram a discoteca Sound (“a mais moderna da Europa”) ao som de “V-2 Schneider” (“Heroes”), da versão do single de “TVC 15” (Station to Station), a versão de single de “Look Back in Anger” (Lodger), “Boys Keep Swinging” (Lodger) e a versão de single de “Stay” (Station to Station). Mas os momentos mais tristes da trajetória de Christiane também tem trilha sonora, com “Sense of Doubt” (“Heroes”) e “Warszawa” (“Low”). Os picos desse disco são a versão bilíngue de “Heroes” (com o lado B do single na Alemanha Ocidental, uma versão em alemão de “Heroes”, “Helden”) e a versão ao vivo de “Station to Station” (de “Stage”), que inclusive é citada no livro.

“Quando David Bowie começou, foi sensacional. Exatamente do jeito que imaginei. Fantástico. Mas nos primeiros acordes de ‘It’s too late’ (uma parte de Station to Station) me inquietei. Aí fiquei, de repente, na pior. Já nas últimas semanas — sem saber como, nem por quê — esta música me dava uma imensa tristeza. Acho que ela descrevia exatamente a minha situação. Bem que eu estava precisando de Valium…”

No filme algumas músicas foram ligeiramente alteradas, subiram meio tom para dar um clima de discoteca mesmo. Já no disco ficaram do jeito que foram gravadas originalmente. Sem contar que teve uma faixa que não entrou na trilha sonora: “Neuköln”, de “Heroes”, bem emendada com “Sense of Doubt”.

Influência da Trilogia de Berlim

A influência da Trilogia de Berlim é enorme. A trilogia berlinense causou efeitos em todas as gerações seguintes de músicos que escutaram estes discos, e até hoje se mostra relevante. Seja tirando experiências da própria vida que Bowie levava na época (a luta contra as drogas e a canalização do vício para uma produção criativa – crises tão comuns e viscerais) ou como influência sonora (sua esperta mistura de gêneros e sua vontade de brincar com o experimentalismo),Low, “Heroes” e Lodger formam uma verdadeira trinca de ouro da música moderna que continuará inspirando músicos e artistas por muito tempo.

“Sem o disco Low, nós não teríamos o Joy Division, o Human League, o Cabaret Voltaire e muito menos o Arcade Fire. A lenda ainda vive”, como disse um crítico do site Pitchfork Media. É muita coisa.

“Heroes”, é considerado pelo próprio DB como um de seus melhores discos. Não é um dos melhores, é o melhor. Toda vez que escuto a faixa-título me arrancam lágrimas. Até o John Lennon achou esse disco demais!

Apesar de Lodger não ter feito tanto sucesso quanto os seus antecessores, é um disco interessante e divertido (apesar da capa chocante). É pop e cult ao mesmo tempo. É um dos pilares da música pop.

O compositor erudito Philip Glass fez uma adaptação para a música clássica dos dois primeiros discos da Trilogia: a Symphony nº1 ou Low Symphony e a Symphony nº4 ou ‘“Heroes” Symphony. Eu gostei, mesmo não sendo muito fã de música clássica. Esses dois discos e o “Symphonic Music of the Rolling Stones” me aproximaram um pouco mais da música clássica. Se não tiver paciência para ouvir as duas sinfonias completas (vou avisando que a Low Symphony tem apenas 3 faixas, mas elas tem mais de 15 minutos cada), indico “All Saints”, uma coletânea de instrumentais que tem parte da sinfonia de Low e de “Heroes”.

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Aqui é Berlim

A trilogia de Berlim, não tenho palavras para descrever o quanto esses discos mudaram a música.

O Caboclo que Caiu na Terra ou Somos todos Estrangeiros

Kids queridos, depois de um looooooooooooongo exílio, eu voltei. Usando a fonte Segoe Print, minha favorita quando escrevo sobre David Bowie vou falar do filme “O Homem que Caiu na Terra”. Vi durante as férias. Minhas maninhas viram mais vezes que eu. Uma das cenas do filme foi fotografada e virou a capa de “Station to Station” (1976). E não para por aí. Inclusive o primeiro pôster virou a capa do disco “Low” (1977). Quando eu for falar da Trilogia de Berlim vocês vão saber que diacho é isso.

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Cartazes do filme “O Homem que Caiu na Terra”, de 1976. O tipo de letra usado no nome “The Man Who Fell to Earth”, você já deve ter visto em alguma camiseta do Iron Maiden.

Antes de tudo, vamos às informações sobre esse filme:

Título: O Homem Que Caiu na Terra (The Man Who Fell to Earth)

Diretor: Nicolas Roeg

Roteiro: Paul Maysberg, baseado no romance de Walter Tevis

Elenco: David Bowie, Rip Torn, Candy Clark, Buck Henry

Produção: British Lion Film Corporation, Cinema 5

Distribuição: The Criterion Collection

Ano: 1976

País: Reino Unido

Duração: 125 minutos (aproximadamente)

Censura (no Brasil): 18 anos (Nudez e cenas de sexo explícito)

O filme é muito sério (o Bowie não dá nem um sorrisinho durante todo o filme). Eu fiz uns comentários engraçados nas caixinhas só para quebrar o gelo. Eu gostei do filme, aborda a temática da solidão e do “ser estrangeiro”: se sentir perdido em uma terra que não é a sua. Quem nunca se sentiu um estranho, mesmo no meio em que vive? Thomas Jerome Newton, o protagonista dessa história, se sente perdido e atordoado na Terra. Mesmo que tente voltar ao seu planeta natal, se sentirá preso à Terra. Mas ele jamais voltará ao lugar de onde veio.

Diferentemente da maioria dos alienígenas do cinema Tommy é um ser frágil, passivo e indefeso. E diferentemente de Ziggy Stardust, outra figura alienígena que foi encarnada por Bowie nos anos 1970, aparentemente não tem a carga sexual excessiva (aparentemente, mas depois tem cenas de sexo que fariam Ziggy corar seu rosto branco). Tommy é dotado de uma pureza e de uma ingenuidade que dão até dó. Seus valores não se ajustam aos dos humanos com os quais convive. A sua companheira humana Mary-Lou o encaminha no vício: a televisão e o gim (uma bebida alcoólica fortíssima e altamente viciante) e acaba se tornando a perdição de Tommy. Por causa de Mary-Lou Tommy ‘se esqueceu’ da esposa e dos dois filhos que estão o esperando. A vida de humano o seduziu.

O filme, baseado num romance de ficção científica de Walter Tevis, conta a história de um alienígena humanoide que veio para a Terra em missão de paz (levar água ao seu planeta natal): usando o nome Thomas Jerome Newton e um passaporte inglês, aparece de repente numa cidade no meio do nada chamada Haneyville e vende um punhado de anéis para poder ir para Nova York. TMWFTE-1

Aquele lá em cima sou eu!

Thomas (ou Tommy) fisicamente se parece com um ser humano normal de vinte e poucos anos (exceto pela parte de que esse “ser humano normal” é o David Bowie). Apesar de seu jeito meio estranho, o homem que caiu na Terra parece ser normal. Sua única mania: beber água. De qualquer canto: se derem água de esgoto, o Tommy bebe e com gosto. Mesmo.

Poor Tommy has such a hard time with our gravity. Lying atop him would be a very bad idea.

Olha a água mineral. Você vai ficar legal!

Quando consegue uma grana se manda para Nova York. Entrega seu tesouro (uma pasta cheia de papeis) para o advogado de patentes Oliver Farnsworth e ainda lhe promete 5% da empresa e 10 % dos lucros. As nove patentes básicas eram revolucionárias e fariam as grandes corporações se tornarem obsoletas (para os anos 1970, hoje em dia seriam café pequeno). E com essas patentes, Newton monta seu conglomerado, a World Enterprises. Que lhe rende uma grana preta, 300 milhões em apenas três anos, só isso. Tá bom pra você?An alien in a fedora

Thomas Jerome Newton: O homem à base de água…

E começa The Rise and Fall de Ziggy…ops, de Tommy. O nosso alienígena bonzinho comanda seus negócios de dentro de uma limusine (que tem uma antena e um telefone!). Quando estava vendo essa parte, me lembrei de uma música do Iggy Pop, “The Passenger” (que tem uma versão em português chamada “O Passageiro”, do Capital Inicial), “I am the passenger/And I ride and I ride” (a tradução ficou assim: “Eu sou o passageiro/Eu rodo sem parar”).

O Tommy fica rodando feito um doido no banco de trás da sua limusine (ele tem um motorista!) por paisagens desérticas e bebendo muitos copos de água do frigobar (daí a a legenda: o homem à base de água). E comandando seus negócios por telefone.

Nesse meio tempo, aparece Nathan Bryce, um professor de química divorciado que gosta de transar com as suas alunas. E que quer trabalhar na World Enterprises, pois se sente insatisfeito com o emprego na universidade em que dá aulas e com o seu chefe, Canutti.

Um lindo dia, o Tommy fica entediado de ficar só rodando e resolve ir para um hotel. Com o nome de Mr. Sussex vai para um quarto. Mas o cara passa mal no elevador (passa mal é eufemismo, o cara parece que tá morto).

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Ai, meu Deus, o cara morreu! Chama o rabecão!

É atendido por uma garçonete mega ultra carente chamada Mary-Lou. A mulher é viciada em televisão e gim (teor alcoólico de 43%, tá bom pra você?). Os dois ficam conversando como se não houvesse amanhã.

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Como dívida de gratidão, Tommy chama Mary-Lou pra ir rodar com ele. Mas Tommy já é casado e pai de família lá no planeta dele. A sua missão é levar água pra sua família, os únicos sobreviventes naquele planeta árido. E aos poucos, Thomas Jerome Newton começa a esquecer do que veio fazer na Terra.

Mary-Lou leva o Tommy para a igreja. Eu achei essa cena muito boa, porque pessoas normais pensam que em filme que apareça um cantor, ele tem a obrigação de dar um show, se tiver que cantar. Nesse filme, não. O David nessa cena canta mal porque ele não é o David, em cena é o Tommy. E o Tommy não é o David Bowie, o cantor que surpreende até menininhas do século XXI como eu.TMWFTE-4

Passa um tempo. Tommy e Mary-Lou vivem um romance terno e quase sem-graça, quase uma obrigação contratual. Mas que pega fogo debaixo dos lençóis. Pega fogo mesmo.

Umas das cenas mais legais do filme (e que tem um pouco de putaria), é o Tommy dando uma desculpa para Mary-Lou: não sabe como se secar (provavelmente porque nunca tomou banho na vida). E a mulher, paciente, ajuda o seu parceiro de outro mundo a se secar. A cena no qual os dois estão no seu ninho de amor, intercalada com uma cena em que Tommy dá de presente a Mary um telescópio, é uma das mais fodonas de todo o filme. O diretor Nic Roeg conseguiu tirar poesia de uma cena de sexo…

Tem outra cena proibida para menores que eu gosto. Mas vou contar mais na frente. the man who fell to earth

Em outro filme em que o David atua tem um fenômeno parecido. O diretor de “Fome de Viver” Tony Scott fez uma coisa semelhante (tirar poesia de uma cena de putaria): numa cena em que Miriam Braylock (Catherine Deneuve) e John Braylock (David Bowie) estão tomando banho (juntos) depois de uma caçada (os dois foram para uma boate que tava tocando Bauhaus, o casal seduz dois incautos, os matam e se alimentam do sangue deles. Simples, não?). Obviamente os dois são vampiros e estão juntos há cerca de 300 anos (e nunca tiveram uma DR, incrível). John diz a Miriam “Para sempre?”, ela responde “O quê?”, ele continua “Para todo o sempre” e os dois se beijam. Detalhe: os dois estão pelados, debaixo de um chuveiro e estão juntos de uma maneira tal que não sabemos onde começa Miriam e termina John. Para mim é o símbolo de um amor que deveria durar para sempre, até que o John começa a ficar velho de uma hora para outra…e não vou estragar a surpresa. Assista.

Mas voltando ao Tommy e a Mary-Lou: os dois vão morar juntos em uma linda casinha com uma temática japonesa perto de onde Tommy caiu. Parece um casamento normal. Mas nada que tenha o dedo do David Bowie é normal.

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Inclusive uma das fotos do filme virou uma montagem, que está na exposição “David Bowie is…”. Quando essa exposição vier ao Brasil você pode conferir de pertinho.

Fica com vergonha, não.

Depois de algumas ceninhas de sexo entre Tommy e Mary-Lou, o “casamento” começa a desandar: o alienígena bonzinho começa a ver muita televisão a ponto de não conseguir sair da frente do mural de televisões. Vicia mesmo. E não liga mais para a sua querida Mary-Lou. Só pras suas tvs e pro seu gim (Anotaçãoele aprendeu a beber…). Uns dizem que a cena em que Tommy aparece em frente às suas tvs e quase pira inspirou uma das músicas de “Station to Station”: TVC 15.

Mulher, sai do meio. Tá passando um monte de coisas e eu quero ver todas!

Mas isso não é o pior: Mary-Lou quer ir pro banheiro. Tommy tá lá dentro há muito tempo. Cansado de ser David Bowie, Tommy resolveu despir-se da pele do Camaleão e foi ser ele mesmo. Despiu-se mesmo.

Mary força a porta do banheiro e a abre. E se espanta: Tommy não é desse planeta!

Mas depois o casal tem uma DR. Tommy não explica o que é de verdade (na lata), mas dá pistas. E tem que voltar a vestir a pele do Camaleão, porque sendo o que é de verdade tem atratividade zero para Mary-Lou. Nível de sex-appeal negativo.

Mas o couro começa a comer para o casal Tommy e Mary-Lou. A cena mais bizarra é a retratada nas fotos abaixo. Tommy, puto com a sua companheira humana, taca a mão na travessa de biscoitos que ela está carregando. Diz que quer se separar e promete a Mary uma grana preta, mas ela não aceita (os dois vivem em comunhão de bens, quase um casamento).the man who fell to earth7

Querida, precisamos conversar. Sabe, eu vim de outro planeta e você descobriu o meu segredo. Que tal terminarmos com isso e cada um seguir a sua vida? Te deixo uma grana preta, um disco meu autografado e nos separamos.

Se em casa as coisas não iam lá muito bem, os negócios da World Enterprises estão indo muito bem, obrigado. Agora, no ramo aeroespacial. Thomas Jerome Newton constrói sua cápsula para levar água ao seu planetinha natal. E tenta partir para o seu lar, onde sua esposa e seus dois filhos estão o esperando.

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Nathan começa a ficar desconfiado de que Tommy não é que nem todo mundo. Passa um raio-X no dono da empresa em que trabalha e descobre que o cara não tem nenhum osso aparente. Mas o Tommy descobre a armação (além de manter o corpinho de David Bowie eternamente jovem, ele consegue ver raios-X, para ele é uma luz cegante) e abre o jogo. Seu segredo está ameaçado.

Ele tenta partir para seu planeta natal, mas é pego por uma armadilha armada pelo governo, Farnsworth é morto com o seu amante Trevor, a World Enterprises vai à falência e Mary-Lou se casa com Nathan Bryce. Tommy é levado a um hotel, no qual é mantido em cárcere privado e submetido a montes de experiências dolorosas. Do tipo: pegam um bisturi e enfiam nos mamilos para ver se sai sangue (só para constar: sai e não é azul)…

Abra a boca, Tommy.

Para fazer todos os exames teremos que te embebedar, sr. Newton. Quer um pouquinho mais de gim?

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Calma, gente. Eu mesmo tiro as minhas lentes.

Não faz isso, por favor! Vou ficar cego! Já basta um dos meus olhos ser quase cego! Vocês humanos são maus comigo!

Passa mais um tempo. Mary-Lou tá velha, casada e baranga e o Tommy já está há muito tempo em cárcere privado e sem pegar nada, nem mesmo resfriado. Com um pouco de fome e tédio, resolve ameaçar a sua mulherzinha humana com um revólver. Detalhe: ela tá só com uma banana e o Tommy tem nas mãos uma arma de fogo altamente letal. É interessante o discurso que Tommy dá para Mary-Lou: “Eu poderia te matar bem aqui nessa cama. E aí eles te levariam embora e me trariam outra garota”. Muito bonito, T.J.N. O que a falta de mulher não faz com o alien…the man who fell to earth3the man who fell to earth4the man who fell to earth5 Thomas-Jerome-Newton-the-man-who-fell-to-earth-19403735-496-330

Querida Mary-Lou, você vai morrer. Sabe, o nosso ‘casamento’ andou abalado depois que você descobriu o que sou de verdade. Não te amo mais do jeito que eu te amava há, sei lá quantos anos. Durma bem. T.J.N

Mas a porra da arma não atira?! E gera a outra cena de putaria que eu citei lá em cima, só que sem poesia (tem uma baita selvageria): os dois transam e ficam brincando com a arma. Detalhe: segundo Angie Bowie “[…] Seu orgulho pelo tamanho e potência de seu equipamento sexual é obviamente justificável (nesse caso, o orgulho é do David)” (Bowie, Angela; Patrick Carr. Backstage Passes – Life on the Wild Side With David Bowie. Nova York: Cooper Square Press, 2001). E na cena de Tommy brincando com o revólver mostra o tal “equipamento sexual” do David. Por isso se justifica a censura 18 anos.

Depois Tommy tenta presentear Mary-Lou com a única coisa que realmente pertencia a ele: um anel (um dos anéis que ele vende no começo do filme e com ele consegue uma grana preta). Mas ela reclama que o anel não serve e sai, em prantos.

Mas a putaria termina aí. Passa mais um tempo. Mary-Lou, mais velha e baranga do que nunca compra de presente de Natal uma garrafa de gim. E a aproveita ao lado de seu marido, que parece um cacareco.

Nathan vai para uma loja de discos. Eu notei que tinha um anúncio do disco “Young Americans” no alto. O Nathan presta atenção em um disco, cujo o nome é “The Visitor” (literalmente O Visitante). Vai atrás do Tommy e lhe pergunta porque gravou um disco. Tommy responde que provavelmente sua esposa irá ouvir pelo rádio (mesmo sabendo de antemão que ela e seus filhos estão mortos). E depois o filme acaba. Provavelmente Tommy passará o resto dos seus dias na Terra como um bêbado com o rosto do David Bowie.16The Man Who Fell

Depois do Homem que Caiu na Terra…

Depois do fim das gravações do filme o David chamou a sua banda e foi gravar “Station to Station”. As gravações duraram APENAS 10 dias, pois as músicas que iriam entrar na trilha sonora de “O Homem que Caiu na Terra” entraram nesse disco. As exceções são “Station to Station”, “Golden Years” (há uma disputa entre Angela Bowie e Ava Cherry pelo posto de ‘musa inspiradora’. Na introdução de “Backstage Passes” Angela conta que David cantou “Golden Years” pelo telefone para tentar reconquistá-la), e “Wild Is The Wind” (que, mais uma vez, é um cover). Pouco tempo depois do lançamento do filme, “Station to Station” foi lançado, em janeiro de 1976. As duas capas do disco remetem diretamente ao filme “O Homem que Caiu na Terra”.

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Capa original, de 1976. Essa capa está na edição de luxo. Mais embaixo posto foto da edição completa.

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Capa do relançamento, nesse caso de 1991. Infelizmente, só tem importado. A edição de luxo, lançada em 2010 tem um show na íntegra: o show no Nassau Coliseum em 1976.

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Esse é o meu papel de parede do computador.

Na opinião dos críticos é um dos discos mais acessíveis, mas ao mesmo tempo mais complicados da discografia de David Bowie. É acessível por causa das baladas românticas e pelo som (funk misturado com sons eletrônicos). É complicado pela enorme quantidade de referências: vão da cabala ao cristianismo, passando pelo ocultismo, pela filosofia de Nietzsche e o seu super-homem. Em “Station to Station” o David inaugura uma persona nova, a persona que tem mais a ver comigo: o nosso querido Duque Magro e Branco, The Thin White Duke. Olha uma das fotos do lançamento e uma das minhas favoritas do Bowie: censura 18 anos.

O Duke, ditador do inferno do rock (segundo um site), é a mais cruel e terrível persona artística do David Bowie (e por sinal, a sua última). É uma espécie de ‘evolução’ do Blue Eyed Soul Boy (Garoto Soul de olhos azuis, a persona de Young Americans, um Bowie americanizado que cantava soul e funk) com uma mistura com o personagem Thomas Jerome Newton, do filme “O Homem que Caiu Na Terra” (um ‘homem’ meio frio e que transava por prazer, puro e simples). The Duke incorporou o estilo de cantar e o estilo musical da persona anterior. E com isso, faria a América pagar os seus pecados. O Duke incorporaria o antigo Bowie e que seriam dramaticamente diferentes dos Bowies anteriores. Nas roupas, na voz, nos trejeitos, em tudo. Nas fotos de divulgação de #StationtoStation, Bowie aparecia de maneiras esquisitas. Como nessa foto da edição japonesa: a não ser que você não tenha reparado, o Bowie está vestido somente com uma jaqueta da RAF (Real Força Aérea) estendida sobre seus ombros, com as mãos algemadas cobrindo o seu sexo. Se alguém souber japonês, por favor traduza e mande nos comentários.

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O Duke é descrito por alguns biógrafos de Bowie como “um aristocrata louco”, “um zumbi amoral” e até de “super-homem ariano sem emoção” (aí já é demais), para Bowie não era nada além de “um personagem desagradável”. Alguns acham que é uma extensão do Thomas Jerome Newton do filme que numa parte grita pela sua querida Mary-Lou (sua amante). Muitos classificam “Station to Station” como um álbum de canções de amor e um disco de transição: do plastic soul para o Kautrock ou Kraft rock cheio de texturas e sons que ele faria na Trilogia de Berlim (vou falar desses discos, vou avisando!). Essa persona (Thin White Duke) se tornou uma espécie de apelido para o David Bowie. O nome original do disco “Station to Station” seria o primeiro verso da música homônima: “The return of the Thin White Duke”.

Mas depois de uma treta que o DB teve com a CIA…bom, essa história é pra mais tarde!

Nos tempos da purpurina parte V: Ziggy 2.0

kwest“Crack, baby, crack, show me you’re real” (Cracked Actor, 1973)

Com essa postagem espero terminar o assunto “Nos Tempos da Purpurina”. Foi uma série de postagens muito proveitosa e divertida. Mergulhei de cabeça nessa história. Mais um pouco eu teria cortado meu cabelo e pintado de vermelho e descolorido as minhas sobrancelhas.

A maior parte do material que eu pesquisei estava em inglês e eu tive que mentalmente traduzir tudo, isso ajudou a aumentar o meu vocabulario. Aprendi palavras como “faggot” (boiola), “outrageous” (ridículo), “tramp” (vagabunda), “swishy” (afrescalhado), o que significava a expressão “Hunky Dory” (tudo em cima), o que é um bootleg (lançamento extraoficial de algum disco). Admito que aprendi palavras não muito delicadas, mas essas palavras que aprendi não se aprende nem na escola nem em curso, certo?

Vi muito material de arquivo: alguns shows que estão disponíveis no Youtube (tem poucos registros em vídeo porque nessa época era muito complicado gravar, não existia celular com câmera e as câmeras eram pesadas demais), documentários da BBC (Cracked Actor, de 1975 e David Bowie and the Story of Ziggy Stardust, de 2012) e um filme chamado “Love you till Tuesday”, de 1967 (que é mega bizarro!). Vi esse filme para ver como foi que o David Robert Jones passou de um rapaz mod loirinho para…bem, David Bowie. Esse “Love you till Tuesday” é mega bizarro: nele o David canta, faz mímica e representa o personagem mais difícil da vida dele: ele mesmo, David Bowie.

Ouvi cerca de 13 discos, de “David Bowie” (1967), “Space Oddity/Man of the Words, Man of the Music” (o segundo nome é da edição americana, de 1969), “The Man who Sold the World” (1970), “Hunky Dory” (1971), “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1972), “Transformer” (de Lou Reed, 1972), “Aladdin Sane” (1973), “Pin Ups” (1973), “Diamond Dogs” (1974), “David Live” (1974), “Station to Station” (1976), “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture” (1983), “Santa Monica ‘72” (2008). Para ter uma ideia, comecei a sonhar com “Ziggy Stardust” todas as noites. Pelo menos isso ajudou a enfrentar uma gripe e uma crise de depressão. Eu tinha com o que me entreter.

Se Ziggy Stardust fosse nos dias atuais, teria Twitter, Facebook e compartilharia fotos cheias de efeitos no Instagram. Dei uma editada numas fotos de shows com uns efeitos semelhantes aos que são usados no Instagram. Editei no Picasa. Eu gosto mais da primeira! Nas legendas colocarei informações como os efeitos utilizados em cada foto, informações sobre os shows, só para enriquecer. Alienígena

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David Bowie metendo os dentes na guitarra de Mick Ronson. Arregaça essas calça aí, David! Depois do showzinho feita no Oxford Town Hall, a performance em que os dentinhos do David encontram as cordas da guitarra de Ronson (e a guitarra está sempre no mesmo lugarzinho…) foi copiada durante a maioria dos shows da turnê. E aprimorada. A mais bizarra foi registrada em uma foto em que a guitarra do Ronno (apelido do Mick Ronson) encontra o traseiro do Bowie e o nosso querido Mr. Bowie está com uma cara de quem está tendo um orgasmo.  A foto seguinte mostra o que teve depois (ou antes, eu não estava lá…). Efeitos utilizados: Intensificar, Autocontrate.

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O casal neuras Mick Ronson e David Bowie em 1973, de novo e em dose dupla. A dupla se conheceu em 1969, quando Ronno substituiu John Hutchinson na Hype, a banda com a qual Bowie se apresentou entre 1969 e 1970. Começou aí uma parceria muito forte e marcante para os dois lados. Quem conviveu com os dois garante que a química dos dois era perfeita: pareciam almas gêmeas em corpos separados. Bowie contou com a ajuda de Ronson na hora de montar dois projetos que mudariam a vida deles: o Arnold Corns (em 1970, que não deu certo) e o Spiders from Mars (que deu certo até demais). Chegou a se pensar que Mick Ronson era gay (depois do episódio no qual o Bowie saiu do armário no Melody Maker), mas ele nunca admitiu publicamente que gostava de homens. Chegou a se pensar que Bowie e Ronno tiveram um caso durante a turnê asiática de Ziggy Stardust. Mas isso é lenda. A guitarra Gibson Les Paul utilizada durante a turnê “Ziggy Stardust” está num Hard Rock Cafe de Nova York. Efeitos: Estilo Lomo, Brilho.

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Mais uma do casal neuras David Bowie e Mick Ronson, dessa vez fora do palco. O casalzinho feliz está fazendo uma boquinha num trem, durante a turnê americana de “Ziggy Stardust”. David mantinha o estilo, mesmo fora do palco. Suas roupas off-stage eram desenhadas por Freddi Buretti e eram mais simples em relação aos figurinos usados no palco. Freddi já havia trabalhado com Bowie no Arnold Corns. A sugestão da cor vermelha dos cabelos de Bowie veio de sua primeira mulher, Angie, e foi prontamente aceita. Já Suzi Fussey deu uma sugestão para o visual de seu futuro marido (Mick Ronson): pediu que o guitarrista platinasse os cabelos para dar um contraste com o vermelho ardente dos cabelos de Bowie. Ronno relutou um pouco, mas aceitou. A roupa que Bowie está utilizando está em um Hard Rock Cafe em Orlando. Efeitos: nenhum, somente correção de cores.

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Momento voz e violão, provavelmente na faixa “My Death”, Los Angeles, 1973. Esse robe tem botões de pressão de prata na frente e velcros atrás, pois tem um collant por baixo E ESSE COLLANT PRECISA SER REVELADO! Duas ajudantes vestidas de preto (Suzi Fussey e Melanie McDonald) ajudavam o David a tirar a roupa. Isso mesmo que você leu. Tinha shows que o David sozinho tirava a roupinha. Luz nele! Havia diversas trocas de roupa (a maioria do David, mas a banda também trocava a roupa). Efeitos: Estilo Holga.

Ficha técnica (em 1973):

Essa é a ficha técnica do David Bowie, em 1973. Tirei de uma revista de fã-clube, de 1973. Não tive tempo de traduzir, evidentemente.

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Da da da…

“Just look through your window, look who sits outside (Love you till Tuesday, 1967)”

Tive que fazer uma retrô forçada de quase tudo que o David tocou antes de Ziggy Stardust para poder entender esse disco. Ouvi o primeiro disco que ele lançou em carreira solo: “David Bowie”, de 1967 (ele teve duas bandas antes, a King Bees e a Lower Thirdies. Nenhuma deu certo). Tem um disco com músicas dessa época “I Dig Everything”. Em mono, não estéreo.

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Admito que achei “David Bowie”, o disco, mega engraçado. Não só a capa, mas as músicas também. “Love you till Tuesday” (a faixa mais famosa) é mega engraçada. Como o cara que depois compôs pérolas poéticas como “Heroes”, uma das canções de amor mais bonitas de todos os tempos que conta a história de dois jovens separados pelo Muro de Berlim com armas por cima de suas cabeças (um amor tido como impossível naqueles tempos de Guerra Fria), compôs uma canção que pelos padrões Bowie é meio bobinha (mas nada que tenha o dedo do David é bobinho)? A única parte que eu decorei foi a seguinte: “Ohh, beautiful baby/My burning desire started on Sunday/Give me your heart and I’ll love you till Tuesday” (Ohh, lindinha/Meu desejo ardente começou no domingo/Me dê seu coração e te amarei até terça-feira). Da da da… Isso é muito leve em relação a letras como “Cracked Actor”, que fala claramente em pegar um rapaz depois de ficar rico e famoso sendo ator; “John, I’m only dancing”, que fala de se pegar alguém, mesmo que o namorado não esteja reparando (o namorado do eu-lírico é o tal John); e a citada umas cem mil vezes “The Width of a Circle”, que fala de um relacionamento homossexual e de maneira lírica.

Antes que eu me esqueça: esse primeiro disco foi relançado em 2010 pela EMI numa edição remasterizada com disco duplo. Com toneladas de faixas-bônus.image

Alguns bootlegs legais de antes de “David Bowie”: “London Boy” (1995) e “The Forgotten Songs of David Robert Jones” (1997). As músicas gravadas na época da Deram (incluindo o primeiro disco na íntegra) foram agrupadas em um disco, “The Deram Anthology 1966-1967” (1997). A mais legal é “The Laughing Gnome”, uma faixa super engraçadinha e super fofa que a minha irmã mais nova gostou. Fofinha mesmo: dá uma vontade de rir junto com o gnomo risonho. Pode parecer meio boba, mas nada que tenha o dedo do Actor (nesse caso, o David) é bobinho.

The Deram Anthology 1966-1968

E sim, antes de viver a encarnação branquela e de ruivos cabelos e roupas coloridas e maquiagem fortíssima e sobrancelhas raspadas (ou descoloridas, sei lá) conhecida como Ziggy Stardust, David Bowie foi um rapaz normal. Mas se ele fosse normal, ele jamais seria David Bowie, certo?

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David Bowie na época da Deram (o braço independente da gravadora Decca, que era a gravadora dos Stones), em 1967. David teve muito azar com esse seu primeiro disco: no mesmo dia havia sido lançado “Sgt. Pepper Lonely Heart Club Band”, a obra-prima dos Beatles. E quem ligaria para um cantorzinho que tinha um olho não-humano quando os Beatles lançaram seu melhor disco? O disco do David foi praticamente esquecido por anos (só foi relançado em 2010). Muitos críticos consideram o seu primeiro disco “Space Oddity” (que foi lançado nos EUA como “David Bowie”).

“We’ve really got a good thing going!”

Depois de se decepcionar com a música (esse primeiro disco não deu o que tinha que dar), o David se mandou para um retiro budista na Escócia, ficou um ano por lá e mais tarde se mandou para a companhia de mímica de Lindsay Kemp. Já que com a música as coisas não iam bem, ele foi tentar a vida de ator. Fez uma peça que passou na BBC, chamada “The Pistol Shot”. Lá conheceu Hermione Farthingale, uma atriz e dançarina, e se apaixonou por ela.Coração vermelhoCoração vermelho . Os dois viviam numa casinha vitoriana simpática e tinham uma vida social tão fechada que se sabe pouco do que os dois aprontavam. O que sabemos: David e Hermione eram um típico casal hippie. Preparavam refeições macrobióticas, discutiam arte, poesia romântica e filosofia budista e nos fins de semana, os dois iam pro campo tomar sol pelados (não é muito legal fazer isso em Londres. Vai que os vizinhos olham…).

Mas o Bowie não dava o braço esquerdo a torcer. Junto com Hermione e um guitarrista chamado John Hutchinson, montou um combo hippie chamado Feathers. O povo cantava, tocava e nos intervalos fazia mímica. Uma suruba desgraçada. Mas acabou, durou até maio de 1969. Como todas as bandas que o David tentou montar não deu certo de jeito nenhum (além das citadas King Bees e Lower Thirdies dos anos 1960, em 1989 o Bowie tentou montar uma banda, a Tin Machine, que também não deu certo). Motivo: o cara não se dá com bandas. Ele é do “bloco do eu-sozinho”, como o disco do Los Hermanos. Acho que a única banda com o qual ele se ajustou legal foram os Spiders from Mars.

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Na primeira foto (da esquerda pra direita): Hermione Farthingale, David Bowie, Tony Visconti e John Hutchinson. The Feathers, em 1968. A única garota dessas fotos é a Hermione Farthingale. A trupe que não ganhava nenhum tostão, mas que fazia David Bowie feliz.

E o romance hippie com Hermione terminou em 1968, no set de “Love you till Tuesday”.Coração partidoCoração partido . E Hermione, como que atingida com um feitiço de desaparecimento, sumiu da face da Terra (O próximo post vai falar do meu livro favorito da série Harry Potter, aguardem!). As músicas que o David cantou no filme (média-metragem, tem 29 minutos) foi lançado em 1989. Isso, depois de 20 anos.

Na época de Ziggy Stardust o David restabeleceu contato ligeiramente com Hermione. Mas nessa época o encanto havia se acabado: David estava casado, com filho e não se parecia em nada com o David hippie pelo qual Hermione havia se apaixonado.

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Capa de Love You Till Tuesday, trilha sonora do filme, de 1989. Na capa, uma foto que saiu da gravação do clipe original de “Space Oddity”, de 1968. Essa versão de “Space Oddity” é diferente da versão mais famosa, de 1969 e que foi a trilha sonora da chegada do homem à Lua.

E vou falar em detalhes do tal “Pierrot in Turquoise or The Looking Glass Murders” para não dizerem que eu só dou referência sem explicar: foi encenada em 1967 pela companhia de mímica de Lindsay Kemp, fez sucesso, mas não gerou muito retorno (e daí?). A adaptação para a televisão é do ano de 1970 e foi feita por uma televisão escocesa (nota do Imbd: 6,1 em uma escala de 1 a 10). Vou por uma tabelinha com o resumo. Com soundtrack e tudo!

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Na primeira foto, a intro da adaptação da peça para a TV. Na segunda, Lindsay e Annie como o Pierrô e a Columbina. E sim, na terceira foto é o David, como Cloud. O cara tá assanhado e parecendo um desvalido, mas e daí? É o David Bowie. Cast:

David Bowie como Cloud

Lindsay Kemp como Pierrot

Jack Birkett como Harlequin

Annie Stainer como Columbine

Michael Garret como Piano Player

“Descrito por Lindsay Kemp como “um anjo loiro”, depois que seu disco não deslanchou, tentou ser ator. Montou ao lado de Kemp “Pierrot in Turquoise”, uma adaptação da história clássica dos palhaços Pierrô, Columbina e Arlequim. A trilha sonora foi composta por Bowie e está no bootleg “The Forgotten Songs Of David Robert Jones”. Essa peça foi adaptada para a televisão em 1970 com o nome de “The Looking Glass Murders”, inclusive chegou a passar numa pequena televisão escocesa (a gravação resistiu até os nossos dias). Bowie no papel de Cloud (uma espécie de musa inspiradora do Pierrô, nesse caso, muso) e Kemp no papel de Pierrô faziam um par romântico.”. A soundtrack dessa apresentação é composta por: “Threepenny Pierrot”, “Columbine”, “The Mirror” e “When I Live My Dream”. Gostei mais de “Threepenny Pierrot”.

A História: o Pierrô está apaixonado pela Columbina, mas ela está apaixonada pelo Arlequim. E como se não bastasse, Cloud também está apaixonado pelo Pierrô. No fim, Pierrô mata o Arlequim (nossa, que bizarro).

“Ground control to Major Tom…”

“(…) And the papers want to know whose shirts you wear (Space Oddity, 1969)”

Ouvi “David Bowie/Man of the Words, Man of the Music/Space Oddity”, de 1969. Esse disco tem três capas e três nomes: a capa original da edição do Reino Unido, a capa da edição americana e a capa do relançamento (da RCA, atual Sony Music), de 1972. Mas a música não muda, não! Tá, tem uma faixa chamada “Don’t Sit Down”, que não entrou na versão de 72. Motivo: era muito curta (43 segundos!) e na maior parte da música o David está achando graça!

Esse disco marcou um momento de transição do David. Ele havia rompido com Hermione Farthingale, o movimento hippie na Inglaterra era uma coisa já meio démodé e sua vida pessoal deu uma guinada. O cara conheceu duas pessoas que mudaram a sua vida: Calvin Mark Lee, executivo de artistas & repertório da gravadora Mercury e Angela Barnett, uma estudante de Economia de Yorkshire. Calvin deu um contrato para o David na Mercury e uma oportunidade de ouro. E a Angela…Bom, ela começou a namorar com o David, logo no primeiro encontro ele a levou para a cama, os dois namoraram e mais tarde Angela se tornou a primeira Sra. Bowie.

Por causa da chegada do homem à Lua a BBC escolheu uma faixa para servir de trilha sonora. A escolhida: “Space Oddity”. Tem duas versões completamente diferentes dessa música: uma de 1968 com um clipe mega bizarro de 1969 (só vendo umas cem vezes para entender) e a de 1969 (a oficial) que ganhou um clipe em 1972. No primeiro clipe o David Bowie faz dois papéis ao mesmo tempo: o Major Tom e o cara do Ground Control, tinha duas garotas do espaço, um capacete que lembra o pessoal do Daft Punk, era mega literal. O segundo era mais centrado no subjetivo: David Bowie (com um salto branco de dar inveja) com um violão e algumas luzes vermelhas ficava cantando “Space Oddity”, intercalava com imagens de um computador das antigas, e na parte da contagem regressiva mostrava os números num mostrador digital.

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As quatro primeiras fotos são do primeiro clipe, de 1969. As outras quatro fotos são do clipe de 1972, inclusive com o bisavô do notebook que digita essas linhas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

O som de “Space Oddity” (o disco) mistura sons folks (muito violão e gaita, até um acordeom, influência de Bob Dylan!) com sons eletrônicos tirados de um Mellotron (um sintetizador que tem um som parecido com o sintetizador que era usado pelo RPM nos anos 1980) e de um Stylophone (uma espécie de teclado que também faz um som parecido com o teclado usado pelo RPM! Será que são a mesma coisa?).

Eu achei massa as faixas “Space Oddity” (porque será, hein?), “Unwashed and Somewhat Slightly Dazed” (tem um solo de gaita muito legal, a versão de “Bowie at the Beeb” disco 1 faz a pessoa se sentir na frente de um rádio por causa do som. D+), “Letter to Hermione”, (uma carta de amor que jamais foi enviada) e “Wild Eyed Boy From Freecloud” (eu acho muito massa todas as versões, mas essa ganha).

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Da esquerda para a direita: “Space Oddity”, de 1969 capa original da edição britânica (Phillips), “Man of the Words/Man of the Music”, 1969, edição americana de “Space Oddity” (Mercury) e o relançamento de 1972 para Space Oddity (RCA). Fico com a primeira!

“You’re face to face with The Man Who Sold The World”

“Oh no, not me, I never lost control” (“The Man who Sold the World”, 1970)

Também dei uma ouvida no tal “The Man who Sold the World”, de 1970. Esse disco também tem três capas diferentes: a capa do vestido (da edição britânica), uma capa em desenho (da edição americana) e a capa do relançamento da RCA, que como “Space Oddity” é do ano de 1972. Além de ter ouvido a faixa-título (que foi regravada pelo Nirvana e ficou mais famosa), ouvi “The Width of a Circle”, “Black Country Rock”, e “All the Madmen” com gosto. Kurt Cobain fez uma lista dos 50 discos mais legais que ele achava e “The Man…” ficou na 45ª posição.

O som desse disco é pesado, forte, precursor do heavy metal (tem a ver com Deep Purple e Led Zeppelin). O momento que o David vivia também explicava o som tão forte: pouco depois do lançamento de “Space Oddity” o pai do David morreu de pneumonia. Angela já morava com David na lendária Haddon Hall e lá o casalzinho feliz fez uma despedida de solteiro: chamaram um amigo e fizeram sexo a três. Foi dela a ideia do vestido na capa.

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Da esquerda para a direita: capa da edição britânica de “The Man who Sold the World” (causou polêmica, por causa do vestido, Phillips, 1970), capa da edição americana (Mercury) e a capa do relançamento, de 1972 (RCA).

Ziggy Stardust transformou David Bowie de um artista folk num rockstar de verdade. Foi o seu primeiro disco de sucesso não só dentro do Reino Unido, mas também nos EUA, que normalmente torcem o nariz para artistas britânicos (artistas, mas eles deliram com bandas). Mas ele já fazia sucesso nos EUA. Seu apelido por lá: o Bob Dylan inglês (na época de “Space Oddity” ele se apresentava quase da mesma maneira que o bardo norte-americano, exceto que o Bob não tem um olho cuja pupila nunca fecha). O grande responsável foi “The Man who Sold the World”.

“The Man…” (aquele lá da capa do vestido), de 1970 vendeu cerca de 50 mil cópias nos EUA (o que era muita coisa), enquanto em todo o Reino Unido vendeu a incrível quantia de 7 cópias. Não tô frescando. Cinco delas o Bowie comprou para presentear e as outras duas foram compradas por um fã. Essa edição original de “The Man…” (da parceira britânica da gravadora Mercury, a Phillips) é disputada a tapa.

Nessa época David resolveu declarar todo o seu amor por Angie em uma canção (devia ter algum para compor uma música…): “The Prettiest Star” (A estrela mais bela). Gravou e lançou como um single que saiu antes mesmo de “The Man…” ao lado de Marc Bolan. Recepção: apenas 800 cópias vendidas no Reino Unido. David a regravou com as guitarras de Mick Ronson em 1973 e entrou no disco “Aladdin Sane”. Só coloquei essa informação a título de curiosidade. Mas acho “The Prettiest Star” uma música muito linda. =)

Ch-ch-ch-ch-Changes…

“Time may change me, but I can’t trace time” (Changes, 1972).

Durante o ano de 1970 aconteceram mudanças (changes, em inglês) na vida dos Bowie. Primeira viagem do casal para os EUA, o casamento dos dois ainda era tido como “normal” (os dois ainda se comportavam e se pareciam com um casal jovem normal apaixonado), David trocou de gravadora (o contrato com a Mercury havia expirado e ele foi para a RCA) e Angela estava grávida. Essa carta enviada por Bowie para uma editora musical explica quase tudo o que rolava: “Now I am 24 and I am married and I am not at all heavy. And I’m still writing and my wife is pregnant…” (Agora tenho 24 anos e estou casado e isso não é tudo que está rolando. E eu ainda estou escrevendo e minha esposa está grávida).

Isso se refletiu no som do disco que David Bowie fez no ano seguinte. Até o nome do disco dizia a situação do cara: Hunky Dory, uma expressão inglesa que queria dizer que estava tudo em cima. Esse disco tem somente uma capa. Na contracapa tem as informações do disco escritas a mão pelo Bowie em pessoa. Com erros e tudo.imageimage

Realmente os tempos mudaram para o David: capa e contra-capa de Hunky Dory (RCA), 1971.

Na contracapa tem algumas observações sobre algumas faixas: em algumas canções tem um asterisco, que indica que os arranjos foram feitos por Mick Ronson. Em “Life on Mars?” tem uma dedicatória irônica a Frank Sinatra (ele mesmo!), em “Kooks” (uma fofinha lullaby, canção de ninar, a mais fofa de todo o disco) tem outra dedicatória, dessa vez para o filho de David e Angie, Zowie (Zowie é uma adaptação da palavra grega Zoe que significa vida, segundo a explicação dada por Angie. Mas Zowie, escrito desse jeito, rima com Bowie, certo?), em “Queen Bitch” (a única que minha irmã que curte funk gosta de toda a discografia do David Bowie), tem uma dedicatória ao pessoal do Velvet Underground (v.u White Light returned with thanks, White Light/White Heat é uma música do Velvet. Ouvi e achei legal).

É um dos meus discos favoritos do David, gosto de quase todas. “Changes” (as partes de piano são muito legais), “Oh! You Pretty Things” (uma homenagem a uma banda que o David curtia, The Pretty Things. Se tornou um hino do glam rock), “Life on Mars?” (o clipe é meio bizarro), “Kooks” (uma canção de ninar que mostra como era o clima na casa em Haddon Hall), “Queen Bitch” (uma das minhas favoritas de toda a discografia do David. Um cara morre de ciúmes de uma bicha…).

“You’re the blessed, we’re the Spiders From Mars!”

Na época de Hunky Dory David montou ao lado de Mick Ronson os Spiders from Mars (guarde bem esse nome!). Os Spiders pareciam uma continuação de um trabalho anterior do Bowie de antes de Hunky Dory, o Arnold Corns. Esse nome (Arnold Corns) foi tirado de uma música do Pink Floyd.

O Arnold Corns lançou apenas um compacto independente, “The Arnold Corns” de 1971, anterior a Hunky Dory. Tinha somente duas faixas, que foram regravadas com algumas alterações nas letras em “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”: “Moonage Daydream” e “Hang on to Yourself”. Terei que repetecar uma foto do post nº2.

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“Come on strong girl, lay the heavy trick on me” (Moonage Daydream, Arnold Corns, 1970). O Arnold Corns não durou muito, apenas alguns meses entre 1970 e 1971. Formado pelos futuros integrantes dos Spiders from Mars, pelo designer de roupas Freddi Buretti (que está do lado do David na foto acima) e por David Bowie, o Arnold Corns tinha canções mais leves em relação às canções de “The Man Who Sold the World”. O compacto foi lançado de maneira independente pois o nome David Bowie estava registrado na Mercury e enquanto o contrato não acabasse ele não podia gravar nenhum disco como David Bowie. Mas podia ser como Arnold Corns, certo?

A banda inicialmente tinha somente três integrantes (3-piece band): o citado umas cinquenta vezes Mick Ronson (nas guitarras), Mick “Woody” Woodmansey (na bateria) e Trevor Bolder (no baixo). Lembram-se que no post nº2 disse que até a banda entrou na vibe do David. Taí. A primeira é de “The Jean Genie”, de 1973. A segunda é da sessão de fotos de “Ziggy Stardust”, o disco.

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Referências bibliográficas:

Livros:

Bowie, Angela, com Patrick Carr. Backstage Passes – Life on the Wild Side With David Bowie. Nova York: Cooper Square Press, 2001.(disponível somente em inglês)

Buckley, David. Strange Fascination: David Bowie—The Definitive Story. Londres: Virgin Books, 1999. (disponível somente em inglês)

Pegg, Nicholas. The Complete David Bowie. Londres:Reynolds and Hearn Ltd., 2004. (disponível somente em inglês)

Rock, Mick, and David Bowie. Moonage Daydream: The Life and Times of Ziggy Stardust. Nova York: Universe Publishing, 2002. (disponível somente em inglês)

Spitz, Marc. Bowie – A Biography. Nova York: Crown Publishers, 2009. (disponível também em português, edição da Editora Benvirá).

Mídias:

Documentários:

Cracked Actor (BBC, 1975, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=HnIBBkgkO5o).

David Bowie and the Story of Ziggy Stardust (BBC, 2012, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=S_hZ-Z_4ZVg)

Videoclipes:

“Space Oddity”, videoclipe original (1969, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=D67kmFzSh_o)

“Space Oddity”, videoclipe oficial (1972, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=cYMCLz5PQVw)

“Queen Bitch”, no The Old Grey Whistle Test (1972, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=O8oGyGo1q-k)

“Life on Mars?” (1972, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=v–IqqusnNQ)

“John, I’m Only Dancing” (1972, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=6VrqCBsbeuc e a reedição de 1973 disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4SMwHgEsgPo&feature=share)

“The Jean Genie” (1973, disponivel em http://www.youtube.com/watch?feature=episodic&v=CGQo6zpVzt8&NR=1)

Tv shows:

Part I of The Looking Glass Murders (When I Live my dream) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=aOvHM7IQLts)

Part II of The Looking Glass Murders (Columbine) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=CEei36gynqA)

Part III of The Looking Glass Murders (The Mirror) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=_388rRqS40M)

Part IV of The Looking Glass Murders (Threepenny Pierrot) (disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4PTHHLgg7do)

Shows:

Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (gravado em 03 de julho de 1973, mas lançado em 1983, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=3cZxVHim0Co)

The 1980 Floor Show, exibido no programa da NBC “Midnight Special” (gravado entre 18, 19 e 20 de outubro de 1973, exibido em 16 de novembro de 1973, disponivel em http://www.youtube.com/watch?v=dxRWsQ1nre4)

Sites:

David Bowie – The Official Website, disponível em http://www.davidbowie.com/

The Ziggy Stardust Companion, disponível em http://5years.com/start.htm

Teenage Wildlife, disponível em http://www.teenagewildlife.com

Bowie Wonder World, disponível em http://www.bowiewonderworld.com/index.html

New Killer Star, disponível em http://newkillerstar.wordpress.com/

http://www.beatrix.pro.br/mofo/ziggystardust.htm

http://www.beatrix.pro.br/mofo/bowielow.htm

Community of Bowie fans (faço parte!) , disponível em http://community.davidbowie.com

Nos tempos da purpurina parte IV: Um cara insano, Transformer, Pin Ups e afins

kwestNesse último post da série “Nos tempos da purpurina” vou tratar dos outros discos da “Ziggy-era”: Aladdin Sane (1973), Pin Ups (1973), Transformer (1972), Diamond Dogs (1974), Station to Station (1976) e Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture (1983). Já falei de disco, roupa e maquiagem, shows intensos e só faltava os discos relacionados. Os textos tem os títulos nas cores das capas de cada disco.

Eu ouvi cada um dos discos, sério. Aladdin Sane e Pin Ups se completam a Ziggy Stardust: Aladdin fala da loucura (o Ziggy pirou depois de um tempo, por causa do sucesso, eu disse isso na primeira parte de “Nos Tempos da Purpurina”) e Pin Ups é um disco das músicas favoritas de Bowie só que com arranjos mais arrojados e algumas versões chegam a superar as originais (exemplo: as faixas “Rosalyn”, “I can’t explain” e “I Wish you Would”), que simboliza as influências de Ziggy Stardust.

Transformer, apesar de não ser de David Bowie (é de Lou Reed) é um disco fundamental do glam rock e foi o que salvou um pouco o rock dos anos 1970. Lou Reed fez parte do Velvet Underground, uma das bandas mais influentes dos anos 1960 e uma das favoritas de David Jones (tô falando do Bowie). Depois de um primeiro disco solo massacrado pela crítica, Lou contou com a ajuda de Mick Ronson (guitarrista do Spiders from Mars) e de David Bowie para gravar alguma coisa. Ronson produziu o disco e tocou guitarra, enquanto Bowie contribuiu com os backing vocals. O resultado foi super elogiado pela crítica.

Diamond Dogs tem a temática do livro “1984” de George Orwell e deveria ser um musical. Mas já que a viúva de Orwell não aceitou ceder os direitos para a produzir a peça, com o material que tinha Bowie gravou um disco. Nesse disco vemos a imagem da Hunger City e de Halloween Jack com sua namorada num futuro cheio de “pulgas do tamanho de ratos e ratos de tamanho de gatos”. Poderia virar um musical daqueles, inesquecível, mas a Sonia vacilou…

Station to Station é completamente anti-Ziggy: mostra a última grande persona artistica de David Bowie, Thin White Duke. O Duke era o Ziggy às avessas: se vestia de maneira simples e elegante, mas era cruel e sem coração. Nas palavras de Bowie: “um super-homem ariano” (1976). Sei disso David, mas para mim é o lado preto e branco de Ziggy Stardust.

De Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture vou praticamente repetir o que falei sobre o “The Retirement Gig”.

Vai ser no mesmo esquema do primeiro post: as músicas estão no meu Skydrive. Clique na capinha de cada disco (capa, gente!) que vai para o link de cada disco no meu Skydrive. Não vou citar música, vai ficar longo e cansativo.

Aladdin Sane

Um cara insano* (Aladdin Sane é na verdade, A lad insane*). Esse disco de David Bowie é um dos mais marcantes que ele fez e não é à toa. O show começa logo na capa: a clássica imagem do raio transpassando o rosto de Bowie (maquiagem de Pierre La Roche) é uma das mais famosas imagens do rock (Admito que eu tentei fazer o raio no meu rosto, mas ficou invertido pois sou canhota). Continua no encarte. E termina no disco: com faixas com a temática da loucura e da insanidade mostra que ninguém é normal, por mais que queira parecer. Involuntariamente, esse é o disco que mais se parece com esse blog. Afinal, “ninguém é tão normal quanto parece”. Nas palavras de Bowie “É o Ziggy conhecendo a fama…um Ziggy falando sobre a América, minha interpretação do que a América significa para mim” (1973). Se você viu o primeiro post, ao ficar famoso Ziggy perdeu a sanidade. Logicamente, para Bowie (naquela época) a América é uma terra insana, de gente insana. Acho que a opinião dele não mudou muito, não. Em uma gravação mais recente (de 1997) o Bowie canta: “I’m afraid of Americans” (tenho medo dos americanos).

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Embaixo, info do disco:

Produzido por: David Bowie & Ken Scott para MainManEngenharia: Ken Scott & Mick Moran

Arranjos de: David Bowie & Mick Ronson

Staff:

David Bowie: vocais, violão, gaita, saxofones
Mick Ronson: guitarras, piano, vocais
Trevor Bolder: baixo
Mick Woodmansey: bateria
Mike Garson: piano
Ken Fordham: bux: saxofones, flautas
Juanita “Honey” Franklin / Linda Lewis / Mac Cormack: backing vocals
Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido.

Eu gosto demais das faixas “Panic at the Detroit” (tem uma levada interessantíssima), “The Prettiest Star” (essa faixa foi cantada por David pelo telefone para Angie e foi seguida por um “Do you want marry me?”, quer casar comigo?), o cover de “Let’s Spend the Night Together” dos Stones, “Time” (na qual Bowie interpreta: tem uma hora que faz uma voz aguda que é demais), “The Jean Genie” (que tem um clipe gravado nas ruas de Londres que é legal) e “Lady Grinning Soul” (a introdução no piano é maravilhosa). Inclusive no momento em que estou escrevendo esse texto estou ouvindo “Panic at Detroit”. Para mim essa faixa é wunderbar! (maravilhosa).

Pin Ups!

Apesar de ser um disco de covers, é um disco de covers que tem faixas em que a versão fica melhor que a original. É um disco ensolarado e cheio de vida, alegre da primeira a última faixa. Um outro disco de covers que eu gosto demais é “The Stonewall Celebration Concert” do Renato Russo (1994). Nesse o Renato canta suas músicas favoritas. O interessante: não soa como Legião Urbana.

Em “Pin Ups” o David e toda a sua trupe saem de Londres e vão para um castelo na França para gravar: em Chateau d’Herouville, um estúdio recomendado por Marc Bolan. E não é que o som mudou? Nesse disco há versões de músicas do The Pretty Things (Rosalyn e Don’t Bring Me Down), do Them (Here Comes the Night), do The Yardbirds (I Wish you Would e Shape of Things), do Pink Floyd (See Emily Play), do The Who (I can’t Explain e Anyway, Anyhow, Anywhere), do The Mojos (Everything’s Alright), do The Kinks (Where Have All the Good Times Gone), do The Easybeats (Friday on my Mind), do Mccoys (Sorrow, a baladinha do disco) e duas que não entraram na versão original, mas que entraram no relançamento da RYKODISC, de 1990: uma versão de Bruce Springsteen (Growin’ Up) e uma versão em inglês de uma canção do francês Jacques Brel (Port of Amsterdam). Eu ouvi as versões e as originais.

Info do disco (já tá ficando chato a pessoa inserir informações técnicas…):

Produzido por: David Bowie & Ken ScottEngenheiro de som: Denis Blackeye

Arranjos: David Bowie & Mick Ronson

Staff:
David Bowie: vocais, sax alto & tenor, guitarra, gaita, sintetizador Moog
Mick Ronson: guitarras, piano e backing vocals
Trevor Bolder: baixo
Mike Garson: grand piano, teclado, órgão & harpa
Aynsley Dunbar: bateria
Ken Fordham: sax barítono                                                                                                        
Mac Cormack: backing vocals

Estúdio: Chateau d’Herouville, França.

E como não poderia deixar de ser, a capa de qualquer disco do David Bowie dos anos 1970 é um espetáculo: Bowie aparece na capa ao lado de Twiggy, modelo britânica da qual eu falei lá no primeiro post, que pode ter inspirado o nome “Ziggy”. Fotos por Mick Rock.

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As minhas faixas favoritas desse disco são: “Rosalyn” (ficou mais legal do que a original, admito), “Here comes the Night” (música de dor de corno) “I Wish You Would” (uma versão esperta e cheia de sonoridade), “I Can’t Explain” (uma versão sexy e muito fodona), “Friday on my Mind” (o que no fundo todo mundo tem, todo mundo pensa na sexta) e “Sorrow” (momento música lenta do disco).

Tranformer

Esse disco foi o que salvou a alma de Lou Reed. Salvou mesmo, porque depois disso Lou gravou um disco conceitual: “Berlin” (1973). Mas vamos nos concentrar no Transformer (o primeiro Transformer da história!).

Em 1971 o primeiro disco solo de Lou Reed (Lou Reed) havia sido detonado pela crítica. Motivo: o som era diferente do Velvet Underground. O Velvet era super-cult, já Lou fora do Velvet era super-m….

Então Lou foi para Londres ao lado de sua namorada para gravar no lendário Trident Studios. Mick Ronson se juntou à trupe de Lou e chamou Bowie para ir junto. Mas no começo das gravações estava perto de o couro comer: Bowie e Ronson queriam de um jeito, Lou queria de outro. Mas os três se entenderam e as gravações foram às mil maravilhas.

O disco estourou e ficou entre os 30 melhores dos EUA. Foi a primeira gravação de Lou Reed a estourar. “Walk on the Wild Side”, o single do disco, foi muito tocado nas rádios. E o pessoal que trabalhou para que esse disco ganhasse vida:

Produzido por: Mick RonsonStaff:                                                                                        Lou Reed – guitarra, teclados, vocais                                                                                          Herbie Flowers – baixo, contrabaixo, tuba em “Goodnight Ladies” e “Make Up”                                                                                 Mick Ronson – guitarra, piano, flauta, vocais, arranjos de cordas*  John Halsey – bateria                                                               Ronnie Ross – saxofone barítono em “Goodnight Ladies”

Músicos Adicionais

David Bowie – backing vocals                                                 Thunderthighs – vocal de apoio                                                Barry DeSouza – bateria                                                                                         Ritchie Dharma – bateria                                                                                   Klaus Voormann – baixo                                                                                               Ken Scott – engenheiro

Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido

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Apesar de eu não ser muito fã do Lou eu gostei desse disco. Não é porque o Bowie faz os backing vocals, não! É porque é consistente e sem muita enrolação. E vai direto ao assunto. Eu gostei de “Vicious”, “Andy’s Chest” (o peito do Andy, nesse caso Andy Warhol), “New York Conversation” e, claro “Walk on the Wild Side”! Não ficou numa posição legal no 500 Greatest Albuns of All Time, da Rolling Stone, mas tá valendo.

Keep Calm, Diamond Dogs rule, OK!

Depois de um sucesso retumbante com “Aladdin Sane” David tentou novos ares. Chamou uma nova banda e queria fazer um musical inspirado em “1984” do George Orwell. Não deu. A viúva de George, Sonia Blair, não queria que a obra-prima do seu marido fosse adaptada para o teatro pelas mãos do David.

Com o material que tinha, dava para gravar um disco. Então Bowie resolveu reinventar a obra de Orwell à sua maneira. Reinventou mesmo: a Londres de “1984” virou Hunger City (muito mais doidona que Londres), Winston Smith virou o Halloween Jack, um “real coal cat” (lembrei de “Gimme Shelter”, dos Stones: “burns like a real coal carpet”) e assim por diante…

Mesmo que na capa do disco Bowie aparecesse completamente Ziggy e que Diamond Dogs ainda seja glam, prenuncia um dos movimentos mais marcantes do rock: o punk. E tome ficha técnica!

Produzido por: David Bowie, Tony Visconti e Keith HarwoodStaff:

David Bowie – vocais, violão, saxofone, sintetizador Moog , Mellotron, produtor, engenheiro de mixagem                               Earl Slick – guitarra em “Rock ‘n’ Roll with Me”                         Mike Garson – teclados                                                        Herbie Flowers – baixo                                                                                       Tony Newman – bateria                                                                                       Aynsley Dunbar – bateria                                                          Alan Parker – guitarras em “1984”

A capa, feita pelo pintor holandês Guy Pellaert, é um pouco bizarra (um pouco é ironia): na capa há duas prostitutas rindo (meio gente, meio buldogue) e na frente uma criatura meio cachorro, meio Bowie. Tá, é uma pintura, mas o original seria essa pintura só que o Bowie do jeito que veio ao mundo. S.O.S! Desculpa se tive que repetir imagem, mas é um recurso para destacar.

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As minhas faixas favoritas de “Diamond Dogs” são as seis primeiras (equivalente ao lado A): “Future Legend” é somente uma introdução falada na qual Bowie nos situa na Hunger City, controlada pela Diamond Dogs (uma espécie de Big Brother que manda em tudo). A faixa-título nos situa dentro da história, porque isso não é rock’n’roll, é genocídio* (“It’s ain’t Rock’n’roll, it’s genocide”*). “Sweet Thing”, “Candidate” e a reprise de “Sweet Thing” são três faixas inseparáveis super boas. “Rebel Rebel” é uma faixa ainda glam, cujo tema é a ambiguidade sexual (algo que o Bowie tinha bastante: era um divertido jogo de “ele é ou não é?”). Tem um disco derivado, “David Live”, lançado em 1974. Disco duplo e um pouco estranho, admito. Eu falei que o David se livrou do penteado Ziggy. Na capa de “David Live” está o resultado. Se eu tiver paciência vou fazer uma crítica mais elaborada desses dois discos.

David Live Disc 1

You drive like a demon from station 2 station

Depois de um disco de sucesso, “Young Americans” (1975) no qual até o John Lennon fez backing vocals em “Fame” e o Bowie mandou seu passado glam para o espaço resolveu dar uma de Soul Boy, e de um filme de peso (o primeiro!) “O Homem que Caiu na Terra” (1976) no qual o David faz o alienígena/homem de negócios Thomas Jerome Newton (o cara se fode legal), era hora de voltar a gravar.

Mas não temos muitas informações de como as gravações de “Station to Station” rolaram por causa do crescente vício em cocaína de Bowie que jura não se lembrar de nada das gravações. Nem mesmo o povo que trabalhou com ele lembra. E o pessoal está nessa caixinha.

Produzido por: David Bowie e Harry MaslinStaff:

David Bowie – vocais, violão,  saxofone alto e tenor, sintetizador Moog , Mellotron                                                                  Carlos Alomar – guitarra                                                                                    Roy Bittan – piano                                                                                    Dennis Davis – bateria                                                                                       George Murray – baixo                                                         Warren Peace – backing vocals                                                                                      Earl Slick – guitarra

Estúdio: Cherokee Studios, Nova York, EUA

Em “Station to Station” vemos a última grande persona artística de David Bowie ganhar vida (uma vida curta, mas é uma vida): o Thin White Duke. Um homem vazio (gelo mascarado em fogo) interessado em cabala, misticismo, até no cristianismo (durante a turnê desse disco Bowie se apresentava com um crucifixo dourado no pescoço) que cantava canções de amor insossas. Alguns acham que é uma extensão do Thomas Jerome Newton do filme que numa parte grita por sua Mary-Lou (sua amante). Muitos classificam “Station to Station” como um álbum de canções de amor. Essa persona (Thin White Duke) se tornou uma espécie de apelido para o David Bowie. A capa e a contracapa do disco remetem ao filme “O Homem que Caiu na Terra” (vi esse filme, sério!). A capa é da cena em que o Tommy mostra sua nave espacial. A contracapa mostra um dos passatempos de David durante as gravações do filme: desenhar símbolos da cabala. Muito antes da Madonna.

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Foi esse disco que me introduziu no mundo de David Bowie (a maioria entra por causa de Ziggy Stardust ou Aladdin Sane), e por isso eu gosto de quase todas as faixas. A faixa-título, apesar da introdução ser longa e meio chata, é uma das minhas favoritas de toda a discografia do David porque me fisgou de uma maneira que poucas músicas haviam feito antes (fisgou mais forte até que algumas faixas da minha banda favorita, a Legião Urbana!): é uma batalha pela alma de alguém e nesse caso é a do Duke que está em jogo. “Golden Years”, outro momento Angie (o primeiro é “The Prettiest Star”), é uma baladinha romântica, para dançar agarradinho. “TVC 15” que é sobre como um cara se sente depois de ter sua namorada raptada pela televisão holográfica é alegre, mesmo que o disco inteiro seja depressivo.

Como “Diamond Dogs” esse disco também gerou um disco derivado: “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)”, lançado em 1982. Uma pergunta: o que a Madonna e a Christiane F tem em comum? As duas viram shows da turnê de Station to Station. Motivo: depois de um show de David Bowie da turnê de “Station to Station” enquanto a Madonna virou a Madonna, Christiane F. cheirou heroína pela primeira vez. E porque eu disse que a trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” é derivada de “Station to Station”? Três das seis faixas desse disco entraram na trilha sonora do filme: Station to Station (em uma versão ao vivo, já que a música é citada no livro), TVC 15 (a versão do single, um pouco mais curta que a do disco) e Stay (que nem aparece direito no filme). O disco tem duas capas, acho mais legal a segunda, que está aí embaixo.

Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)

Farewell Ziggy

O último suspiro de Ziggy Stardust foi dado no Hammersmith Odeon em 1973 (falei no post anterior, né?). Mas o registro em áudio do show foi lançado oficialmente somente em 1983 junto com a versão em VHS do show. Em 2003 o filme foi relançado em DVD junto com uma edição em CD. O audio havia sido lançado antes em um bootleg, “His Master’s Voice”.

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O disco deveria ser lançado antes (em 1974) mas por causa de “Diamond Dogs” e “David Live” (primeiro registro ao vivo de algum show do David Bowie) foi lançado mais tarde. Motivo alegado: a qualidade do som não era das melhores. Tiveram que dar uma editada no material em estúdio. E tiveram que editar de novo em 2003.

Produzido por: David Bowie, Mike Moran e Tony Visconti           Ken Scott – engenheiro de gravaçãoStaff:

David Bowie – violão, vocais, saxofone, gaita                            Mick Ronson – guitarra base, baixo, vocais de apoio                Trevor Bolder – baixo                                                                                      Mick Woodmansey – bateria                                                     Mike Garson – piano, Mellotron, órgão                                       Ken Fordham – saxofone alto, tenor e barítono                         John Hutchinson – guitarra rítmica, backing vocals                                                                                           Brian Wilshaw – saxofone tenor, flauta                                      Geoffrey MacCormack – backing vocals, percussão

A capa do disco não poderia ser feita hoje em dia: mostra Bowie fumando. Ele tinha feito essa cena do cigarro em outras capas como em Young Americans (1975) e na coletânea Changestwobowie (1982). Logo no começo do filme mostra o take do cigarro que entrou na capa, que é na parte do David se preparando para o show. A contracapa do DVD é mais legal. Mostra uma sequência de 16 fotos em que o David aparece fumando nas quatro primeiras e as outras são consumidas pelo fogo que sai do seu cigarro. A contracapa do disco mostra uma das últimas fotos, completamente consumida pelas chamas.

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Com um set misturando os maiores hits de Bowie até então e faixas de “Ziggy Stardust”, “Aladdin Sane” e covers de Lou Reed, dos Stones e de Jacques Brel, Ziggy Stardust se despediu.

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Eu devia ter colocado essa imagem no post anterior, mea culpa…#Farewell Ziggy

As minhas favoritas desse disco são “Hang on to Yourself” (mais animado que o Aquecimento das Maravilhas), “Ziggy Stardust” (no show tem a troca de roupa mais ligeira da turnê e feita no palco!), “Wild Eyed Boy From Freecloud/All the Young Dudes/Oh! You Pretty Things” (um medley dos mais legais do disco), “Space Oddity” (eu comecei a chorar nessa parte), “Width of a Circle” (no qual tem a performance de mímica), “Suffragette City” (uma das minhas favoritas de qualquer jeito!), e “Rock ‘n’ Roll Suicide” (que eu chorei de novo).

Vai ter um post bootleg que é como seria se Ziggy Stardust tivesse acontecido hoje em dia. E o processo criativo das postagens da série “Nos Tempos da Purpurina” com todas as fontes que pesquisei para compor a primeira série do Longe D+. Os outros discos do David Bowie que vem antes de “Ziggy Stardust”, os vídeos que assisti, e minhas impressões sobre esse trabalho do “The Actor”. Então…Oh, wham bam, thank you, ma’am!

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Nos tempos da purpurina parte III: Bye bye Ziggy

kwestTudo que é bom dura pouco. Nesse post, o penúltimo da série “Nos tempos da purpurina”, vou tratar dos shows da Ziggy Stardust Tour e, claro, dos últimos shows, em 1973.

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No post anterior falei de moda. Das roupinhas que combinam com o nome desse blog (roupinhas Longe D+ De Serem Normais) e que davam um trabalho do caralho para serem vestidas. David Bowie demorava cerca de duas horas para se vestir e se maquiar. E, claro, não conseguia fazer esse trabalho sozinho. No filme “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” (1973/1983) mostra logo no começo o trabalhão que dava fazer maquiagem, cabelo e figurino do roqueiro alienígena. Era um trabalho que obviamente Bowie não fazia sozinho (ele não era nem doido de fazer isso). Tinha a ajuda de um maquiador (Pierre La Roche) e de uma cabelereira (Suzi Fussey) e de diversos figurinistas (acha que vestir aquelas roupas sozinho é mole?). E ainda tinha um monte de trocas: tinha que trocar roupa, retocar a maquiagem, beber um gole de água, dar uma tragada no cigarro, calçar sapato, lembrar da letra de “Moonage Daydream”, elogiar o novo visual da mulher, conversar com o Ringo Starr…Um trabalho de louco. Agora fiquei com peninha da Lady Gaga, que faz uma maratona parecida (ou pior).

Naqueles tempos já existia a chapinha, o secador de cabelos, e as desculpas esfarrapadas para a mulher.

Bowie fez diversas apresentações na “Ziggy Stardust Tour”. Fez duas turnês pelo Reino Unido, uma pelos EUA e outra no Japão entre 1972 e 1973. Cada uma mais…surpreendente que a outra.

Sempre começavam e terminavam do mesmo jeito: começavam ao som da trilha sonora do filme “Laranja Mecânica” e terminavam ao som de “Rock ’N’ Roll Suicide”. Mas sempre mudava, nunca eram a mesma coisa. Podia de tudo acontecer: de uma performance meio bizarra de mímica a…Bowie pegando na bunda do guitarrista e tocando com os dentes. De roupas malucas no palco a quase sem roupa nenhuma. Sempre surpreendente, sempre Bowie. Se não tivesse alguma coisa estranha, não era show da turnê Ziggy Stardust.

A estrutura dos gigs era mais ou menos parecia. Tinha sempre a introdução na qual o show começava. Na maioria das vezes começava ao som de “Hang on to Yourself”, tinha um momento voz e violão (normalmente em Space Oddity e em My Death, de Jacques Brel), um momento “Kama Sutra” (não encontrei palavra melhor para esse momento, sorry) no qual Bowie e Mick Ronson dão vazão ao lado ator de cada um. Vazão ao lado ator pornô, admito. Ainda tinha o momento “apresentar a banda”, e o momento “Rock’N’Roll Suicide”, no qual o show terminava.

Uma curiosidade que talvez seja interessante. Durante a turnê o Bowie se manteve abstêmio: garante que não bebeu (mas deve ter caprichado na cocaína para não se lembrar do que rolava). Mas no assunto sexo (de novo, né?)…Ele pegou uma de suas backing vocals, Ava Cherry, mas ela deu um depoimento interessante para um biógrafo de Mick Jagger (para o livro “Mick: The Wild Life and Mad Genius of Jagger”): viu Mick e Bowie ‘se trocando’. Ia para a cama com o David, só que não foi com ela que ele consumou o ato. Era uma “estranha fascinação*” que os dois sentiam um pelo outro (strange fascination*, Changes, Hunky Dory, 1971). Enquanto a Angie pensou que os dois estavam se trocando, a Ava viu os dois em flagrante. Ficou só olhando…

Acho que os momentos mais fodões do gig (gig é um sinônimo para show!) eram as trocas-de-roupa-relâmpago-na-cara-dos-fãs. Se eu, uma garota do século XXI que já viu shows mais doidos (como shows da Lady Gaga, da Rihanna, da Katy Perry, da Ke$ha…) me surpreendi, imagina o povo dos anos 1970…

Temos que avaliar o seguinte: naqueles anos começou a se usados no palco recursos como gelo-seco, lasers, globos espelhados, iluminação especial, projeções de imagens… Aquilo para os fãs era a coisa mais maravilhosa do universo. E os fãs retribuíam com um espetáculo à parte e que eu acho muito bonito: acendiam isqueiros na plateia. Enquanto nos dias atuais os fãs levantam seus celulares para acender a plateia, nos anos 1970 e 1980 os fãs acendiam isqueiros. Exemplos de cenas-de-isqueiros-acesos-legais: o clipe de Michael Jackson “Dirty Diana” (1987) e na cena do show do David Bowie no filme “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” Na verdade, foi em um show do AC/DC.

Fiquei imaginando como seria nos dias de hoje. Se a turnê “Ziggy Stardust” fosse feita nos nossos dias atuais. Com telões de LCD, LEDs para todos os lados, cabos, cenários espetaculares (informação: David Bowie foi o primeiro artista a utilizar um guindaste no palco, na turnê de “Diamond Dogs”, de 1974) somados aos figurinos espetaculares e a maquiagem também espetaculosa. Seria impossível: “Ziggy Stardust” foi a primeira turnê moderna. Se não fosse por essa turnê, não haveria as turnês espetaculares de Michael Jackson e Madonna. E sem as turnês espetaculares do rei e da rainha do pop, as divas do pop não teriam turnês mais espetaculares ainda, certo? Inclusive o David Bowie foi uma influência para artistas tão diversos como a Madonna, o Renato Russo,  a Lady Gaga, e até o John Lennon! Sim, influenciou o John Lennon (que era o John Lennon!). John Lennon queria que “Double Fantasy” (o último disco gravado em vida por John, de 1979) ficasse como “Heroes” (do David Bowie, de 1977).

Vou fazer uma citação de música de novo. Eu cito faixas que tenham algo a ver com cada tema: no primeiro post citei “The Width of A Circle”, no segundo citei “Queen Bitch”. Nesse post vou citar um dos clássicos do David Bowie: “Oh! You Pretty Things”. Essa faixa havia sido quase dada a um amigo do David, Peter Noone, que a transformou num hit. Eram épocas de vacas magras para o clã Bowie: David vendeu algumas de suas melhores composições como “All the Young Dudes”, para o Mott the Hoople e “Oh! You Pretty Things”, para Peter Noone. Motivo: faltava grana. Mas vamos a “Oh! You Pretty Things”: no título tem uma homenagem a uma banda que o David curtia, The Pretty Things e cita uma banda, The Mamas and the Papas. O que essa música tem a ver com esse post? O refrão: “Oh You Pretty Things/Don’t you know you’re driving your/Mamas and Papas insane/Let me make it plain/You gotta make way for the Homo Superior” (tradução: Oh, coisas bonitas/Vocês não sabem que estão pirando suas mães e seus pais/Me deixe esclarecer/Vocês tem que dar passagem ao Homo Superior). Um hino do glam rock. A maioria dos adolescentes piravam mesmo os seus pais para ir a um show do seu ídolo. E isso ainda não mudou, certo?

Nesse post vou falar dos shows mais marcantes da Ziggy Stardust Tour (1972/1973). Não vai dar para falar de todos. Eu ia criar umas hashtags para Facebook e Twitter inspiradas em cada um dos shows. Na legenda de cada foto tem uma hashtag que eu criei. Um exemplo: no show em Santa Monica, a hashtag é #Bowie in Santa Monica72.

Starman over the Rainbow

Em um show no Rainbow Theatre de Londres (que irônico…) em 19 de agosto de 1972, Bowie chamou uns dançarinos, The Astronettes. Na verdade deveria ser as Astronettes pois havia mais mulher do que homem. A roupa dos Astronettes é muito legalzinha: feita de rede de pesca para imitar a teia de uma aranha (os Spiders from Mars, lembra?).

Um de seus amigos (e mentor teatral de Bowie), Lindsay Kemp, trajando peruca e asas fez uma performance em “Starman”. E Bowie fez uma versão de “Starman” especialmente para esse show (cruzando com “Somewhere Over the Rainbow”, aquela música que a Dorothy canta no filme do Mágico de Oz):

“There’s a Starman
…. over the rainbow
Way up there….
Can you tell me
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children boogie….”

O cartaz do gig (abaixo) foi desenhado por George Underwood. Ele foi o grande responsável por uma das marcas registradas do David Bowie: a pupila do olho esquerdo que nunca fecha. Por causa de uma garota George meteu um murro no olho do David. O George estava com um anel. O anel acertou o olho do David em cheio. E foi assim que David Bowie ganhou seu “olho de Nefertiti, um olho que vê o visível e o outro que vê o invisível” (segundo Camille Paglia, li na biografia do Bowie de Mark Spitz). Juntando o antigo Egito com o rock dos anos 1970, é doideira? Não. Em uma foto (acho que dos anos 1990) o David aparece vestido de faraó.

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Foi o primeiro show completamente Ziggy: tinha andaime, dançarinos e pela primeira vez uma das minhas roupas favoritas da turnê foi usada. Quando verem a foto vão descobrir qual é.

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Eu queria essa roupinha. A do David. #Starman_Over_The_Rainbow

Agitando legal em Santa Monica

O que deveria ser o último show de Bowie na terra do tio Sam foi um…sucesso! Mais de crítica do que de público. Mas depois a turnê foi estendida por mais seis semanas. Foi em Los Angeles, no Santa Monica Civic Auditorium. Nesse show teve a performance mais engraçada de “Space Oddity”: na parte da contagem regressiva que sempre tem (feita por Mick Ronson) o David faz com a boca o barulho dos motores do foguete que levaria o Major Tom para o espaço. Quando ouvi isso comecei a achar graça. E o povo que tava no show também. kkkkkkkkkk!

O cara ainda erra em “Suffragette City”, se embanana todinho. Mas esse erro tá perdoado. Se até o Renato Russo errava de vez em quando a letra de “Índios”, dizia que era muito complicada… Fotos abaixo por John Levicke. A mais bonitinha é a primeira!

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Na minha opinião, as duas primeiras são as mais bonitas: David fazendo pose com o seu violão e David cantando ao lado de Mick Ronson #Bowie_in_Santa_Monica_72

Esse show foi lançado no formato de CD em 1994 em uma edição luxuosa. Tenho no computador a edição de 2008. Clique na capinha abaixo, pus um link para o meu Skydrive, onde estão todas as músicas desse show.

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“Andy Warhol looks a scream!”

No dia 28 de setembro de 1972 houve o evento social mais concorrido do ano em Nova York! Um show de David Bowie no prestigioso (e esnobe) Carnegie Hall onde os Beatles se apresentaram em 1964. Os ingressos venderam feito água, esgotaram-se em pouco tempo. O nome do show: “Fall in Love with David Bowie” (Se apaixone com David Bowie). Quando li isso comecei a rir alucinadamente.

O povo que tava lá: Truman Capote, o empresário de Bob Dylan Albert Grossman, os atores Tony Perkins e Alan Bates, Lee Radziwill (irmã de Jackie Kennedy), Andy Warhol e o pessoal do New York Dolls. E quase todos os periódicos musicais dos EUA.

O David teve somente uma troca de roupa, uma coisa rara durante a turnê.

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Quero essa roupinha! Onde tem para vender? #Fashion

Na Terra do Sol Nascente

Depois de uma turnê muito legal nos EUA, David e sua trupe foram para o outro lado do mundo! Fizeram uma pequena turnê no Japão. Kansai Yamamoto fez as nove roupinhas de palco (como eu disse no segundo post) e ainda o David teve aulas de maquiagem kabuki-style com Tomasu Boru, um dos astros do teatro japonês.

Num show dessa turnê japonesa David Bowie apareceu só de cueca (imagina levar um show inteiro só de cuecas). Não satisfeito, resolveu repetir tal feito no Reino Unido, em Glasgow, Escócia. O povo chiou. David explicou que era assim que os lutadores de sumô faziam (lembra que eu disse que ele era bastante influenciado pelo teatro japonês?). Mas o cara é magérrimo…Era uma bela provocação. Esse David Bowie…

 

The Retirement Gig

No ano de 1973 David Bowie resolveu suicidar Ziggy Stardust no palco. No fundo estava com medo de ficar doido. Então fez o seu “Retirement Gig” (Show de Aposentadoria) no palco do Hammersmith Odeon, Londres (atual Hammersmith Apollo).

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Pelo que eu vi nas fotos e nos vídeos desse show, o povo estava meio triste. O clima estava tão doido que até mesmo a famosíssima Angie deu autógrafos para os fãs. Do marido, claro!

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Quem devia estar dando autógrafos era o David, né Angie? #Angie_Bowie

O show não foi anunciado como o show da aposentadoria, foi anunciado como o último show da Ziggy Stardust Tour. Mas somente o empresário de Bowie e Mick Ronson sabiam da aposentadoria de Ziggy Stardust. Nem mesmo a Angie, que dividia a cama com o David, sabia. E o cara que anunciou:

“Ladies and Gentlemen, straight from his fantastically successful world tour, including the United States of America … Japan … now his home country… for the last time… David Bowie!” (Senhoras e senhores, diretamente de sua fantástica e bem-sucedida turnê mundial, passando pelos Estados Unidos da América… Japão… agora em seu país natal… pela última vez… David Bowie!).

O show começou e transcorreu como sempre: começou com “Hang on to Yourself”, teve montes de trocas de roupas (tanto do David quanto dos Spiders, pois as aranhas também são filhas de Deus), teve a famosa performance da caixa invisível em “The Width of A Circle”, teve um momento voz e violão com “My Death”, etc. Foi tudo normal até que o David disse o seguinte, lá para o finzinho do show:

“Everybody … this has been one of the greatest tours of our lives. I would like to thank the band … I would like to thank our road crew … I would like to thank our lighting people … Of all of the shows on this tour, this particular show will remain with us the longest (cheers from the audience) because not only is it…not only is it the last show of the tour, but its the last SHOW that WE’LL ever do. Thank you.” (Gente, essa está sendo uma das maiores turnês de nossas vidas. Eu gostaria de agradecer a banda…Gostaria de agradecer os nossos roadies… Gostaria de agradecer o pessoal da iluminação…De todos os shows dessa turnê, esse show em particular será para nós o mais longo (comemoração da plateia) porque não será só por isso… não só porque será o último show da turnê, mas porque será o último SHOW que NÓS faremos. Obrigado.)Ima082

Desenho de Mike Allred, Red Rocket 7, nº4, novembro de 1997. #Farewell Ziggy

Aquilo pegou os fãs, a banda e todo mundo de surpresa. O povo pensou que o David estava se aposentando. Por um lado, sim. Ele estava aposentando o seu personagem mais famoso, o primeiro e único roqueiro alienígena da História! Mas a verdadeira última aparição de Ziggy Stardust seria mais tarde.

O show foi gravado e editado durante 10 anos! Sim, dez anos para editar um show de uma hora e meia?! Teve um lançamento oficial em 1983 nos cinemas, em VHS e em LP. É intenso, forte, marcante. Em suma, eu achei demais! Abaixo os dois cartazes promocionais do filme. A imagem dos cartazes não é das melhores, mas fazer o que…

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No vídeo abaixo (que é o filme na íntegra!) tem toda a síntese do show e até uns momentos de pré-produção. E eu achei interessante por isso, mostrar o processo criativo. Mais interessante do que eu ficar descrevendo em detalhes é você, caro leitor, assistir.

 

Ziggy Stardust and the Spiders from Mars–The Motion Picture (dirigido por DA Pennebaker, 1982).

1980 Floor!

Depois do show conhecido como “The Retirement Gig” ainda houve outro show, o 1980 Floor Show no lendário Marquee Club (no qual os Stones se apresentaram em 1962). Esse show foi transmitido pela televisão americana num programa da NBC chamado “The Midnight Special”. Durante três dias (18, 19 e 20 de outubro de 1973) teve gravação. Parte foi feita em um estúdio, em virtude do pequeno tamanho do Marquee Club. Lá só tinha espaço para duas câmeras. Esses três dias renderam uma hora e meia que foram exibidas no “Midnight Special” em 16 de novembro de 1973. Contou com a participação dos Astronettes (não são os mesmos lá do Rainbow Theatre!), que eram ao mesmo tempo backing vocals e dançarinos. E a única Astronette era a tal da Ava Cherry, citada lá em cima.

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Nesse show foi executada só uma faixa de “Ziggy Stardust” e que não foi transmitida (Rock ‘N’ Roll Suicide que não foi transmitida em virtude de um episódio trágico em que um menino morreu tentando imitar uma performance de Alice Cooper). A maior parte do material que foi cantado saiu do disco “Pin Ups” e seria uma prévia de “Diamond Dogs” (que ainda se chamava 1984, no post que vem vou falar sobre cada um desses discos).

O momento mais legalzinho do show foi o dueto entre David Bowie e Marianne Faithful de “I Got You Babe”, de Sonny and Cher (é essa Cher que você está pensando!). Marianne era uma cantora (seu único single de sucesso foi “Sister Morphine” que os Stones fizeram um cover), na época era amante de Angela Bowie e mais tarde teria um caso com ninguém mais ninguém menos que Mick Jagger e justo na época em que o caso do Mick com o Bowie estava ‘cimentando’. Fiquei imaginando a doidice que ficou essa versão de “I Got You Babe”…Infelizmente não existe uma gravação oficial desse show, existe um bootleg (gravação) extraoficial do que rolou no show, Dollars in Drags. Seria tão legal…Enquanto escrevia, ouvia o “I Got You Babe” original. Achei no Youtube o show inteiro na íntegra!

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Marianne (a freira) e David no dueto de “I Got You Babe” #1980 Floor

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Essa é a tal capa do “Dollars in Drag” #1980 Floor

A qualidade do vídeo e da imagem não são lá essas coisas, mas tá valendo!

“You’re a rock ‘n’ roll suicide…”

Desde o “Retirement Gig” David Bowie queria acabar com as feridas que Ziggy Stardust causou tanto no seu corpo (além do corte e da cor do cabelo David raspou as sobrancelhas completamente e ficou tremendamente magro) quanto na sua alma. Tentou curá-las com cocaína. Ele manteve o corte de cabelo Ziggy até metade do ano de 1974. Esse corte ainda aparece no clipe de “Rebel Rebel”, de 1974. Deixou o vermelho até 1976 (ajudou para o filme “O Homem que Caiu na Terra”), na época de “Station to Station”, em cuja turnê pintou seus cabelos novamente de loiro e abandonou de vez as roupas espalhafatosas e se vestia de maneira simples e elegante. Mas isso é assunto para semana que vem. 092910_Davidbowie

Taí o David de “Station to Station”, na verdade é o Thin White Duke. Pessoalmente essa foto é linda, mas eu tive que corrigir a iluminação. #Station2Station

No último post oficial de “Nos Tempos da Purpurina” vou tratar dos discos da Ziggy-era: Aladdin Sane, Pin Ups, Transformer, Diamond Dogs, Station to Station e Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture Soundtrack. Pode ser que eu faça um post extra… Então…Oh, wham bam, thank you, ma’am!

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Nos tempos da purpurina parte II: Ziggy-stylo de ser

kwestPara a alegria das fashionistas (e satisfação do meu ego), vou falar um pouco (ou bastante) de moda. Além de música, “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” também envolve moda e estilo. Roupa, maquiagem e cabelo (nesse caso roupas um pouco estranhas, maquiagem exagerada e um cabelo em chamas), tudo está incluso no pacote. Também temos que incluir nesse contexto a história. Feminismo, direitos dos gays (ser homossexual deixou de ser crime no Reino Unido em 1967), hippies, tudo isso influenciou o mundo e, claro, a moda.

Foi por causa desse lance de moda que veio o nome dessa série de postagens: Nos Tempos da Purpurina. O nome original seria Glitter Times, mas eu estava com pressa. Então, saiu com o nome em português mesmo. Eu ainda ia criar uma escala, o bizarrômetro (de dá para sair no meio da rua sem ser linchado a se tiver amor à sua vida não vista isso!) mas o meu computador me deixou na mão. Não tem mais Office 2010!

Opinião pessoal: não teria coragem de sair no meio da rua com as roupas que se seguirão. O meu “Bowie-style” é Thin White Duke: minimalista ao extremo. Se bem que algumas dessas roupas, combinadas com peças básicas, dá para se sair no meio da rua sem a possibilidade de linchamento. Mas outras, não teria coragem de sair com elas (nem a pau!)…Sim, fica melhor em mim as roupas minimalistas e doentiamente elegantes do Duke. Se bem que em um show da turnê de “Station to Station” (1976) em Londres (não foi naquele show em Berlim no qual a Christiane F. cheira heroína pela primeira vez!) o David apronta essa: fez um strip-tease durante o show. Terminou o show só de cueca, de sapatos e com as famosas pulseiras nupciais (essas pulseiras serviam de aliança de casamento. Alianças originais!). O resto das coisas foram para o espaço (ou melhor, para a plateia)!

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Mas voltando à Ziggy-era… Thin White Duke fica para depois. Vou trabalhar no mesmo esquema: textos com títulos coloridos e juro que não vão ser chatos. Me desculpe se eu fugir um pouquinho do tema (vou fazer isso, vou logo avisando), é só para enriquecer o texto. A maior fonte de imagens foi o site The Ziggy Stardust Companion.

Ser um homem feminino…

Estamos no comecinho dos anos 1970. A moda era ser andrógino. Legal era ser “coluna do meio”: sexualmente indiferenciado. Meninos se vestindo de menina e meninas se vestindo de menino. Sinal dos tempos. David Bowie, ligado em moda desde sempre (o cara foi mod, tem uma foto desses tempos), também entrou de cabeça na onda da androginia junto com sua esposa Angie. Em uma foto que mostra os dois levando o filho deles para passear (coisa que todo casal normal com filho faz), o casal aparece assim: Angie vestida de papai e David vestido de mamãe. Uma completa inversão de papéis. Isso, por incrível que pareça, era verdade: Angie (que mesmo antes do casamento se vestia de homem) não tinha o menor instinto materno e pouco ligava para o filho, enquanto David fazia o papel de mãe. Casal mod total.

Antes que eu esqueça: os mods eram os moderninhos ingleses da decada de 1960. Se vestiam com terninhos, usavam botinhas Chelsea, pilotavam umas motinhas e seus rivais (os rockers) os achavam uns boiolinhas…

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Quando minha irmã que gosta de funk viu isso disse:

– Que marmota é essa?

– É o casal Bowie.

– Mas a mulher tá de homem e o homem tá de mulher? Que diabo é isso?

– Olha, não vou explicar, tá. Era moda. Ponto.

– Que moda engraçada, hein…

– Mas era moda, não discute.

Sair no meio da rua para passear com o filho no estilo “festa do cebola” (homem vestido de mulher e mulher vestida de homem). Isso era café pequeno…

Um exemplo lapidar é a contracapa de “Hunky Dory” (1971). David Bowie, adepto de um fuá básico (fuá é confusão) causou sensação com as músicas (o que é normal) e a arte do disco (que já é estranho). Com seu acessório fashion (o cigarro, na mão que aparece tem um cigarro, mesmo que não dê pra ver) e uma roupa de mamãe riponga ele mostrou que as coisas estavam “hunky dory” para o seu lado (hunky dory é uma expressão inglesa para indicar que as coisas estavam legais, que estava “tudo em cima”). Tô vendo…

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Mais bizarras ainda são as fotos da época do projeto “Arnold Corns” em que o Bowie está muito, digamos, menininha… Quando vi no documentário da BBC, eu não segurei o riso. Para disfarçar, disse para minha mãe que estava vendo um vídeo do Felipe Neto. Ela engoliu, mas estranhou o fato dos diálogos serem em inglês. Essas fotos da época do Arnold Corns são de um único ensaio, pois só houve um (o projeto não foi para frente). O Arnold Corns foi o embrião dos Spiders from Mars.

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Peguei uma nave pra Marte…

Chegou o ano de Nosso Senhor de 1972. Chegou “Ziggy Stardust”. A androginia ainda era a bola da vez. Mas esse lance de se vestir de mamãe riponga já estava fora de moda. A onda era o espaço! Gente indo para a Lua, ficando em órbita, UFOs (mais conhecidos aqui no Brasil como Óvnis, objetos voadores não-identificados), vida em outros planetas, sondas Voyager (uma das sondas foram lançadas em 1977), e coisas do gênero. Ficção científica até o meio da canela! O filme 2001 – Uma Odisseia Espacial influenciou bastante, além da Laranja Mecânica citada no post anterior.

Já que ser mamãe riponga estava fora de moda, Bowie deu uma guinada radical. Inspirado em um de seus amigos que participou do projeto Arnold Corns (Freddi Buretti) resolveu, digamos, mudar. Até Angie entrou na onda. David cortou seus longos cabelos, descoloriu e os pintou de vermelho. Deu certo: a pele pálida de Bowie combinava com o laranja. O resultado abaixo (por Suzi Fussey, cabelereira oficial da Ziggy Stardust Tour):

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E depois o tão famoso vermelho, também pelas mãos de Suzi Fussey. Essa foto de Mick Rock foi tirada na lendária Haddon Hall (da qual eu falei em Um lugar chamado Haddon Hall).

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E vou ter que falar de novo de um assunto que na nossa sociedade ainda é tabu (e para mim também, uma garota católica): sexo. Enquanto escrevia essa passagem do texto, estava ouvindo “Queen Bitch” (a única faixa do Bowie que minha irmã que curte funk gosta, de Hunky Dory, 1971). Se completa a “The Width of A Circle” que eu citei no post anterior: em “Queen Bitch” o eu-lírico é um homem que está num quarto de hotel esperando por outro homem, seu parceiro. Mas o parceiro do eu-lírico saiu com uma queen (no contexto quer dizer uma bicha, é a tradução, gente, me perdoem) e está demorando demais. O eu-lírico é muito ciumento (“Now she’s leading him on/And she’ll lay him right down/Yes, she’s leading him on/And she’ll lay him right down/But it could have been me”. Traduzindo: Agora ela o enrolando/E vai se deitar com ele/Sim, ela está o enrolando/E vai se deitar com ele/Mas podia ser eu). E esse ciúme doentio está o deixando doente. Sente um gosto estranho na boca, mas não está com gosto de nada (nem queira saber que gosto é esse). Está quase pirando e liga para um policial. Mas o que essa música tem a ver com moda, Fashion? Pouca coisa, mas tem. No refrão o eu-lírico diz que a tal “queen” está toda afrescalhada vestida com um vestido de cetim colorido, um casaco de pele e um chapéu que parece ser engraçado e o eu-lírico diz que faz melhor que isso*: (“She’s so swishy in her satin and tat/In her frock coat and bipperty-bopperty hat*/Oh God, I could do better than that”).

Estilo Ziggy de se vestir

Como a temática do disco era espacial, para Bowie unia o útil ao agradável: roupas interessantes (pareciam vindas de um planeta qualquer!) e performances intensas, que uniam rock com teatro e até mímica (vide “The Width Of A Circle”, em Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture na qual Bowie faz a famosa performance da caixa invisível que todo mímico faz e que você, caro leitor, deve ter visto em algum lugar). Principais características das roupas da turnê: coloridas ao extremo, brilhantes, e provocantes. Sim, a maior parte das roupinhas a seguir são provocativas. Lembra que abordei que era legal ser coluna do meio? No fundo, essas roupas eram uma espécie de protesto para ser vestido. Direitos dos gays, o feminismo, as guerras e a corrida espacial estavam sendo discutidos durante aqueles anos. Liberdade sexual ainda era uma espécie de tabu. O povão daqueles tempos era mais travado que a autora desse texto. No fundo Ziggy acabou salvando um pouco o mundo: o deixou um pouco mais colorido. Libertou muita gente. Mostrou que ser diferente é a coisa mais normal do mundo.

Algumas das roupinhas da “Ziggy Stardust Tour” refletem esse lance de sexo: algumas calças que ele usou são justas demais. Segundo uma reportagem da Rolling Stone de setembro de 2012 o verdadeiro propósito de calças tão “acochadas” (como minha mãe diz para roupas justas): “mostravam seu sexo como o centro do seu ser, como o foco do palco”. Não é à toa. Quando vi o clipe de “Rebel Rebel” (1974, depois de Ziggy Stardust) no qual Bowie aparece com uma calça vermelha acochada adivinha qual foi o primeiro lugar para o qual olhei…e não foi para o tapa-olho. O bizarrômetro está apitando alto!

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Nem a banda escapava. Mesmo. Os Spiders from Mars tinham um cabelinho longo e também tinham roupinhas mirabolantes (e bem mais simples, diga-se de passagem) e passavam maquiagem também, mas sofriam menos que o David. Motivo: trocas de roupa. Se com roupas normais a troca é um pesadelo, imagina essas roupas aí em cima (tem mais durante essa postagem). E o tempo de troca era corrido, que nem o tempo dessa autora para escrever as postagens (o equivalente a dez solos de guitarra seguidos, cerca de 5 minutos). David ainda tinha que retocar maquiagem, beber água (senão detonava as cordas vocais), fumar um cigarro (isso detona cordas vocais mesmo)…ufa! Acho que no fundo o David queria ser o Mick Ronson…

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E antes que eu me esqueça de novo, já que me esqueci no post anterior: “Ladies and gentlemen, David Bowie and the Spiders from Mars!”

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Da esquerda para a direita: David Bowie, Mick ‘Woody’ Woodmansey, Mick Ronson e Trevor Bolder. Deveria colocado essa sequência de fotos na postagem anterior…

Falando em Mick Ronson, o duo David e Mick (Ronson, não Jagger) era tido como perfeito: os dois praticamente se completavam, yin e yang (para o azar de Suzi Ronson e Angie Bowie). Tanto no palco quanto fora dele. Quando Bowie “saiu do armário”, Ronson foi praticamente intimado a fazer a mesma coisa, o que não fez por causa da mamãe dele. A química que os dois tinham era uma coisa de louco. Assustadora. Pensava-se que os dois haviam tido um caso durante a turnê. Tinha motivos para que os dois tivessem um caso: como ficavam muito tempo na estrada e longe de suas esposas eles não tinham com quem… você sabe. Só um ao outro…

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Ronson chegou a trabalhar com Bowie novamente em 1992 no disco Black Tie White Noise. No ano seguinte Mick Ronson morreu em decorrência do câncer.

Voltando para a moda…A primeira roupinha foi feita por um amigo de Bowie, Freddi Buretti (que era alfaiate), citado lá em cima. As roupas do início da turnê eram feitas por Natasha Korniloff. Ela fez algumas das roupas como as do show no Rainbow Teatre (do qual eu falarei no post da semana que vem) e do 1980 Floor Show. Vou ter que reprisar uma foto no post que vem. Outras que colaboraram com o guarda-roupa de Bowie foram a própria Suzi Fussey (que fazia cabelo e roupa) e até a Angela Bowie colaborava. Inclusive o macacao aberto até o umbigo da capa do disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” foi feito pela Natasha Korniloff. A maioria das peças do começo da turnê eram macacões estampados e coloridos. Bem para cima!

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Depois de uma trip crazy em Nova York o David conheceu o estilista Kansai Yamamoto. Aí a terra tremeu! Não, não teve um terremoto durante show (não que eu saiba, mas no Japão tem terremoto quase todos os dias). O estilista nipônico presenteou Bowie com duas roupas de palco (a minha tradução de costumes) que foram usadas durante a turnê americana. E teria uma turnê japonesa. Kansai fez nove roupinhas de palco para a turnê na Terra do Sol Nascente e que foram utilizadas na segunda turnê no Reino Unido. Ele radicalizou ao extremo as roupas da turnê Ziggy Stardust: uma combinação de sci-fi (a boa e velha ficção científica) e do teatro kabuki e das peças do teatro Noh (as duas manifestações artísticas são japonesas). Tipo um samurai do espaço, sei lá (que é a legenda da primeira foto). Estilo flamboyant total. A coisa mais excitante desde os Beatles.

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Que tal um calendario Ziggy Stardust? Por incrivel que pareça, realmente existiu! Em 1996 Mick Rock (fotógrafo oficial da turnê mais doida de todas!) fez isso com algumas fotos da turnê “Ziggy Stardust”. Mostra a “evolução” da turnê: dos macacões coloridos às peças mais doidas ainda. Resultado abaixo (pessoalmente eu compraria esse calendário):

Na ordem: Bowie da capa (sessão de fotos para o disco Pin Ups, 1973);Bowie de janeiro (Birmingham, março de 1972, primeiro dos shows de Bowie fotografado por Mick Rock); Bowie de fevereiro (sessões para a capa de Space Oddity, abril de 1972); Bowie de março (UK Ziggy Stardust Tour, maio de 1972); Bowie de abril (Oxford Town Hall, junho de 1972);  Bowie de maio (Beverly Hills Hotel, outubro de 1972); Bowie de junho (US Tour, outubro de 1972); Bowie de julho (Videoclipe de Space Oddity, dezembro de 1972);  Bowie de agosto (Camarim da Aladdin Sane Tour, maio de 1973); Bowie de setembro (Aladdin Sane Tour, junho de 1973);  Bowie de outubro (Leeds Rolarena, junho de 1973); Bowie de novembro (Leeds Rolarena, junho de 1973); Bowie de dezembro (1980 Floor Show, outubro de 1973).

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Só para terminar o assunto roupa: para se economizar um tempo em alguns momentos do show (ou gig, vou falar mais de gig) Bowie ficava descalço. Economizava o tempo suficiente de se fumar um cigarro. Sim, economizava pouco tempo, mas era alguma coisa. Melhor pouco tempo que tempo nenhum.

Estilo Ziggy de se maquiar

Antes de ficarem morrendo de achar graça das roupas, não podemos nos esquecer da maquiagem! Minha irmã fica rindo toda vez que eu mudo o tema do computador (meu notebook tem Aero, dá para mudar o tema). Criei um tema “Ziggy Stardust” com alguns papéis de parede de fotos que eu achei na Internet (ficou muito legal, vou postar no meu Skydrive):

— Ele tem um galo na testa?

— Quê?

— Essa parada esquisita que ele tem na testa.

— Ahh… Mulher, não sei.

O tal “galo na testa” a qual ela se referiu tem um nome: Love jewel, a joia do amor (segundo outros autores, é uma astral sphere, uma esfera astral; escolha o nome!). Influência de Calvin Mark Lee, um amigo (que havia pegado a Angie antes do Bowie). Essa tal joia do amor começou a aparecer na turnê japonesa de “Ziggy Stardust”. Como nem eu entendi direito para que serve, vamos pular para a parte da maquiagem em si.

Bowie antes de ser cantor, é ator. Tá, ele fez uns filmezinhos ruins e outros legais (Fome de Viver é massa). Aprendeu com Lindsay Kemp, um mímico abstrato e instrutor de dança técnicas de maquiagem (de mímico) e de como-se-mexer-no-palco-de-uma-maneira-mais-legal-que-o-Mick-Jagger. A maquiagem de Ziggy é inspirada tanto no teatro kabuki japonês (se você nunca viu: os atores do teatro kabuki pintam seus rostos de branco) quanto no passado de mímico de Bowie. No documentário da BBC que eu estava assistindo (David Bowie and the Story of Ziggy Stardust, de 2012) mostra um pouco essas influências. E mostra umas cenas de um filme chamado “The Image” no qual Bowie é um menino-fantasma (é, fugi do tema…); de uma peça chamada “The Looking Glass Murder” (que deve ter passado na BBC, pois a imagem era muito boa),no qual Bowie contracena com Kemp, uma propaganda e finalmente a consagração: Space Oddity.

Nas palavras do Bowie: Sou um ator. Interpreto papéis, fragmentos de mim” (1972). E sem maquiagem o personagem não vinha (ou se vinha, não vinha direito). A maquiagem era levada tão a sério que Bowie chegava antes de todo mundo (às vezes até que os fãs) só para se maquiar.

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Para ter uma ideia da complexidade da maquiagem: no fim da turnê “Ziggy Stardust” duas horas eram necessárias para ser feita. No começo da turnê o tempo de make-up era quase zero, pois era o próprio David que a fazia. E as coisas eram complicadíssimas: fazer a tal love jewel (ou astral sphere), empalidecer mais ainda o rosto já pálido de David Bowie, retocar durante o show…Ah! deveria levar qualquer maquiador ao desespero. Mas o Bowie tinha o seu próprio maquiador dos sonhos (em 1973): Pierre La Roche, da House of Arden. Ele fez a icônica e mega copiada imagem do raio na capa do disco “Aladdin Sane”. Segundo Pierre: “Ele tem um rosto perfeito para se maquiar, sabe. Ele tem traços delicados, bochechas altas e uma boca muito boa. Tenho que tomar cuidado, porque a pele dele é muito delicada e algumas das bases que eu uso são muito fortes.” (1973). E apesar de ter glitter no make-up, não tinha glitter demais. Motivo: glitter cai no olho. E se cai no olho pode atrapalhar.

Moda, moda, moda…

Essa persona artística de David Bowie foi a que mais influenciou o mundo da moda.  Um dos meus estilistas favoritos, o Alexander McQueen, tinha algumas peças influenciadas por Ziggy Stardust. O mr. McQueen fazia umas criações muito bizarras, mas muito legais.

A Lady Gaga (ela mesmo!) segundo um amigo meu no Facebook foi muito influenciada por David Bowie. É mesmo. Essa foto comprova. Principalmente na maquiagem que demora duas horas para se fazer e dois dias para se tirar.

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Em dezembro de 2011, na véspera dos 40 anos do disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” a Vogue Paris colocou Ziggy na capa. Na verdade foi a Kate Moss, mas ela estava no Ziggy-style. Até aparece uma âncora no pulso da Kate, inspirada em um clipe da época de “Aladdin Sane”. No original, a tal âncora aparece na bochechinha do David. Não acredita? Olha aí.

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Faça-você-mesmo sua roupinha de Ziggy Stardust

Agora, um projeto faça-você-mesmo. Naquele site (o The Ziggy Stardust Companion) vi um molde legal de “faça-você-mesmo-um-collant-estilo-Ziggy-Stardust” e tentei copiar. Como não sei manejar linha e agulha com precisão (é para isso que serve a máquina de costura!) e nem como trabalhar com moldes não tentei fazer sozinha. Mas é uma dica maneira. Retiradas da revista Rock Scene, agosto de 1974 páginas 54-55.

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Espero que tenham gostado dessa postagem. Deve ter sido glitter demais para vocês. Tive que digerir todas as referências citadas no texto. Do teatro kabuki japonês à ficção científica até os miolos. Da Laranja Mecânica ao Bowie-fantasma, dos sonhos elétricos à chanson francesa… mas aprendi bastante. Foi bem enriquecedora essa postagem.

Na postagem que vem de “Nos Tempos da Purpurina” vou falar dos shows da “Ziggy Stardust Tour”, de uma polêmica, de shows nos anos 1970 e muito mais. Então…Oh, wham bam, thank you, ma’am!

P.S: Notaram o nome K. West lá no começo? Ali embaixo tem um raio!

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Nos tempos da purpurina parte I: A subida e a queda de Ziggy Stardust e os Spiders from Mars

kwestEsse post é sobre um dos meus discos favoritos: “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de 1972. Juro que caprichei na postagem sobre esse disco ao extremo, me perdoem se ficar grande para caralho e ficar um pouco repetitivo, terei que dividir o texto em tópicos. Na verdade, terei que dividir em postagens. É tanta coisa que não vai caber em um texto só. Falar do disco, dos shows e do pau que rolava vai demorar bastante. Vou tratar desse disco em todo o mês de julho. Em quatro posts que prometo que serão empolgantes e farão você, caro leitor, ouvir esse disco e gostar. Nesse primeiro post da série “Nos tempos da purpurina” vou tratar do disco em si. Se você, caro leitor, estiver esperando figurinos coloridos de doer na vista, espere a postagem da semana que vem. A maior parte das imagens desse post serão em preto-e-branco.

Ziggy Stardust” (como é mais conhecido pelos fãs) é um disco conceitual de David Bowie, entra na categoria ópera-rock, e influenciou quase tudo o que veio depois. O legal do disco: apesar de não ser uma ópera-rock tão elaborada quanto “Tommy” do The Who, é igual chiclete. Gruda de uma forma tal no ouvido… Coisa que só acontece com discos bons. E como está num cantinho do disco: “To be played at the maximum volume” (Para ser tocado no volume máximo). Minha mãe e minha irmã ficam com raiva quando faço isso com esse disco (tocar no último volume). Tambem tenho direito de ouvir no último volume! Mamãe ouve Eduardo Costa e Léo Magalhães, a minha irmã ouve aqueles funks e eu fico ouvindo David Bowie até ensurdecer!

O disco foi relançado diversas vezes (1982 pela RCA, 1990 e 1994 pela RYKODISC, 1999, 2002 e 2012 pela EMI). A versão que eu estou ouvindo é a de 2002, disco duplo com direito a faixas que apareceram em outros discos como “The Man Who Sold the World” (1970) e versões alternativas de faixas como “Hang on to Yourself” e “Moonage Daydream”. Esse disco iniciou a “Ziggy-era”, que continuou com “Aladdin Sane” (1973) e o disco de covers “Pin Ups” (também de 1973), e terminou com “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture” (1983), que é o registro do último show da turnê “Ziggy Stardust”, em 3 de julho de 1973. O filme foi lançado antes (em 1973, mas foi relançado em 1983) e em 1983 o David, além de ter se separado da Angie e ficado loiro de novo, já tinha até feito parceria com Mick Jagger. No palco, não na cama!

Pra entender o magnetismo que tem nesse disco, tive que ouvir outros diversos discos. Além dos discos citados lá em cima ouvi “Bowie at the Beeb” (uma copilação de gravações na BBC feitas em 1968/1969, 1972 e 2000 escolhidas pelo David Bowie em pessoa) o disco nº 2 (2000); e “Transformer”, de Lou Reed (1972). Tive que ouvir ainda Bauhaus (os cabras fizeram uma versão de “Ziggy Stardust”, de 1982), Berlin (que fizeram uma versão ao vivo de “Suffragette City”, de 1987), Red Hot Chili Peppers (que também fizeram cover de “Suffragette City”), Nenhum de Nós (que fizeram uma versão em português para “Starman”, o clássico “O Astronauta de Mármore”), Seu Jorge (sim, ele fez um disco inteirinho só de covers do Bowie, “The Life Aquatic Studio Sessions” e o Bowie adorou!) e ia ouvir mais, mas tenho uma semana para fazer as postagens desse blog (faço duas postagens por semana, em condições normais) e o tempo hábil é corrido. Ainda vi clipes, vídeos, um documentário da BBC em inglês, perdi a final da Copa das Confederações para terminar essa postagem. E…taí.

Concluí o seguinte: esse disco, além de ter inaugurado um novo estilo (o glam rock, o rock de plumas, paetês e glitter saindo por todos os poros) pôs de volta no rock algo que estava faltando: sexo. Isso.

Enquanto escrevia essa parte do texto estava ouvindo “The Width Of A Circle” (em “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture”). O eu-lírico é um jovem gay, que não consegue se aceitar do jeito que é e se acha um monstro (dá para enxergar o David por trás desse eu-lírico, não?). Vai para um barzinho chinfrim mesmo sabendo que sua reputação vai para o espaço. Lá no bar chinfrim encontra um cara que segundo o eu-lírico “ele engoliu seu orgulho e mordeu seus lábios/E me mostrou o cinto de couro em volta de seus quadris”. O eu-lírico se sentiu assim ao ver tal cena: “Meus joelhos tremiam e minhas bochechas estavam em chamas”. Traduzindo: paixão instantânea. Os dois vão a um lugar meio cavernoso e mesmo morrendo de medo o eu-lírico se entregou ao cara que conhecera no bar. Em uma parte dessa música tem os dizeres: “His nebulous body swayed above/His tongue swollen with devil’s love/The snake and I, a venom high/I said ‘Do it again, do it again!’”, (tradução: Seu corpo nebuloso balançava-se por cima/Sua língua aumentava com um amor demoníaco/A serpente e eu, um veneno forte/Eu disse ‘Faz de novo, faz de novo!’). Obviamente essa faixa fala de sexo. Entre dois seres humanos do sexo masculino. “Ziggy Stardust” também fala de sexo. Mas não de maneira tão óbvia, só no subentendido.

Para ter uma ideia do que rolava: David Bowie ficou diversos anos sem ver os vídeos da época mais doida de sua vida. Motivo: subia no palco completamente chapado e ele jura que não se lembra de quase nada do que rolava, os outros o lembraram. O cara fazia o personagem de maneira tão convincente (vi uns vídeos, é mesmo) que assustava. No palco (e às vezes fora dele), baixava no David Ziggy Stardust com força total. Mas tudo que é bom demais também cansa. Teve uma hora que teria que ser tirada a máscara (ou maquiagem, sei lá) do rosto de Bowie. Quando li sobre isso me lembrei de um poema de Fernando Pessoa (do heterônimo Álvaro de Campos), “Tabacaria” “Quando quis tirar a máscara/Estava pegada à cara” (Fonte: Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1965. p. 362-6). David tentou tirar a máscara de Ziggy, mas estava pregada à cara. No fundo ele tinha medo de ficar doido.

ANTES DE ZIGGY, O CAOS?

O disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” foi gravado no Trident Studios, Londres (endereço completo: Trident Studios, 17 St Anne’s Court, Wardour Street, Soho, London, UK.), entre 1971 e 1972. O primeiro single, “Starman”, foi lançado cerca de um mês antes do lançamento oficial do disco e havia sido gravado em separado. Naquela época não havia internet, mas também havia vazamento de gravações. Como? Pelo rádio. Embaixo, a capa do single. E mais embaixo, o cartaz do show de lançamento.

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A capa do disco já é um espetáculo a parte. David, na época gripado até os ossos, tirou a clássica foto da capa do disco em K. West (o lugar não existe mais, infelizmente Smiley triste), Heddon Street, Londres; num frio de rachar e ainda com o macacão aberto até o umbigo, maldade. Na parte de trás, ele está abrigado em uma cabine telefônica daquelas bem antigas também em Heddon Street (já a cabine, tem uma réplica onde muito fã tira foto). Nesses tempos David Bowie ainda era David Bowie, mas havia começado a transformação de David em Ziggy. O cara tinha se livrado de seus longos cabelos (que já estavam fora de moda) e depois tingiria de vermelho. Aquele vermelho… O famoso Red Hot Red. No próximo post eu vou falar de moda e dos figurinos malucos mas cheios de estilo da turnê.

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O personagem Ziggy Stardust é inspirado em Alex, protagonista do filme “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange), de 1971. Inclusive estou lendo o livro que virou o filme (em PDF, diga-se de passagem).

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Foi tão inspirado que uma das fotos do encarte foi feita propositalmente remetendo ao filme (aquela embaixo!): David e os Spiders from Mars pareciam Alex e seus três drugues* (*seus chapas) de “Laranja Mecânica”. E a foto do presskit também remete ao filme. Uma magnífica revolta.

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O nome “Ziggy” foi inspirado em uma loja de alfaiate chamada “Ziggy’s”, mas também pode ter origem em “Iggy” (Iggy Pop) ou em “Twiggy” (modelo britânica que chegou a posar com Bowie na capa do disco “Pin Ups”, Twiggy é considerada a primeira modelo moderna). O sobrenome “Stardust” foi inspirado em um cantor americano de country, o The Legendary Stardust Cowboy, que misturava o sertanejo americano com uma temática espacial (lendo isso imaginei a Taylor Swift cantando “Space Oddity” com aquele violão prateado e uma roupa de astronauta. Ficaria legal). Inclusive David Bowie fez uma homenagem ao Legendary Stardust Cowboy com um cover no disco “Heathen” (2002), “I took a trip on a Gemini Spacecraft”.

Ziggy Stardust, o álbum, conseguiu críticas positivas, tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Ficou em 5º lugar nas paradas britânicas, mas não fez tanto sucesso nos EUA: só chegou ao 75º lugar na parada Billboard. Foi considerado pela revista Rolling Stone o 35º melhor álbum de todos os tempos na lista 500 greatest albuns of all time, de 2005.

Devo dizer que antes de ser cantor, David Bowie é ator. Unia música com teatro para encarnar com maior veracidade o personagem. E estava claro que quando David era Ziggy, era Ziggy. Chegou ao ponto de o criador ser confundido com a criatura.

London Revisited

Estamos em 1972. A Londres da época era um verdadeiro caos, parecia que o Armagedom havia chegado. Na verdade, havia motivo para achar que o fim estava próximo (desemprego, falta de perspectiva, o povo queria meter o pau na rainha e no Parlamento). Nesse contexto, cai de paraquedas Ziggy Stardust. Um ser alienígena branquelo de cabelos ruivos que ardiam na vista e que tinha uma mensagem bonita de paz e amor para a humanidade, que estava a cinco anos do fim de sua passagem na Terra. Ele espalha essa mensagem com rock’n’roll. O probleminha (lembrei do Felipe Neto agora: “Você tem probleminha…”): Ziggy se transformou de um ser espiritualizado em um ser mundano pra lá de Bagdá. O sucesso dele com a sua banda, a Spiders from Mars lhe sobe aos neurônios. Ziggy vira um cara completamente descontrolado, sexualmente promíscuo, drogado até os ossos, e com um potencial de autodestruição enorme. No fim ele morre no palco, ou melhor, se suicida no palco. Pondo fim à sua vida se redime de todos os seus erros. Lembram da postagem Quatro Vezes Você? Se relaciona a ela.

A seguir, info do disco:

Faixas (todas as faixas foram compostas por David Bowie, exceto onde for indicado por *):1. Five Years (4min04seg)2. Soul Love (3min34seg)

3. Moonage Daydream (4min37seg)

4. Starman (4min17seg)

5. It ain’t Easy (3min00seg)* (Ron Davies)

6. Lady Stardust (3min21seg)

7. Star (2min47seg)

8. Hang on to Yourself (2min39seg)

9. Ziggy Stardust (3min13seg)

10. Suffragette City (3min26seg)

11. Rock’n’roll Suicide (3min02seg)

Duração: 38min37seg
Produzido por: David Bowie & Ken Scott
Arranjos de: David Bowie & Mick Ronson

David Bowie: guitarras, saxofones & vocais
Mick Ronson: guitarras, piano & vocais
Trevor Bolder: baixo
Mick ‘Woody’ Woodmansey: bateria

Estúdio: Trident Studios, 17 St Anne’s Court, Wardour Street, Soho, London, UK.
Capa do disco & foto na cabine telefônica: Brian Ward
Arte-final: Terry Pastor da Main Artery

Na primeira parte de “Nos tempos da purpurina” vou analisar o disco em si, faixa a faixa. Se prepare, pois se você achou que terminou, está enganado.

A principal fonte de informações sobre o disco foi o site The Ziggy Stardust Companion e esse site também foi a fonte da maioria das imagens (em inglês). As músicas estão no meu Skydrive, se quiser pode baixar à vontade, juro que não vai se arrepender. As músicas estão aqui.

Os vídeos a seguir exemplificam melhor o que eu tô falando. O primeiro: “Moonage Daydream” é do famoso show conhecido como “The Retirement Gig”, em 1973. Vou falar desse show quando eu for falar dos shows. O segundo: “Queen Bitch” é anterior a “Ziggy Stardust”, mas essa execução é de 1972.

Freak out in a moonage daydream, oh yeah!

 

Pessoalmente é um das mais legais do David Bowie: “Queen Bitch”.

Como não vai caber todas as faixas aqui nesse texto, vou falar de cada uma delas em linhas gerais. E os títulos coloridos abaixo são as minhas partes favoritas de cada música. Enjoy it!

Anotação “We got fiiive years…”

O disco começa em alto estilo, com “Five Years”. Essa faixa mostra que o planeta Terra (e por extensão toda a humanidade) tem um prazo de validade: cinco anos exatos. Apesar de a música não explicar qual será a causa do aniquilamento do planeta o conteúdo da letra mostra que todo mundo é igual. Todos os seres humanos do planeta Terra estão no mesmo barco, em busca de uma salvação. Mas há uma esperança.

Anotação “Inspirations have I none…”

A segunda faixa, “Soul Love”, mostra as diversas formas de amor e suas relações entre si. “Stone Love” é o amor por quem já morreu. “New Love” é o amor romântico e sonhador. Apesar de não ser tão bela quanto o soneto nº12 de Camões essa canção mostra a verdadeira natureza desse sentimento: “Idiot love will spark the fusion” (O amor burro estimula a fusão). “Soul Love” é o amor religioso e espiritual, provavelmente o amor mais bonito que existe.

Anotação “I’ll be a rock’n’rolli’ bitch for you…”

Faixa nº3, “Moonage Daydream”. Começa aqui a saga de Ziggy Stardust. O messias é criado/revelado e sua missão é salvar a Terra do aniquilamento. É também chamado de “Soul Lover”, por sua alma pura. Essa faixa mostra a criação de Ziggy Stardust: uma combinação de religião, romance, liberdade sexual, rebelião (eram os anos 1970!) e paixão. Ele sofre uma metamorfose, se transformando em um rockstar. A música é muito difícil de se entender.

Existe uma versão da época de “Hunky Dory” (1971, antecessor de “Ziggy Stardust”) de um projeto que David Bowie havia feito, o Arnold Corns. A letra e a melodia são ligeiramente diferentes da versão presente no disco. Está na edição de 30 anos de “Ziggy Stardust” e no relançamento de “The Man Who Sold the World” (1990).

Anotação “There’s a starman waiting in the sky…”

Uma das minhas faixas favoritas. Ziggy é avisado em sonho pelos infinites (de acordo com David, saltadores de buracos negros, ficção científica até o pescoço) de que os seres humanos tem uma esperança a qual se agarrar. Então, ele escreve “Starman”, uma espécie de boa notícia. O eu-lírico dessa música é um jovem da Terra que faz contato através do seu rádio com um ser alienígena que promete a salvação do nosso planeta. Devo ressaltar duas informações: Ziggy Stardust NÃO é o Starman, que fique bem claro. E que tem um vídeo em que David e os Spiders tocam em um programa da BBC, o “Top of the Pops” que é muito legalzinho.

Anotação “It ain’t easy to get to heaven when you’re going down…”

Depois dessa faixa termina o lado A do disco (discos tinham dois lados!). Muita gente se pergunta: o que essa música tem a ver com a epopeia espacial de Ziggy Stardust, se nem do David Bowie é? Essa música nos faz retornar à Londres pré-apocalíptica e fala das coisas que um jovem pode fazer na vida. Eu gosto dessa música, escuto muito durante as minhas viagens para a chegar na faculdade. Mesmo que não tenha (quase) nada a ver com Ziggy Stardust.

Anotação “And he was alright, the band was altogether…”

Com “Lady Stardust” começamos o lado B do disco “Ziggy Stardust”. Mostra o quão maravilhoso Ziggy era no palco. Quando eu vi essa música pela primeira vez achava que a tal Lady era uma espécie de namorada do Ziggy, quando na verdade a Lady é o próprio Ziggy. No fundo é uma homenagem a um amigo/rival de David Bowie, Marc Bolan. É o auge do sucesso de Ziggy!

Anotação “I could play the wild mutation as a rock & roll star!…”

Outra das minhas favoritas. “Star” é uma espécie de ‘manifesto Ziggy’ no qual ele mostra como quer mudar o mundo influenciando a humanidade através do rock’n’roll. Reforça sua missão de alegrar a Terra e salvar os humanos antes do inevitável fim. É no estilo “carpe diem” (aproveita o dia): já que o fim está proximo, aproveita os últimos instantes no planeta Terra!

Anotação “If you think we’re gonna make it, you better hang on to yourself…”

Pessoalmente eu não entendi direito essa faixa. “Hang on to Yourself” traz de volta a figura da Lady Stardust que reza ao Sol* e distribui sonhos elétricos (she’s a tongue-twisting storm, she’ll come to the show tonight/Praying to the light machine*/She wants my honey, not my money, she’s a funky thigh-collector/Laying on electric dreams) e mostra que Ziggy não é apenas um artista interessado em ganhar dinheiro, mas que é um líder sexual (estamos nos anos 1970, esqueceu?).

Assim como “Moonage Daydream”, existe uma versão anterior a “Ziggy Stardust” de “Hang on to Yourself” também feita pelo tal Arnold Corns. Essa versão tem uma letra mais simples de se entender. É interessante. Assim como “Moonage Daydream” está na edição de 30 anos de “Ziggy Stardust” e no relançamento de “The Man Who Sold the World” (1990).

Anotação “Making love with his ego, Ziggy sucked up into his mind…”

Em “Lady Stardust” começa The Rise (a ascensão). Aqui em “Ziggy Stardust” começa The Fall (a queda). Como o sucesso subiu à cabeça de Ziggy, o pau começou a comer para o seu lado. Lembram-se que eu escrevi que ele passou de um ser espiritualizado a um ser mundano pra lá de Bagdá? O eu-lírico é alguém da banda Spiders from Mars, que narra como o monstro da fama acabou pirando o alien (monstro da fama é somente uma abstração). Metaforicamente Ziggy é morto por seus fãs e a banda acaba. Ziggy acabou pagando o preço e provando o gosto amargo do seu próprio veneno.

Anotação “You know my Suffragette City is outta sight…she’s all right…”

Outra das minhas favoritas. A queda de Ziggy se acelera. “Suffragette City” é um lugar desprezível onde todos querem se aproveitar de Ziggy, o esculacham com piadinhas de toda e qualquer espécie, e seus amigos só se aproximam para lhe pedir as coisas. Ziggy pensa que naquele lugar não há ninguém tão bom quanto ele para se manter relações (de todas as espécies, não apenas sexual) e está sozinho, entediado e não está mais curtindo o lado legal de ser star. E resolve usar a lei de Talião: já que os seus amigos se aproveitam dele, vai se aproveitar também desses amigos sanguessugas.

Anotação “I’ve had my share, I’ll help you with the pain…”

O fim, o Armagedom, o Apocalipse, chame como quiser. Chamo de “Rock’N’Roll Suicide”. Ziggy está perdido no tempo e não liga mais para nada: nem comida nem sexo. Está calmo, sabe que o fim está próximo: tanto o dele quanto o do mundo. Resolve se matar e pondo um fim em si espera acabar com seu sofrimento. Mas no fim da música pelo menos há uma esperança para acabar com a dor de Ziggy. A tradução do trecho acima diz tudo: “Tive minha cota, eu te ajudarei com a dor”.

Conclusão…#será?

Espero que vocês tenham gostado desse texto, mesmo que tenha ficado quilométrico e que seja tão empolgante para vocês quanto foi para mim. No próximo texto da série vou falar de moda e estilo Ziggy de ser. Então…“Ohhh, wham bam thank you ma’am!”.

Ao som de:… Eu já disse as faixas durante o texto.

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Um lugar chamado Haddon Hall

“Who Fucked Mick Jagger?” (Quem comeu o Mick Jagger?). Vi essa frase na camiseta do vocalista do Maroon5 no clipe de “Moves Like Jagger”. A palavra ‘fucked’ estava apagada (é um palavrão), mas eu já sabia o que era. Desde que eu comecei a curtir com mais intensidade rock das antigas essa pergunta martela minha cabeça. Eu já respondi e vou dividir as minhas conclusões a respeito desse assunto.Essa história se passa em outubro de 1973, aproximadamente. Envolve um casal 20 e um roqueiro pegador. Mas antes, vamos nos situar.

Mary Angela Barnett conheceu David Robert Jones quando ela tinha 19 anos e ele 22 (em 1969) e ela imediatamente se apaixonou por ele e ele por ela. Os dois eram fisicamente parecidos e tinham interesses em comum: ficar famosos, e coisas do gênero. Angie havia se encantado pelo “rosto de anjo caído” de David. Já o David se apaixonou pela garota que se vestia com roupas de homem. Na biografia do Bowie que eu estou lendo tem um capítulo dedicado especialmente a ela. Foi uma paixão fulminante. Tão fulminante que apenas um ano depois de terem se conhecido os dois casaram. E um ano mais tarde, os dois tinham uma criança. O roqueiro loiro inglês se apaixonou pela modelo americana nascida na ilha de Chipre. Angela passou a adotar o sobrenome artístico do marido. Entrou para os anais do rock como Angela Bowie, a única mulher do rock famosa por não ter entrado para uma banda e sim por ter várias músicas dedicadas a ela e por ter sido mulher de roqueiro. A mais famosa pode ter sido “Angie”, dos Stones (já falei dela em um post anterior, lembram-se caros leitores?). Mas a mais bonita é “The Prettiest Star”, do disco “Aladdin Sane” (1973). Angela é mais famosa que a atual do Bowie, Iman (e olhe que a Iman além de ser umas cem mil vezes mais bonita que a Angie, já fez clipe com o Michael Jackson). Motivo: Iman é um milhão de vezes mais discreta do que a Angie. Que quando se separou contou os podres do ex-marido para todo mundo.Havia um pequenino probleminha nessa linda historinha: os dois eram bi. Angela havia tido um caso com uma estudante, Lorraine, enquanto estudava nos EUA. E o David… não se sabe de casos documentados de que ele pegou algum cara antes de conhecer Angie, se sabe que ele pegou mulher. Uns acham que ele pegou o manager Kenneth Pitt. E os dois não se amavam. David não esqueceu seu primeiro grande amor, Hermione Farthingale, uma dançarina e atriz que haviam feito um espetáculo juntos. Parecia um casamento de aluguel, um contrato assinado oficialmente em março de 1970. A roupa da noiva: um vestido rosa com roxo. A roupa do noivo: um paletó enorme (provavelmente de lã, pois há as palavras shearling-trimmed, que são usadas para lã) e quatro braceletes de prata, pois não havia alianças. Estava claro que não daria certo.

Foto do casamento, em 1970.  EM NENHUMA HIPÓTESE, SE VISTA ASSIM PARA SE CASAR, DÁ MÁ-SORTE!
Foto do casamento, em 1970. EM NENHUMA HIPÓTESE, SE VISTA ASSIM PARA SE CASAR, DÁ MÁ-SORTE!
Angie tentando agradar a sogrinha, Peggy.
Angie tentando agradar a sogrinha, Peggy Jones.

A dupla ficou conhecida como A e D, adivinhe por que. Alegre. O casalzinho feliz morava em Haddon Hall, Londres. Mas infelizmente o lugar não existe mais. Foi demolido em 1975 e deu lugar a um estacionamento feio e sem graça. As fotos lá embaixo foram tiradas lá em Haddon Hall e são de Mick Rock.

love is a crazy thing

Ah, que bonitinho.... #Será?

"Staying back in your memory Are the movies in the past How you moved is all it takes To sing a song of when I loved The Prettiest Star"
“Staying back in your memory
Are the movies in the past
How you moved is all it takes
To sing a song of when I loved
The Prettiest Star”
"Cold fire, you've got everything  but cold fire You will be my rest and peace child I moved up to take a place near you"
“Cold fire, you’ve got everything
but cold fire
You will be my rest and peace child
I moved up to take a place near you”
"One day though it might  as well be someday You and I will rise up all the way All because of what you are The Prettiest Star"
“One day though it might
as well be someday
You and I will rise up all the way
All because of what you are
The Prettiest Star”

David Bowie em Haddon Hall, por Mick Rock

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Angie havia notado algo interessante e que pouca gente havia notado antes: o seu querido maridinho era fisicamente atraente tanto para rapazes quanto para moças. Se tivesse peito e bunda seria uma mulher. E aproveitou isso. Começou a vestir o maridinho com vestidos femininos e uns roupões meio esquisitos, antes o cara se vestia mod total (com uns terninhos e umas gravatinhas. Depois o cara caprichou no gliiiter!). Os exemplos mais lapidares são as capas do disco “The Man Who Sold The World”, de 1970; em que David aparece vestido com uma túnica que parece ter sido feito de uma cortina ou daquelas colchas de cama baratas, mesmo sendo de seda (abaixo) e do disco Hunky Dory, de 1971; em que o David aparece com um visual feminino, inspirado em Marlene Dietrich, uma atriz alemã que ele adorava e que parecia muito com Veronica Lake, outra atriz (mais embaixo). Quando minha irmã que gosta de funk viu as duas capas ela disse assim:

É esse aí o David Bowie? Parece uma mulher.

— É sim. Não acredita?

— Não. Ele é boiola?

— Depende do seu ponto de vista. De uma certa forma, sim. The-Man-Who-Sold-The-World hunkydory

Angela dava pitacos na carreira de Bowie e chegou a mandar despedir um dos empresários da MainMan, que administrava a carreira do David. Quando não estava cozinhando ou metendo o pau no povo que trabalhava com o marido, ela desenhava e costurava as roupas de show do marido e de sua banda.Quando eu li uma parte de uma biografia do Bowie eu ri. A banda Hype, criada para a turnê de “Space Oddity” (1969/1970), tinha uns figurinos esquisitíssimos e o povo tinha uns nicks (apelidos) meio idiotas, admito. Influência de Alice Cooper. O Bowie era o Rainbow Man (sua roupa era como um prisma com todas as cores do arco-íris, ui!), Tony Visconti (baixista) era o Hype Man (um baixista super-herói), John Cambridge (baterista) era o Cowboy Man (com direito a chapéu e franja) e Mick Ronson (guitarrista, famoso pelo episódio da quase-felação descrito anteriormente) era o bem-vestido Gangster Man. (Fonte: SPITZ, Mark. Bowie – A Biography, New York, Crown Publishers, 2010. ISBN:978-0-307-46239-8. Páginas 250 a 254, se estiver no PDF.). Tem uma edição em português da Editora Desiderata, mas eu li na versão em inglês e que pro meu azar não tem muita foto.Cadê o arco-íris?

E o carnaval não acabou. Na fase super-hiper-mega glitter do David Bowie (Ziggy Stardust total), aconteceu o episódio citado lá em cima, no primeiro parágrafo do desenvolvimento do meu texto. Vamos falar do Ziggy? Só aí arremato com a história que introduzi no começo.Em 1972 saiu “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”. Entra na categoria “disco conceitual”, como diversos trabalhos do Bowie. Conta uma historinha (que eu já contei nesse post) de um roqueiro alien com voz em falsete que pira com o sucesso que lhe sobe à cabeça e se mata, um verdadeiro Rock’n’roll Suicide. E nos shows David não era David, era Ziggy. Ponto.

“Call me Ziggy, call me Ziggy Stardust!” (Me chame de Ziggy, me chame de Ziggy Stardust!)- Bowie (1972)

 

Os shows eram episódios a parte: eram intensos ao extremo, e cheios de “fluídos” na plateia (nem queiram saber de onde vêm). E o Bowie meteu o pau com gosto de gás. Em uma entrevista para o Melody Maker (vou citar esse periódico de novo em um próximo post, aguardem!) ele admitiu o seguinte: “Eu sou gay e sempre fui, desde que era David Jones”. E arrematou com essa frase: “Não sou ridículo. Sou David Bowie”. Foi como se tivesse caído uma bomba nuclear. Ou uma bomba de purpurina. (Fonte: SPITZ, Mark. Bowie – A Biography, New York, Crown Publishers, 2010. ISBN:978-0-307-46239-8. Páginas 316 a 331, se estiver no PDF). Resumi isso tudo em um parágrafo.

oh,u pretty thing!oh,u pretty thing!2

Essa fotografia se relaciona com uma postada anteriormente. A da quase-felação.
Essa fotografia se relaciona com uma postada anteriormente. A da quase-felação.

Nessa época em que David Bowie fazia questão de admitir que era gay em todas as nuances possíveis e impossíveis dos seus ruivos cabelos, um outro roqueiro não sabia o que queria da vida. Se gostava de homem, de mulher…Mick Jagger, o pegador, começou a virar o pal (Pal é colega. Vocês devem ter pensado besteira, tipo que pal é caralho… caralho é outra coisa) de David Bowie. Ele estava se recuperando dos excessos das gravações do disco “Exile on Main St.”, de 1972. Pelo que eu soube a suruba foi tão louca que Mick Taylor (guitarrista que substituiu Brian Jones, morto em 1969), que não bebia nem vinho antes de começar a gravar saiu das gravações viciado em heroína (culpa do Keith!). A putaria deve ter sido grande na mansão do Keith Richards na Riviera francesa. Pelo que peguei na net sobre esse disco, tinha montes de garotas que não eram as esposas dos integrantes. O resultado de tamanha putaria foi um dos melhores discos da história. Depois conto com detalhes sórdidos o que deve ter rolado.Mick-Jagger-Andy-Warhol-1975Capa e contra-capa do disco Exile on Main St., de 1972.Em outubro de 1973, Angie foi viajar com uma amiga. Voltou uma manhã e foi para a cozinha fazer chá. A empregada, que havia chegado uma hora antes, avisou que havia alguém mais no quarto. Ao abrir a porta, a mulher encontrou a seguinte cena no seu “ninho de amor” ainda em Haddon Hall: deu de cara com Mick e David dormindo PE-LA-DOS. Ambos acordaram. “Oh, olá, como está você?”, perguntou Bowie. “Estou bem”, respondeu Angela, oferecendo café à dupla. “Estava na cara que eles tinham transado. Nunca considerei a possibilidade contrária”, segundo as palavras de Angie. Imaginei o que ela pensou.NADA! No livro “Backstage Passes”, lançado em 1981, em que Angie conta a maior parte dos podres do seu ex-marido (os dois se separaram em 1980 e ela conta mais podres em outro livro, “Free Spirit”) ela revela que não viu os dois tendo intercourse (palavra do inglês para relação sexual), mas pelo olhar assustado dos dois ela teve que admitir: provavelmente Mick transou com Bowie. Ou o contrário, que foi o mais provável. Ela afirma que os dois podem ter dormido na mesma cama após uma noite de bebedeiras e uso de drogas. A prova do crime.

Namoro ou amizade? Escolha!
Namoro ou amizade? Escolha!

Mas o rock é tão maluco que quase dez anos depois desse episódio o David e o Mick lançaram um single juntos: Dancing in the Street, para o Live Aid (1983). Angela Bowie (mesmo depois de separada ela manteve o sobrenome artístico e o real do ex, ela é Mary Angela Jones) em uma entrevista recente para o tabloide inglês The Sun dada neste ano (no link abaixo) contou um dado interessantíssimo: David sentia atração pelo povo que rivalizava com ele na música (na época: Marc Bolan do T-Rex, Alice Cooper, , o povo do Led Zeppelin, dos Stones, dos Beatles, do Queen, imagina esse povão todo na cama da Angie!). Angie ainda contou mais detalhes sórdidos do caso Mick and Bowie, como que a empregada riu quando ela chegou naquela manhã e disse que os dois estavam ‘se trocando’, que o Bowie estava todo coberto de almofada, provavelmente para esconder a nudez (Acho que ela só reconheceu o marido pelos cabelos Red Hot Red, que era a cor da tintura e pelo ‘snow White tan’, bronzeado branco como neve), que viu uma perna do Mick entre as almofadas do outro lado da cama (e o resto do corpo do cara, também), que os dois estavam tão bêbados que dava uma peninha. Que quando casaram ele fez questão de dizer: “Eu não te amo”, que seis semanas antes de casar encontrou com 14 pessoas com quem seu querido ex-marido havia tido, pelo menos intercouse (e tinha homem no meio), que ele só casou com ela porque queria um amparo psicológico (pouco tempo antes, o pai do David havia morrido de pneumonia). E ainda por cima ela meteu o pau no disco novo do ex, disse que estava um lixo, que desde a Trilogia de Berlim (“Heroes”, Low e Lodger) tudo que o David lançou era um completo lixo. Dor de cotovelo? Pode ser. E eu achando que três livros haviam sido o bastante para contar os podres do Bowie… Imagina se a Iman se separa e resolva engrossar a lista de podres de David Robert Jones, a.k.a David Bowie…

Pra não dizer que eu só fiquei falando da Angie, olha a Iman. Acho que ele fez uma boa escolha. (Acho não, tenho certeza!).
Pra não dizerem que eu só fiquei falando da Angie, olha a Iman. Acho que ele fez uma boa escolha. (Acho não, tenho certeza!).

Se você se interessou, tem uns sites legais. São os seguintes: Bowie Wonder World, Teenage Wildlife , The Ziggy Stardust Companion. Todos estão em inglês e dá para entender um tiquinho do que rolava no clã Bowie naqueles tempos. Mas é melhor ter um bom dicionário de inglês ou ser fluente. Mas vocês devem estar se perguntando: o que essa história tem a ver com o “Cadê a Luz do Fim do Túnel?”. Camilla descobre que seu namorado se veste de mulher. E para piorar, ele é bi.

Ao som de: “Five Years”, “Soul Love”, “Moonage daydream”, “Starman”, “It Ain’t Easy”, “Lady Stardust”, “Star”, “Hang onto Yourself”, “Ziggy Stardust”, “Suffragette City”, “Rock ‘n’ Roll Suicide” e …” The Prettiest Star” (cujos pedaços da letra eu escrevi na sequencia de fotos da Angie com o Bowie lá em cima).

Quatro Vezes Você

Já que David Bowie, um dos tiozinhos do rock que ainda está inteiro, lançou um clipe polêmico nos últimos dias: “The Next Day” (eu vi, não achei nada demais, mas foi censurado pela Liga Católica americana, pede a confirmação de idade no Youtube e tem um monte de visualizações e eu vi foi na VEVO!), vou fazer um texto desanuviando essa figura folclórica do rock. Ou melhor essas figuras folclóricas do rock. O cara era um e ao mesmo tempo era vários.

Eu estava um dia desses imaginando. Algo quase cotidiano para mim. Imaginando quatro garotas da minha classe vestidas como as  quatro principais personas artisticas do David Bowie: Major Tom,  Ziggy Stardust, Aladdin Sane e Thin White Duke. Ficou meio estranho cada uma vestida com uma particularidade de figurino, mas seria fodão. Uma vestida de astronauta, outra de roqueiro alienígena, outra de roqueiro americano com um raio no rosto e mais uma vestida de nobre decadente.

Antes que o caro leitor fique boiando, vou explicar: já ouviu falar no Fernando Pessoa? Um dos maiores poetas da língua portuguesa, que ficou famoso por seu heterônimos. Os mais famosos são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos (tem mais 121,se ficou curioso). Pois é, o David Bowie fez diversas personas, os seus heterônimos (a que ficava melhor em mim seria o Screaming Lord Byron, de 1985, que é menos conhecido. E eu estava imaginando meus cabelos pintados de roxo e minha pele meio azulada). As mais famosas são as quatro citadas lá em cima.

Primeiro, vou falar do astronauta: o Major Tom. O Major Tom é um astronauta, que foi mandado para as estrelas, por livre e espontânea vontade. Tudo estava as mil maravilhas, mas ocorre uma falha na comunicação grave, o foguete fica com problemas e a última transmissão do Major é “diga a minha esposa que eu a amo muito” e a resposta é “ela sabe”, meio que prevendo que ele não iria voltar. Tom tem  problemas com drogas, mas esse assunto é mais citado na faixa “Ashes to Ashes”, de 1981. A faixa “O Astronauta de Mármore”, da banda brasileira Nenhum de Nós descreve um pouco o astronauta chapado. Mesmo que seja de outro alterego, o Ziggy Stardust. O Major Tom apareceu pela primeira vez na faixa “Space Oddity”, de 1969. Essa música foi a trilha  sonora da chegada do homem à Lua no Reino Unido e fez o vesgo David Robert Jones famoso e virar um dos sex-symbols do rock. Rock tambem é história, folks!

“This is Major Tom to ground control
I’m stepping through the door
And I’m floating in the most peculiar way
And the stars look very different today

For here am I sitting in a tin can
Far above the world
Planet Earth is blue, and there’s nothing I can do” (David Bowie, Space Oddity, 1969).

david20bowie20-20space20oddity

Depois de dois discos sem “personagens” mas com o visual bem andrógino, quase feminino (Hunky Dory e The Man Who Sold the World, agradeçam a Angela, primeira mulher do David), vem o personagem mais famoso do David: Ziggy Stardust. Ziggy é um alienigena (de novo, o tema do espaço) que é uma espécie de mensageiro do Apocalipse. Resumindo a história: a Terra vai acabar dentro de cinco anos. Ziggy tenta avisar o povo da Terra que “o fim está próximo”. Mas  diferentemente da maioria desses “profetas do Apocalipse”, Ziggy usa o rock para espalhar essa mensagem com a sua banda, a Spiders from Mars. Mas depois o cara fica doido com o sucesso que lhe sobe à cabeça (vira um cara egocêntrico, drogado, explosivo e completamente doidão), acha que é um profeta do “Starman” (o salvador da pátria, ou melhor, do mundo), e acaba se matando. O disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” de 1972 conta a história desse roqueiro alienígena gente fina, mas que diz muito sobre a vida dos rock stars: o sucesso sobe a cabeça e leva a autodestruição. Esse texto abaixo é de uma entrevista do David Bowie para a Rolling Stone americana na época do lançamento do disco. Coloquei o texto em inglês e uma tradução que eu fiz (ué, sou estudante de Letras! Preciso fazer traduções decentes!). O curioso: depois da turnê do disco, o David demitiu toda a banda. O Ziggy não bateu as botas (botas de couro vermelhas!) e a banda dele não acabou? Então. Se não bastasse,em um show na casa de shows no Oxford Town Hall o maluco do David fez o seguinte: “se ajoelhou diante de Mick Ronson, enlaçou o traseiro do guitarrista com as mãos e puxou Ronson e sua guitarra em direção à sua boca – em uma simulação de sexo oral”(nada muito infantil) e parecia uma orgia na plateia. Mais info sobre esse episódio escandaloso: http://rollingstone.uol.com.br/edicao/edicao-74/como-ziggy-stardust-caiu-na-terra Não achei a foto na internet (ainda!). Foto abaixo.

Crianças, não façam isso em casa, sob nenhuma hipótese!
Crianças, não façam isso em casa, sob nenhuma hipótese!

“The time is five years to go before the end of the earth. It has been announced that the world will end because of lack of natural resources. Ziggy is in a position where all the kids have access to things that they thought they wanted. The older people have lost all touch with reality and the kids are left on their own to plunder anything. Ziggy was in a rock-and-roll band and the kids no longer want rock-and-roll. There’s no electricity to play it. Ziggy’s adviser tells him to collect news and sing it, ‘cause there is no news. So Ziggy does this and there is terrible news. ‘All the young dudes’ is a song about this news. It’s no hymn to the youth as people thought. It is completely the opposite. […]

The end comes when the infinites arrive. They really are a black hole, but I’ve made them people because it would be very hard to explain a black hole on stage. […]

Ziggy is advised in a dream by the infinites to write the coming of a Starman, so he writes ‘Starman’, which is the first news of hope that the people have heard. So they latch onto it immediately…The starmen that he is talking about are called the infinites, and they are black-hole jumpers. Ziggy has been talking about this amazing spaceman who will be coming down to save the earth. They arrive somewhere in Greenwich Village. They don’t have a care in the world and are of no possible use to us. They just happened to stumble into our universe by black hole jumping. Their whole life is travelling from universe to universe. In the stage show, one of them resembles Brando, another one is a Black New Yorker. I even have one called Queenie, the Infinite Fox…Now Ziggy starts to believe in all this himself and thinks himself a prophet of the future starmen. He takes himself up to the incredible spiritual heights and is kept alive by his disciples. When the infinites arrive, they take bits of Ziggy to make them real because in their original state they are anti-matter and cannot exist in our world. And they tear him to pieces on stage during the song ‘Rock ‘n’ roll suicide’. As soon as Ziggy dies on stage the infinites take his elements and make themselves visible.”

Minha tradução:

“A época é cinco anos antes do fim da Terra. Foi anunciado que o mundo iria acabar por carência de recursos naturais. Ziggy está em uma situação em que todas as crianças têm acesso às coisas do jeito que elas querem. Os mais velhos perderam todo o senso de realidade e as crianças deixam de se roubar umas as outras. Ziggy está em uma banda de rock’n’roll e as crianças não querem saber de rock’n’roll. Não há eletricidade para tocar. O assessor de Ziggy lhe diz para procurar notícias e cantá-las, pois não há notícias. Então, Ziggy faz isso e há terríveis notícias. ‘All the Young Dudes’ é uma faixa sobre essas notícias. Não é um hino sobre a juventude, como as pessoas acham. É completamente o oposto. […]

O fim chega quando the infinites (não tem tradução, nesse caso) chegam. Eles na verdade são buracos negros, mas eu os criei como pessoas porque é muito difícil explicar o que são buracos-negros no palco.

Ziggy é avisado em um sonho pelos infinites para escrever sobre a vinda de um ‘Starman’, então ele escreve ‘Starman’, que é a primeira notícia de esperança que as pessoas estavam ouvindo. Então, eles ‘sacam’ o que significa imediatamente. Os ‘starmen’ do qual ele está falando são os chamados infinites e eles são saltadores de buracos-negros. Ziggy estava falando sobre aqueles fantásticos homens do espaço que vieram para salvar a Terra. Eles aterrissam em algum lugar em Greenwich Village. Eles não ligam para esse mundo e não é possível a ajuda deles. Eles só vieram parar no nosso universo porque eles estavam “saltando buracos-negros”. A vida inteira deles é viajar de universo em universo.

No show, um deles se parece com (Marlon) Brando, outro é Black New Yorker. Tem um que se chama Queenie, the Infinite Fox. Agora Ziggy começa a acreditar em tudo de si e que pensa que é um profeta dos futuros starmen. Ele se eleva a tais alturas espirituais e é seguido por seus discípulos. Quando os starmen aparecem, eles dão mordidas em Ziggy para serem reais, já que são feitos de antimatéria e que não existe no nosso mundo. E eles o rasgam em pedaços (rasgam o Ziggy) no palco durante a faixa ‘Rock’n’roll suicide’. Assim que ele morre, os starmen pegar seus elementos e se tornam visíveis.”

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Depois desse roqueiro alien que se vestia esquisito, o David continuou com os cabelos vermelhos. Gravou o disco “Diamond Dogs” (inspirado no livro 1984, de George Orwell) em que a capa foi feita por um pintor holandês, Guy Peelaert. A capa é meio esquisita, vide foto abaixo. Digita no Google “diamond dogs” que você encontra a foto completa. A única faixa que eu gosto de verdade é “Rebel Rebel”. Minha cara. “Rebel Rebel, you’ve torn your dress/Rebel Rebel, your face is a mess/Rebel Rebel, how could they know?/ Hot tramp, I love you so!” (tradução:” Rebelde Rebelde, você rasgou seu vestido/ Rebelde Rebelde, seu rosto é uma bagaça, Rebelde Rebelde, como eles poderiam saber?/ Vagabunda gostosa, eu te amo demais!”)

Diamond dogs

E o tal Aladdin Sane, que eu passei metade da semana falando sobre ele e ninguém entendeu? Segundo o David era “Ziggy Stardust indo aos Estados Unidos” e é também uma frase (Aladdin Sane é um trocadilho com a frase “a lad insane”, um cara doidão). Não havia muita diferença entre Aladdin e Ziggy. As diferenças: Aladdin era americano (de Detroit), já Ziggy era marciano, os figurinos do Aladdin eram mais elaborados e a personalidade do ruivo de Detroit era quebrada. E o som tinha uma levada mais americana (inclusive no inglês), mas as roupas eram um episódio a parte. Nem mesmo Lady Gaga teria coragem de usar roupinhas tão doidas (cortesia da modelo Angie). Mais uma dica: se tiver se interessado, caro leitor, digite “Aladdin Sane”. O que mais marcou foi a maquiagem do raio, que representa a dualidade da mente. Traduzindo: todo mundo é um. Mas ao mesmo tempo é dois, três, quatro, 124 (no caso do Fernando Pessoa)…

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Depois de ter feito um figurino mais “normal” no disco “Young Americans” (com direito a backing vocal do John Lennon em “Fame”, a minha favorita do disco!), David Bowie, o Camaleão ataca novamente. Dessa vez, com um figurino mais normal. O Thin White Duke, apresentado ao mundo no disco “Station to Station” (de 1976), era um nobre decadente, interessado em cabala e misticismo de toda e qualquer espécie, que cantava canções de amor meio insossas. Normal, certo? Errado. O cara estava magérrimo, vivendo à base de “red peppers, cocaine and milk” (pimentas malaguetas, cocaína e leite), a paranoia estava o perseguindo e a personalidade que demonstrava em suas entrevistas era meio sombria. E o casamento com Angie estava no buraco (horrores de beijos sem paixão, chifres para os dois lados e o filho dos dois pagava o pato…). O figurino estava normal, já a cabeça dele, nem tanto. Se mandou para Berlim Ocidental e se vacilar, deve ter cruzado com uma certa Christiane F. E lançou a trilogia de Berlim (“Heroes”, Low e Lodger), junto com Brian Eno. Mas isso é assunto para um post anterior. Não analisei a soundtrack do filme da Christiane F. porque eu não sabia, só baixei há pouco tempo. Quer mais imagens? Vá a http://bowieisgod.tumblr.com/page/2 .Tem diversas fotos bacaninhas. A que eu mais curti foi a do David com sua ex-mulher Angie como dois alienígenas trabalhados no Tecnicolor, datada de 1972. Uma foto linda (não sei se  vocês vão achar o mesmo, caros leitores), mais pela forma que pelo conteúdo.

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E eu achei fodona a faixa V-2 Schneider! É, fugi do assunto. Que se foda!

Ainda sobre “Station to Station”, de tanto eu tocar lá em casa, minhas duas irmãs aprenderam o refrão. A contra-gosto, admito. Mas elas aprenderam e é isso que importa! (E a minha irmã do meio adorou o filme da Christiane F.!)

“The return of the Thin White Duke
Throwing darts
In lovers’ eyes
Here are we one magical moment
Such is the stuff from
Where dreams are woven
Bending sound
Dredging the ocean lost in my circle
Here am I
Flashing no colour tall in this room
Overlooking the ocean”  (David Bowie, Station to Station, 1976).

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E a lição do dia: todo mundo é um. E se reinventa o tempo todo.

Ao som de: Space Oddity, Starman, Panic at the Detroit,Station to Station, O Astronauta de Mármore, Marcianos Invadem a Terra…