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Nos tempos da purpurina parte IV: Um cara insano, Transformer, Pin Ups e afins

kwestNesse último post da série “Nos tempos da purpurina” vou tratar dos outros discos da “Ziggy-era”: Aladdin Sane (1973), Pin Ups (1973), Transformer (1972), Diamond Dogs (1974), Station to Station (1976) e Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture (1983). Já falei de disco, roupa e maquiagem, shows intensos e só faltava os discos relacionados. Os textos tem os títulos nas cores das capas de cada disco.

Eu ouvi cada um dos discos, sério. Aladdin Sane e Pin Ups se completam a Ziggy Stardust: Aladdin fala da loucura (o Ziggy pirou depois de um tempo, por causa do sucesso, eu disse isso na primeira parte de “Nos Tempos da Purpurina”) e Pin Ups é um disco das músicas favoritas de Bowie só que com arranjos mais arrojados e algumas versões chegam a superar as originais (exemplo: as faixas “Rosalyn”, “I can’t explain” e “I Wish you Would”), que simboliza as influências de Ziggy Stardust.

Transformer, apesar de não ser de David Bowie (é de Lou Reed) é um disco fundamental do glam rock e foi o que salvou um pouco o rock dos anos 1970. Lou Reed fez parte do Velvet Underground, uma das bandas mais influentes dos anos 1960 e uma das favoritas de David Jones (tô falando do Bowie). Depois de um primeiro disco solo massacrado pela crítica, Lou contou com a ajuda de Mick Ronson (guitarrista do Spiders from Mars) e de David Bowie para gravar alguma coisa. Ronson produziu o disco e tocou guitarra, enquanto Bowie contribuiu com os backing vocals. O resultado foi super elogiado pela crítica.

Diamond Dogs tem a temática do livro “1984” de George Orwell e deveria ser um musical. Mas já que a viúva de Orwell não aceitou ceder os direitos para a produzir a peça, com o material que tinha Bowie gravou um disco. Nesse disco vemos a imagem da Hunger City e de Halloween Jack com sua namorada num futuro cheio de “pulgas do tamanho de ratos e ratos de tamanho de gatos”. Poderia virar um musical daqueles, inesquecível, mas a Sonia vacilou…

Station to Station é completamente anti-Ziggy: mostra a última grande persona artistica de David Bowie, Thin White Duke. O Duke era o Ziggy às avessas: se vestia de maneira simples e elegante, mas era cruel e sem coração. Nas palavras de Bowie: “um super-homem ariano” (1976). Sei disso David, mas para mim é o lado preto e branco de Ziggy Stardust.

De Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture vou praticamente repetir o que falei sobre o “The Retirement Gig”.

Vai ser no mesmo esquema do primeiro post: as músicas estão no meu Skydrive. Clique na capinha de cada disco (capa, gente!) que vai para o link de cada disco no meu Skydrive. Não vou citar música, vai ficar longo e cansativo.

Aladdin Sane

Um cara insano* (Aladdin Sane é na verdade, A lad insane*). Esse disco de David Bowie é um dos mais marcantes que ele fez e não é à toa. O show começa logo na capa: a clássica imagem do raio transpassando o rosto de Bowie (maquiagem de Pierre La Roche) é uma das mais famosas imagens do rock (Admito que eu tentei fazer o raio no meu rosto, mas ficou invertido pois sou canhota). Continua no encarte. E termina no disco: com faixas com a temática da loucura e da insanidade mostra que ninguém é normal, por mais que queira parecer. Involuntariamente, esse é o disco que mais se parece com esse blog. Afinal, “ninguém é tão normal quanto parece”. Nas palavras de Bowie “É o Ziggy conhecendo a fama…um Ziggy falando sobre a América, minha interpretação do que a América significa para mim” (1973). Se você viu o primeiro post, ao ficar famoso Ziggy perdeu a sanidade. Logicamente, para Bowie (naquela época) a América é uma terra insana, de gente insana. Acho que a opinião dele não mudou muito, não. Em uma gravação mais recente (de 1997) o Bowie canta: “I’m afraid of Americans” (tenho medo dos americanos).

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Embaixo, info do disco:

Produzido por: David Bowie & Ken Scott para MainManEngenharia: Ken Scott & Mick Moran

Arranjos de: David Bowie & Mick Ronson

Staff:

David Bowie: vocais, violão, gaita, saxofones
Mick Ronson: guitarras, piano, vocais
Trevor Bolder: baixo
Mick Woodmansey: bateria
Mike Garson: piano
Ken Fordham: bux: saxofones, flautas
Juanita “Honey” Franklin / Linda Lewis / Mac Cormack: backing vocals
Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido.

Eu gosto demais das faixas “Panic at the Detroit” (tem uma levada interessantíssima), “The Prettiest Star” (essa faixa foi cantada por David pelo telefone para Angie e foi seguida por um “Do you want marry me?”, quer casar comigo?), o cover de “Let’s Spend the Night Together” dos Stones, “Time” (na qual Bowie interpreta: tem uma hora que faz uma voz aguda que é demais), “The Jean Genie” (que tem um clipe gravado nas ruas de Londres que é legal) e “Lady Grinning Soul” (a introdução no piano é maravilhosa). Inclusive no momento em que estou escrevendo esse texto estou ouvindo “Panic at Detroit”. Para mim essa faixa é wunderbar! (maravilhosa).

Pin Ups!

Apesar de ser um disco de covers, é um disco de covers que tem faixas em que a versão fica melhor que a original. É um disco ensolarado e cheio de vida, alegre da primeira a última faixa. Um outro disco de covers que eu gosto demais é “The Stonewall Celebration Concert” do Renato Russo (1994). Nesse o Renato canta suas músicas favoritas. O interessante: não soa como Legião Urbana.

Em “Pin Ups” o David e toda a sua trupe saem de Londres e vão para um castelo na França para gravar: em Chateau d’Herouville, um estúdio recomendado por Marc Bolan. E não é que o som mudou? Nesse disco há versões de músicas do The Pretty Things (Rosalyn e Don’t Bring Me Down), do Them (Here Comes the Night), do The Yardbirds (I Wish you Would e Shape of Things), do Pink Floyd (See Emily Play), do The Who (I can’t Explain e Anyway, Anyhow, Anywhere), do The Mojos (Everything’s Alright), do The Kinks (Where Have All the Good Times Gone), do The Easybeats (Friday on my Mind), do Mccoys (Sorrow, a baladinha do disco) e duas que não entraram na versão original, mas que entraram no relançamento da RYKODISC, de 1990: uma versão de Bruce Springsteen (Growin’ Up) e uma versão em inglês de uma canção do francês Jacques Brel (Port of Amsterdam). Eu ouvi as versões e as originais.

Info do disco (já tá ficando chato a pessoa inserir informações técnicas…):

Produzido por: David Bowie & Ken ScottEngenheiro de som: Denis Blackeye

Arranjos: David Bowie & Mick Ronson

Staff:
David Bowie: vocais, sax alto & tenor, guitarra, gaita, sintetizador Moog
Mick Ronson: guitarras, piano e backing vocals
Trevor Bolder: baixo
Mike Garson: grand piano, teclado, órgão & harpa
Aynsley Dunbar: bateria
Ken Fordham: sax barítono                                                                                                        
Mac Cormack: backing vocals

Estúdio: Chateau d’Herouville, França.

E como não poderia deixar de ser, a capa de qualquer disco do David Bowie dos anos 1970 é um espetáculo: Bowie aparece na capa ao lado de Twiggy, modelo britânica da qual eu falei lá no primeiro post, que pode ter inspirado o nome “Ziggy”. Fotos por Mick Rock.

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As minhas faixas favoritas desse disco são: “Rosalyn” (ficou mais legal do que a original, admito), “Here comes the Night” (música de dor de corno) “I Wish You Would” (uma versão esperta e cheia de sonoridade), “I Can’t Explain” (uma versão sexy e muito fodona), “Friday on my Mind” (o que no fundo todo mundo tem, todo mundo pensa na sexta) e “Sorrow” (momento música lenta do disco).

Tranformer

Esse disco foi o que salvou a alma de Lou Reed. Salvou mesmo, porque depois disso Lou gravou um disco conceitual: “Berlin” (1973). Mas vamos nos concentrar no Transformer (o primeiro Transformer da história!).

Em 1971 o primeiro disco solo de Lou Reed (Lou Reed) havia sido detonado pela crítica. Motivo: o som era diferente do Velvet Underground. O Velvet era super-cult, já Lou fora do Velvet era super-m….

Então Lou foi para Londres ao lado de sua namorada para gravar no lendário Trident Studios. Mick Ronson se juntou à trupe de Lou e chamou Bowie para ir junto. Mas no começo das gravações estava perto de o couro comer: Bowie e Ronson queriam de um jeito, Lou queria de outro. Mas os três se entenderam e as gravações foram às mil maravilhas.

O disco estourou e ficou entre os 30 melhores dos EUA. Foi a primeira gravação de Lou Reed a estourar. “Walk on the Wild Side”, o single do disco, foi muito tocado nas rádios. E o pessoal que trabalhou para que esse disco ganhasse vida:

Produzido por: Mick RonsonStaff:                                                                                        Lou Reed – guitarra, teclados, vocais                                                                                          Herbie Flowers – baixo, contrabaixo, tuba em “Goodnight Ladies” e “Make Up”                                                                                 Mick Ronson – guitarra, piano, flauta, vocais, arranjos de cordas*  John Halsey – bateria                                                               Ronnie Ross – saxofone barítono em “Goodnight Ladies”

Músicos Adicionais

David Bowie – backing vocals                                                 Thunderthighs – vocal de apoio                                                Barry DeSouza – bateria                                                                                         Ritchie Dharma – bateria                                                                                   Klaus Voormann – baixo                                                                                               Ken Scott – engenheiro

Estúdio: Trident Studios, Londres, Reino Unido

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Apesar de eu não ser muito fã do Lou eu gostei desse disco. Não é porque o Bowie faz os backing vocals, não! É porque é consistente e sem muita enrolação. E vai direto ao assunto. Eu gostei de “Vicious”, “Andy’s Chest” (o peito do Andy, nesse caso Andy Warhol), “New York Conversation” e, claro “Walk on the Wild Side”! Não ficou numa posição legal no 500 Greatest Albuns of All Time, da Rolling Stone, mas tá valendo.

Keep Calm, Diamond Dogs rule, OK!

Depois de um sucesso retumbante com “Aladdin Sane” David tentou novos ares. Chamou uma nova banda e queria fazer um musical inspirado em “1984” do George Orwell. Não deu. A viúva de George, Sonia Blair, não queria que a obra-prima do seu marido fosse adaptada para o teatro pelas mãos do David.

Com o material que tinha, dava para gravar um disco. Então Bowie resolveu reinventar a obra de Orwell à sua maneira. Reinventou mesmo: a Londres de “1984” virou Hunger City (muito mais doidona que Londres), Winston Smith virou o Halloween Jack, um “real coal cat” (lembrei de “Gimme Shelter”, dos Stones: “burns like a real coal carpet”) e assim por diante…

Mesmo que na capa do disco Bowie aparecesse completamente Ziggy e que Diamond Dogs ainda seja glam, prenuncia um dos movimentos mais marcantes do rock: o punk. E tome ficha técnica!

Produzido por: David Bowie, Tony Visconti e Keith HarwoodStaff:

David Bowie – vocais, violão, saxofone, sintetizador Moog , Mellotron, produtor, engenheiro de mixagem                               Earl Slick – guitarra em “Rock ‘n’ Roll with Me”                         Mike Garson – teclados                                                        Herbie Flowers – baixo                                                                                       Tony Newman – bateria                                                                                       Aynsley Dunbar – bateria                                                          Alan Parker – guitarras em “1984”

A capa, feita pelo pintor holandês Guy Pellaert, é um pouco bizarra (um pouco é ironia): na capa há duas prostitutas rindo (meio gente, meio buldogue) e na frente uma criatura meio cachorro, meio Bowie. Tá, é uma pintura, mas o original seria essa pintura só que o Bowie do jeito que veio ao mundo. S.O.S! Desculpa se tive que repetir imagem, mas é um recurso para destacar.

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As minhas faixas favoritas de “Diamond Dogs” são as seis primeiras (equivalente ao lado A): “Future Legend” é somente uma introdução falada na qual Bowie nos situa na Hunger City, controlada pela Diamond Dogs (uma espécie de Big Brother que manda em tudo). A faixa-título nos situa dentro da história, porque isso não é rock’n’roll, é genocídio* (“It’s ain’t Rock’n’roll, it’s genocide”*). “Sweet Thing”, “Candidate” e a reprise de “Sweet Thing” são três faixas inseparáveis super boas. “Rebel Rebel” é uma faixa ainda glam, cujo tema é a ambiguidade sexual (algo que o Bowie tinha bastante: era um divertido jogo de “ele é ou não é?”). Tem um disco derivado, “David Live”, lançado em 1974. Disco duplo e um pouco estranho, admito. Eu falei que o David se livrou do penteado Ziggy. Na capa de “David Live” está o resultado. Se eu tiver paciência vou fazer uma crítica mais elaborada desses dois discos.

David Live Disc 1

You drive like a demon from station 2 station

Depois de um disco de sucesso, “Young Americans” (1975) no qual até o John Lennon fez backing vocals em “Fame” e o Bowie mandou seu passado glam para o espaço resolveu dar uma de Soul Boy, e de um filme de peso (o primeiro!) “O Homem que Caiu na Terra” (1976) no qual o David faz o alienígena/homem de negócios Thomas Jerome Newton (o cara se fode legal), era hora de voltar a gravar.

Mas não temos muitas informações de como as gravações de “Station to Station” rolaram por causa do crescente vício em cocaína de Bowie que jura não se lembrar de nada das gravações. Nem mesmo o povo que trabalhou com ele lembra. E o pessoal está nessa caixinha.

Produzido por: David Bowie e Harry MaslinStaff:

David Bowie – vocais, violão,  saxofone alto e tenor, sintetizador Moog , Mellotron                                                                  Carlos Alomar – guitarra                                                                                    Roy Bittan – piano                                                                                    Dennis Davis – bateria                                                                                       George Murray – baixo                                                         Warren Peace – backing vocals                                                                                      Earl Slick – guitarra

Estúdio: Cherokee Studios, Nova York, EUA

Em “Station to Station” vemos a última grande persona artística de David Bowie ganhar vida (uma vida curta, mas é uma vida): o Thin White Duke. Um homem vazio (gelo mascarado em fogo) interessado em cabala, misticismo, até no cristianismo (durante a turnê desse disco Bowie se apresentava com um crucifixo dourado no pescoço) que cantava canções de amor insossas. Alguns acham que é uma extensão do Thomas Jerome Newton do filme que numa parte grita por sua Mary-Lou (sua amante). Muitos classificam “Station to Station” como um álbum de canções de amor. Essa persona (Thin White Duke) se tornou uma espécie de apelido para o David Bowie. A capa e a contracapa do disco remetem ao filme “O Homem que Caiu na Terra” (vi esse filme, sério!). A capa é da cena em que o Tommy mostra sua nave espacial. A contracapa mostra um dos passatempos de David durante as gravações do filme: desenhar símbolos da cabala. Muito antes da Madonna.

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Foi esse disco que me introduziu no mundo de David Bowie (a maioria entra por causa de Ziggy Stardust ou Aladdin Sane), e por isso eu gosto de quase todas as faixas. A faixa-título, apesar da introdução ser longa e meio chata, é uma das minhas favoritas de toda a discografia do David porque me fisgou de uma maneira que poucas músicas haviam feito antes (fisgou mais forte até que algumas faixas da minha banda favorita, a Legião Urbana!): é uma batalha pela alma de alguém e nesse caso é a do Duke que está em jogo. “Golden Years”, outro momento Angie (o primeiro é “The Prettiest Star”), é uma baladinha romântica, para dançar agarradinho. “TVC 15” que é sobre como um cara se sente depois de ter sua namorada raptada pela televisão holográfica é alegre, mesmo que o disco inteiro seja depressivo.

Como “Diamond Dogs” esse disco também gerou um disco derivado: “Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)”, lançado em 1982. Uma pergunta: o que a Madonna e a Christiane F tem em comum? As duas viram shows da turnê de Station to Station. Motivo: depois de um show de David Bowie da turnê de “Station to Station” enquanto a Madonna virou a Madonna, Christiane F. cheirou heroína pela primeira vez. E porque eu disse que a trilha sonora de “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada, prostituída…” é derivada de “Station to Station”? Três das seis faixas desse disco entraram na trilha sonora do filme: Station to Station (em uma versão ao vivo, já que a música é citada no livro), TVC 15 (a versão do single, um pouco mais curta que a do disco) e Stay (que nem aparece direito no filme). O disco tem duas capas, acho mais legal a segunda, que está aí embaixo.

Christiane F.: Wir Kinder vom Bahnhof Zoo (Soundtrack from the Motion Picture)

Farewell Ziggy

O último suspiro de Ziggy Stardust foi dado no Hammersmith Odeon em 1973 (falei no post anterior, né?). Mas o registro em áudio do show foi lançado oficialmente somente em 1983 junto com a versão em VHS do show. Em 2003 o filme foi relançado em DVD junto com uma edição em CD. O audio havia sido lançado antes em um bootleg, “His Master’s Voice”.

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O disco deveria ser lançado antes (em 1974) mas por causa de “Diamond Dogs” e “David Live” (primeiro registro ao vivo de algum show do David Bowie) foi lançado mais tarde. Motivo alegado: a qualidade do som não era das melhores. Tiveram que dar uma editada no material em estúdio. E tiveram que editar de novo em 2003.

Produzido por: David Bowie, Mike Moran e Tony Visconti           Ken Scott – engenheiro de gravaçãoStaff:

David Bowie – violão, vocais, saxofone, gaita                            Mick Ronson – guitarra base, baixo, vocais de apoio                Trevor Bolder – baixo                                                                                      Mick Woodmansey – bateria                                                     Mike Garson – piano, Mellotron, órgão                                       Ken Fordham – saxofone alto, tenor e barítono                         John Hutchinson – guitarra rítmica, backing vocals                                                                                           Brian Wilshaw – saxofone tenor, flauta                                      Geoffrey MacCormack – backing vocals, percussão

A capa do disco não poderia ser feita hoje em dia: mostra Bowie fumando. Ele tinha feito essa cena do cigarro em outras capas como em Young Americans (1975) e na coletânea Changestwobowie (1982). Logo no começo do filme mostra o take do cigarro que entrou na capa, que é na parte do David se preparando para o show. A contracapa do DVD é mais legal. Mostra uma sequência de 16 fotos em que o David aparece fumando nas quatro primeiras e as outras são consumidas pelo fogo que sai do seu cigarro. A contracapa do disco mostra uma das últimas fotos, completamente consumida pelas chamas.

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Com um set misturando os maiores hits de Bowie até então e faixas de “Ziggy Stardust”, “Aladdin Sane” e covers de Lou Reed, dos Stones e de Jacques Brel, Ziggy Stardust se despediu.

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Eu devia ter colocado essa imagem no post anterior, mea culpa…#Farewell Ziggy

As minhas favoritas desse disco são “Hang on to Yourself” (mais animado que o Aquecimento das Maravilhas), “Ziggy Stardust” (no show tem a troca de roupa mais ligeira da turnê e feita no palco!), “Wild Eyed Boy From Freecloud/All the Young Dudes/Oh! You Pretty Things” (um medley dos mais legais do disco), “Space Oddity” (eu comecei a chorar nessa parte), “Width of a Circle” (no qual tem a performance de mímica), “Suffragette City” (uma das minhas favoritas de qualquer jeito!), e “Rock ‘n’ Roll Suicide” (que eu chorei de novo).

Vai ter um post bootleg que é como seria se Ziggy Stardust tivesse acontecido hoje em dia. E o processo criativo das postagens da série “Nos Tempos da Purpurina” com todas as fontes que pesquisei para compor a primeira série do Longe D+. Os outros discos do David Bowie que vem antes de “Ziggy Stardust”, os vídeos que assisti, e minhas impressões sobre esse trabalho do “The Actor”. Então…Oh, wham bam, thank you, ma’am!

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Nos tempos da purpurina parte I: A subida e a queda de Ziggy Stardust e os Spiders from Mars

kwestEsse post é sobre um dos meus discos favoritos: “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”, de 1972. Juro que caprichei na postagem sobre esse disco ao extremo, me perdoem se ficar grande para caralho e ficar um pouco repetitivo, terei que dividir o texto em tópicos. Na verdade, terei que dividir em postagens. É tanta coisa que não vai caber em um texto só. Falar do disco, dos shows e do pau que rolava vai demorar bastante. Vou tratar desse disco em todo o mês de julho. Em quatro posts que prometo que serão empolgantes e farão você, caro leitor, ouvir esse disco e gostar. Nesse primeiro post da série “Nos tempos da purpurina” vou tratar do disco em si. Se você, caro leitor, estiver esperando figurinos coloridos de doer na vista, espere a postagem da semana que vem. A maior parte das imagens desse post serão em preto-e-branco.

Ziggy Stardust” (como é mais conhecido pelos fãs) é um disco conceitual de David Bowie, entra na categoria ópera-rock, e influenciou quase tudo o que veio depois. O legal do disco: apesar de não ser uma ópera-rock tão elaborada quanto “Tommy” do The Who, é igual chiclete. Gruda de uma forma tal no ouvido… Coisa que só acontece com discos bons. E como está num cantinho do disco: “To be played at the maximum volume” (Para ser tocado no volume máximo). Minha mãe e minha irmã ficam com raiva quando faço isso com esse disco (tocar no último volume). Tambem tenho direito de ouvir no último volume! Mamãe ouve Eduardo Costa e Léo Magalhães, a minha irmã ouve aqueles funks e eu fico ouvindo David Bowie até ensurdecer!

O disco foi relançado diversas vezes (1982 pela RCA, 1990 e 1994 pela RYKODISC, 1999, 2002 e 2012 pela EMI). A versão que eu estou ouvindo é a de 2002, disco duplo com direito a faixas que apareceram em outros discos como “The Man Who Sold the World” (1970) e versões alternativas de faixas como “Hang on to Yourself” e “Moonage Daydream”. Esse disco iniciou a “Ziggy-era”, que continuou com “Aladdin Sane” (1973) e o disco de covers “Pin Ups” (também de 1973), e terminou com “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture” (1983), que é o registro do último show da turnê “Ziggy Stardust”, em 3 de julho de 1973. O filme foi lançado antes (em 1973, mas foi relançado em 1983) e em 1983 o David, além de ter se separado da Angie e ficado loiro de novo, já tinha até feito parceria com Mick Jagger. No palco, não na cama!

Pra entender o magnetismo que tem nesse disco, tive que ouvir outros diversos discos. Além dos discos citados lá em cima ouvi “Bowie at the Beeb” (uma copilação de gravações na BBC feitas em 1968/1969, 1972 e 2000 escolhidas pelo David Bowie em pessoa) o disco nº 2 (2000); e “Transformer”, de Lou Reed (1972). Tive que ouvir ainda Bauhaus (os cabras fizeram uma versão de “Ziggy Stardust”, de 1982), Berlin (que fizeram uma versão ao vivo de “Suffragette City”, de 1987), Red Hot Chili Peppers (que também fizeram cover de “Suffragette City”), Nenhum de Nós (que fizeram uma versão em português para “Starman”, o clássico “O Astronauta de Mármore”), Seu Jorge (sim, ele fez um disco inteirinho só de covers do Bowie, “The Life Aquatic Studio Sessions” e o Bowie adorou!) e ia ouvir mais, mas tenho uma semana para fazer as postagens desse blog (faço duas postagens por semana, em condições normais) e o tempo hábil é corrido. Ainda vi clipes, vídeos, um documentário da BBC em inglês, perdi a final da Copa das Confederações para terminar essa postagem. E…taí.

Concluí o seguinte: esse disco, além de ter inaugurado um novo estilo (o glam rock, o rock de plumas, paetês e glitter saindo por todos os poros) pôs de volta no rock algo que estava faltando: sexo. Isso.

Enquanto escrevia essa parte do texto estava ouvindo “The Width Of A Circle” (em “Ziggy Stardust and the Spiders from Mars – The Motion Picture”). O eu-lírico é um jovem gay, que não consegue se aceitar do jeito que é e se acha um monstro (dá para enxergar o David por trás desse eu-lírico, não?). Vai para um barzinho chinfrim mesmo sabendo que sua reputação vai para o espaço. Lá no bar chinfrim encontra um cara que segundo o eu-lírico “ele engoliu seu orgulho e mordeu seus lábios/E me mostrou o cinto de couro em volta de seus quadris”. O eu-lírico se sentiu assim ao ver tal cena: “Meus joelhos tremiam e minhas bochechas estavam em chamas”. Traduzindo: paixão instantânea. Os dois vão a um lugar meio cavernoso e mesmo morrendo de medo o eu-lírico se entregou ao cara que conhecera no bar. Em uma parte dessa música tem os dizeres: “His nebulous body swayed above/His tongue swollen with devil’s love/The snake and I, a venom high/I said ‘Do it again, do it again!’”, (tradução: Seu corpo nebuloso balançava-se por cima/Sua língua aumentava com um amor demoníaco/A serpente e eu, um veneno forte/Eu disse ‘Faz de novo, faz de novo!’). Obviamente essa faixa fala de sexo. Entre dois seres humanos do sexo masculino. “Ziggy Stardust” também fala de sexo. Mas não de maneira tão óbvia, só no subentendido.

Para ter uma ideia do que rolava: David Bowie ficou diversos anos sem ver os vídeos da época mais doida de sua vida. Motivo: subia no palco completamente chapado e ele jura que não se lembra de quase nada do que rolava, os outros o lembraram. O cara fazia o personagem de maneira tão convincente (vi uns vídeos, é mesmo) que assustava. No palco (e às vezes fora dele), baixava no David Ziggy Stardust com força total. Mas tudo que é bom demais também cansa. Teve uma hora que teria que ser tirada a máscara (ou maquiagem, sei lá) do rosto de Bowie. Quando li sobre isso me lembrei de um poema de Fernando Pessoa (do heterônimo Álvaro de Campos), “Tabacaria” “Quando quis tirar a máscara/Estava pegada à cara” (Fonte: Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro, Aguilar, 1965. p. 362-6). David tentou tirar a máscara de Ziggy, mas estava pregada à cara. No fundo ele tinha medo de ficar doido.

ANTES DE ZIGGY, O CAOS?

O disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars” foi gravado no Trident Studios, Londres (endereço completo: Trident Studios, 17 St Anne’s Court, Wardour Street, Soho, London, UK.), entre 1971 e 1972. O primeiro single, “Starman”, foi lançado cerca de um mês antes do lançamento oficial do disco e havia sido gravado em separado. Naquela época não havia internet, mas também havia vazamento de gravações. Como? Pelo rádio. Embaixo, a capa do single. E mais embaixo, o cartaz do show de lançamento.

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A capa do disco já é um espetáculo a parte. David, na época gripado até os ossos, tirou a clássica foto da capa do disco em K. West (o lugar não existe mais, infelizmente Smiley triste), Heddon Street, Londres; num frio de rachar e ainda com o macacão aberto até o umbigo, maldade. Na parte de trás, ele está abrigado em uma cabine telefônica daquelas bem antigas também em Heddon Street (já a cabine, tem uma réplica onde muito fã tira foto). Nesses tempos David Bowie ainda era David Bowie, mas havia começado a transformação de David em Ziggy. O cara tinha se livrado de seus longos cabelos (que já estavam fora de moda) e depois tingiria de vermelho. Aquele vermelho… O famoso Red Hot Red. No próximo post eu vou falar de moda e dos figurinos malucos mas cheios de estilo da turnê.

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O personagem Ziggy Stardust é inspirado em Alex, protagonista do filme “Laranja Mecânica” (A Clockwork Orange), de 1971. Inclusive estou lendo o livro que virou o filme (em PDF, diga-se de passagem).

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Foi tão inspirado que uma das fotos do encarte foi feita propositalmente remetendo ao filme (aquela embaixo!): David e os Spiders from Mars pareciam Alex e seus três drugues* (*seus chapas) de “Laranja Mecânica”. E a foto do presskit também remete ao filme. Uma magnífica revolta.

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O nome “Ziggy” foi inspirado em uma loja de alfaiate chamada “Ziggy’s”, mas também pode ter origem em “Iggy” (Iggy Pop) ou em “Twiggy” (modelo britânica que chegou a posar com Bowie na capa do disco “Pin Ups”, Twiggy é considerada a primeira modelo moderna). O sobrenome “Stardust” foi inspirado em um cantor americano de country, o The Legendary Stardust Cowboy, que misturava o sertanejo americano com uma temática espacial (lendo isso imaginei a Taylor Swift cantando “Space Oddity” com aquele violão prateado e uma roupa de astronauta. Ficaria legal). Inclusive David Bowie fez uma homenagem ao Legendary Stardust Cowboy com um cover no disco “Heathen” (2002), “I took a trip on a Gemini Spacecraft”.

Ziggy Stardust, o álbum, conseguiu críticas positivas, tanto pela forma quanto pelo conteúdo. Ficou em 5º lugar nas paradas britânicas, mas não fez tanto sucesso nos EUA: só chegou ao 75º lugar na parada Billboard. Foi considerado pela revista Rolling Stone o 35º melhor álbum de todos os tempos na lista 500 greatest albuns of all time, de 2005.

Devo dizer que antes de ser cantor, David Bowie é ator. Unia música com teatro para encarnar com maior veracidade o personagem. E estava claro que quando David era Ziggy, era Ziggy. Chegou ao ponto de o criador ser confundido com a criatura.

London Revisited

Estamos em 1972. A Londres da época era um verdadeiro caos, parecia que o Armagedom havia chegado. Na verdade, havia motivo para achar que o fim estava próximo (desemprego, falta de perspectiva, o povo queria meter o pau na rainha e no Parlamento). Nesse contexto, cai de paraquedas Ziggy Stardust. Um ser alienígena branquelo de cabelos ruivos que ardiam na vista e que tinha uma mensagem bonita de paz e amor para a humanidade, que estava a cinco anos do fim de sua passagem na Terra. Ele espalha essa mensagem com rock’n’roll. O probleminha (lembrei do Felipe Neto agora: “Você tem probleminha…”): Ziggy se transformou de um ser espiritualizado em um ser mundano pra lá de Bagdá. O sucesso dele com a sua banda, a Spiders from Mars lhe sobe aos neurônios. Ziggy vira um cara completamente descontrolado, sexualmente promíscuo, drogado até os ossos, e com um potencial de autodestruição enorme. No fim ele morre no palco, ou melhor, se suicida no palco. Pondo fim à sua vida se redime de todos os seus erros. Lembram da postagem Quatro Vezes Você? Se relaciona a ela.

A seguir, info do disco:

Faixas (todas as faixas foram compostas por David Bowie, exceto onde for indicado por *):1. Five Years (4min04seg)2. Soul Love (3min34seg)

3. Moonage Daydream (4min37seg)

4. Starman (4min17seg)

5. It ain’t Easy (3min00seg)* (Ron Davies)

6. Lady Stardust (3min21seg)

7. Star (2min47seg)

8. Hang on to Yourself (2min39seg)

9. Ziggy Stardust (3min13seg)

10. Suffragette City (3min26seg)

11. Rock’n’roll Suicide (3min02seg)

Duração: 38min37seg
Produzido por: David Bowie & Ken Scott
Arranjos de: David Bowie & Mick Ronson

David Bowie: guitarras, saxofones & vocais
Mick Ronson: guitarras, piano & vocais
Trevor Bolder: baixo
Mick ‘Woody’ Woodmansey: bateria

Estúdio: Trident Studios, 17 St Anne’s Court, Wardour Street, Soho, London, UK.
Capa do disco & foto na cabine telefônica: Brian Ward
Arte-final: Terry Pastor da Main Artery

Na primeira parte de “Nos tempos da purpurina” vou analisar o disco em si, faixa a faixa. Se prepare, pois se você achou que terminou, está enganado.

A principal fonte de informações sobre o disco foi o site The Ziggy Stardust Companion e esse site também foi a fonte da maioria das imagens (em inglês). As músicas estão no meu Skydrive, se quiser pode baixar à vontade, juro que não vai se arrepender. As músicas estão aqui.

Os vídeos a seguir exemplificam melhor o que eu tô falando. O primeiro: “Moonage Daydream” é do famoso show conhecido como “The Retirement Gig”, em 1973. Vou falar desse show quando eu for falar dos shows. O segundo: “Queen Bitch” é anterior a “Ziggy Stardust”, mas essa execução é de 1972.

Freak out in a moonage daydream, oh yeah!

 

Pessoalmente é um das mais legais do David Bowie: “Queen Bitch”.

Como não vai caber todas as faixas aqui nesse texto, vou falar de cada uma delas em linhas gerais. E os títulos coloridos abaixo são as minhas partes favoritas de cada música. Enjoy it!

Anotação “We got fiiive years…”

O disco começa em alto estilo, com “Five Years”. Essa faixa mostra que o planeta Terra (e por extensão toda a humanidade) tem um prazo de validade: cinco anos exatos. Apesar de a música não explicar qual será a causa do aniquilamento do planeta o conteúdo da letra mostra que todo mundo é igual. Todos os seres humanos do planeta Terra estão no mesmo barco, em busca de uma salvação. Mas há uma esperança.

Anotação “Inspirations have I none…”

A segunda faixa, “Soul Love”, mostra as diversas formas de amor e suas relações entre si. “Stone Love” é o amor por quem já morreu. “New Love” é o amor romântico e sonhador. Apesar de não ser tão bela quanto o soneto nº12 de Camões essa canção mostra a verdadeira natureza desse sentimento: “Idiot love will spark the fusion” (O amor burro estimula a fusão). “Soul Love” é o amor religioso e espiritual, provavelmente o amor mais bonito que existe.

Anotação “I’ll be a rock’n’rolli’ bitch for you…”

Faixa nº3, “Moonage Daydream”. Começa aqui a saga de Ziggy Stardust. O messias é criado/revelado e sua missão é salvar a Terra do aniquilamento. É também chamado de “Soul Lover”, por sua alma pura. Essa faixa mostra a criação de Ziggy Stardust: uma combinação de religião, romance, liberdade sexual, rebelião (eram os anos 1970!) e paixão. Ele sofre uma metamorfose, se transformando em um rockstar. A música é muito difícil de se entender.

Existe uma versão da época de “Hunky Dory” (1971, antecessor de “Ziggy Stardust”) de um projeto que David Bowie havia feito, o Arnold Corns. A letra e a melodia são ligeiramente diferentes da versão presente no disco. Está na edição de 30 anos de “Ziggy Stardust” e no relançamento de “The Man Who Sold the World” (1990).

Anotação “There’s a starman waiting in the sky…”

Uma das minhas faixas favoritas. Ziggy é avisado em sonho pelos infinites (de acordo com David, saltadores de buracos negros, ficção científica até o pescoço) de que os seres humanos tem uma esperança a qual se agarrar. Então, ele escreve “Starman”, uma espécie de boa notícia. O eu-lírico dessa música é um jovem da Terra que faz contato através do seu rádio com um ser alienígena que promete a salvação do nosso planeta. Devo ressaltar duas informações: Ziggy Stardust NÃO é o Starman, que fique bem claro. E que tem um vídeo em que David e os Spiders tocam em um programa da BBC, o “Top of the Pops” que é muito legalzinho.

Anotação “It ain’t easy to get to heaven when you’re going down…”

Depois dessa faixa termina o lado A do disco (discos tinham dois lados!). Muita gente se pergunta: o que essa música tem a ver com a epopeia espacial de Ziggy Stardust, se nem do David Bowie é? Essa música nos faz retornar à Londres pré-apocalíptica e fala das coisas que um jovem pode fazer na vida. Eu gosto dessa música, escuto muito durante as minhas viagens para a chegar na faculdade. Mesmo que não tenha (quase) nada a ver com Ziggy Stardust.

Anotação “And he was alright, the band was altogether…”

Com “Lady Stardust” começamos o lado B do disco “Ziggy Stardust”. Mostra o quão maravilhoso Ziggy era no palco. Quando eu vi essa música pela primeira vez achava que a tal Lady era uma espécie de namorada do Ziggy, quando na verdade a Lady é o próprio Ziggy. No fundo é uma homenagem a um amigo/rival de David Bowie, Marc Bolan. É o auge do sucesso de Ziggy!

Anotação “I could play the wild mutation as a rock & roll star!…”

Outra das minhas favoritas. “Star” é uma espécie de ‘manifesto Ziggy’ no qual ele mostra como quer mudar o mundo influenciando a humanidade através do rock’n’roll. Reforça sua missão de alegrar a Terra e salvar os humanos antes do inevitável fim. É no estilo “carpe diem” (aproveita o dia): já que o fim está proximo, aproveita os últimos instantes no planeta Terra!

Anotação “If you think we’re gonna make it, you better hang on to yourself…”

Pessoalmente eu não entendi direito essa faixa. “Hang on to Yourself” traz de volta a figura da Lady Stardust que reza ao Sol* e distribui sonhos elétricos (she’s a tongue-twisting storm, she’ll come to the show tonight/Praying to the light machine*/She wants my honey, not my money, she’s a funky thigh-collector/Laying on electric dreams) e mostra que Ziggy não é apenas um artista interessado em ganhar dinheiro, mas que é um líder sexual (estamos nos anos 1970, esqueceu?).

Assim como “Moonage Daydream”, existe uma versão anterior a “Ziggy Stardust” de “Hang on to Yourself” também feita pelo tal Arnold Corns. Essa versão tem uma letra mais simples de se entender. É interessante. Assim como “Moonage Daydream” está na edição de 30 anos de “Ziggy Stardust” e no relançamento de “The Man Who Sold the World” (1990).

Anotação “Making love with his ego, Ziggy sucked up into his mind…”

Em “Lady Stardust” começa The Rise (a ascensão). Aqui em “Ziggy Stardust” começa The Fall (a queda). Como o sucesso subiu à cabeça de Ziggy, o pau começou a comer para o seu lado. Lembram-se que eu escrevi que ele passou de um ser espiritualizado a um ser mundano pra lá de Bagdá? O eu-lírico é alguém da banda Spiders from Mars, que narra como o monstro da fama acabou pirando o alien (monstro da fama é somente uma abstração). Metaforicamente Ziggy é morto por seus fãs e a banda acaba. Ziggy acabou pagando o preço e provando o gosto amargo do seu próprio veneno.

Anotação “You know my Suffragette City is outta sight…she’s all right…”

Outra das minhas favoritas. A queda de Ziggy se acelera. “Suffragette City” é um lugar desprezível onde todos querem se aproveitar de Ziggy, o esculacham com piadinhas de toda e qualquer espécie, e seus amigos só se aproximam para lhe pedir as coisas. Ziggy pensa que naquele lugar não há ninguém tão bom quanto ele para se manter relações (de todas as espécies, não apenas sexual) e está sozinho, entediado e não está mais curtindo o lado legal de ser star. E resolve usar a lei de Talião: já que os seus amigos se aproveitam dele, vai se aproveitar também desses amigos sanguessugas.

Anotação “I’ve had my share, I’ll help you with the pain…”

O fim, o Armagedom, o Apocalipse, chame como quiser. Chamo de “Rock’N’Roll Suicide”. Ziggy está perdido no tempo e não liga mais para nada: nem comida nem sexo. Está calmo, sabe que o fim está próximo: tanto o dele quanto o do mundo. Resolve se matar e pondo um fim em si espera acabar com seu sofrimento. Mas no fim da música pelo menos há uma esperança para acabar com a dor de Ziggy. A tradução do trecho acima diz tudo: “Tive minha cota, eu te ajudarei com a dor”.

Conclusão…#será?

Espero que vocês tenham gostado desse texto, mesmo que tenha ficado quilométrico e que seja tão empolgante para vocês quanto foi para mim. No próximo texto da série vou falar de moda e estilo Ziggy de ser. Então…“Ohhh, wham bam thank you ma’am!”.

Ao som de:… Eu já disse as faixas durante o texto.

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