Eu não parei de escrever a história da Camilla, não! Nesse texto os pais de Camilla voltam, acompanhados da menina Rosie, tem uma briga feia entre Camilla e Sílvia.
“Uma semana depois, na velha casa da família Brandão era o aniversário de Camilla. Até os avós entraram no clima da comemoração. Seu José estava de senador romano e dona Fátima estava de bruxa. Os dois e a netinha fizeram a arrumação.
A menina demorou uma hora para trocar a sua roupa. O macacão não era muito complicado de se vestir. O problema seria o penteado. O penteado que ela tinha visto na Internet, chamado de Tempestade Solar, era muito complicado: era um rabo-de-cavalo em que as pontas do cabelo estavam completamente arrepiadas e levantadas. Parecia um Sol, só que ficaria em preto e roxo.
Com muito laquê e gel o penteado estava pronto. Camilla fez toda a Tempestade Solar sozinha. A menina ainda pôs uma nuvem de purpurina rosa nos longos cabelos pretos com mechas roxas. E ainda com muita maquiagem: em tons de azul, roxo, verde, rosa e branco. Ela sabia se maquiar. Parecia uma galáxia de poeira estelar.
— Sou a primeira astronauta do Universo a ir para o espaço com quilos de maquiagem no rosto, com um penteado esquisito e com quilos de purpurina nos cabelos. Inclusive meu cabelo tá pesando… Mas ele venceu a lei da gravidade, ainda bem! Espero que aguente até a hora dos “Parabéns”!
Camilla foi de astronauta. A roupa não incluía capacete, somente macacão. Seu longo cabelo cheio de mechas roxas estava amarrado de uma maneira que parecia que estava em uma tempestade. Uma tempestade em roxo e preto e com purpurina rosa.
Pouco a pouco a turma chegava. Primeiro veio Luciano com Natália. Luciano tinha se vestido de Renato Russo, com direito a roupa, óculos e barba. Natália foi vestida de pin-up, com um micro vestido floral.
— Feliz aniversário, Camilla! — disse Luciano, cumprimentando sua namorada com um demorado beijo. A barba estava pinicando no rosto de Camilla.
— Obrigada, amorzinho! — agradeceu Camilla, esfregando o rosto.
— Feliz aniversário, amiga! — disse Natália, dando um abraço. — Quebrei o meu cofrinho com as minhas economias para comprar o seu presente.
— Valeu! — agradeceu Camilla.
Mais tarde chegaram Levi e Angela. Vieram combinando: Levi foi de David Bowie e Angela foi de Angela Bowie. Pegaram a capa do livro que Milla emprestara a Angie e resolveram imitar. Os dois cumprimentaram a aniversariante.
— Feliz aniversário, Camilla! Muitos anos de vida! — disse Levi.
— É, Camilla! Você merece muitos anos de vida! — continuou Angela.
— Agora eu sei por que você não quis me devolver o livro. Para ficar na foto igual a tua xará, não? — disse Milla. — Toma cuidado, vai que ele te troca por um Mick Jagger….
As duas riram.
Depois chegou Anabela, com a mãe, dona Laura. A menina veio com uma roupa inspirada em Alice no País das Maravilhas. Até a bengala que usava estava no clima: toda colorida.
— Feliz aniversário, Camilla! Que Deus sempre guie seus passos! — disse Ana.
— Muitos anos de vida para você, Camilla! — disse dona Laura. — Trouxemos algo que você vai gostar!
— Obrigada, dona Laura.
Eram nove da noite. A casa estava cheia de gente.
Começou a festa. Como a aniversariante adorava rock clássico, era somente isso que tocava. Uma mistura interessante: tocava de Beatles a Led Zeppelin, passando por Rolling Stones, David Bowie, Joy Divison, Smiths, Queen e outras coisas. Um playlist escolhido pela própria Camilla.
Em uma mesa tinha diversos doces e salgados: muitos brigadeiros, beijinhos, sanduíches, e um bolo de dois andares com diversas máscaras. E em outra mesa tinha diversos embrulhos, com os presentes.
Seu José estava dançando como se ainda fosse jovem. Dona Fátima também. A neta dos dois enfrentava um pouco de dificuldade para dançar por causa da roupa de astronauta e do penteado meio esquisito.
A festa estava muito louca. Camilla podia beber a vontade, só enquanto seus avós não estivessem olhando. Tinha bebida alcoólica, pois haveria maiores de idade na festa.
— Freak out! – disse Camilla. A menina bebeu alguns goles e estava caindo de bêbada. Mas seus avós não ligavam. Nem estavam olhando.
A essa altura, a maquiagem estava indo pelos ares. A sombra tinha sumido. A purpurina continuava lá nos cabelos. E o penteado estava em pé, literalmente. Quase furou o olho de Natália, mas estava tudo na paz.
Nem tudo…
Dez da noite. Quem chega: Sílvia e sua Gangue de Salto. O que elas queriam: um pedaço de bolo, já que não tinham sido convidadas. Era uma provocação. Mas Camilla não queria dar o braço esquerdo a torcer. As meninas da Salto se vestiam de minissaia, casaco de couro, botas de salto altíssimo. E não utilizavam camisetas.
— Dá um pedaço de bolo aí? – disse Noemi, uma das garotas da Gangue de Salto.
— Ainda não chegou na parte do bolo. – disse dona Fátima, tentando ser gentil com aquelas garotas de visual tão agressivo.
— Ei, meninas! Vieram para minha festinha? Vestidas de quê? De idiotas? – disse Camilla, obviamente fora do seu juízo normal. Ela só falava besteiras quando ficava bêbada.
— Quer dizer que é o seu aniversário? Logo vi. Uma festa de merda, para uma menina que é uma merda… – disse Sílvia.
— Quer um pedacinho de bolo, Sílvia? Que tal comer sua língua? – disse Camilla. – Talvez tenha um gosto melhor que o meu bolo.
Sílvia queria voar em cima de Camilla. Até tentou. Mas a aniversariante foi mais esperta. Como tinha reflexos mais aguçados do que os de um ser humano normal, esquivou. Mesmo bêbada, era mais rápida que Sílvia. A líder da Gangue de Salto caiu no chão.
— Ah, sua… — gritou Sílvia.
— Quer saber o quanto dói uma sequência de murros no olho? — disse Camilla.
— Não esqueceu daquela surra magistral, né?
— Claro que não. Aquela surra até mudou de cor meu olho. Por causa daquela surra magistral eu tenho problemas para enxergar. Fiquei um mês no hospital por causa disso. Vou mandar a conta do hospital para os seus amigos. A cirurgia do olho foi a mais cara.
— Sílvia, é melhor você sair — disse dona Laura — Você se meteu em tanta confusão e se você insultar Camilla de novo… te deixo de castigo.
— Já sou maior de idade, mãe.
— Mas eu ainda sou sua mãe.
— Tá, vou sair. Gangue de Salto, vamos sair! — disse Silvinha Couro Mole.
As meninas da Salto saíram. Sílvia somente reconhecia autoridade de uma pessoa: dona Laura, sua mãe.
O som estava alto. Camilla estava com dor de cabeça. Seu penteado estava em pé. Subiu ao seu quarto para limpar suas lentes de contato e aproveitou para fumar um cigarro. Detonou dois cigarros em apenas cinco minutos. Depois voltou para sua festa de aniversário. Era hora dos Parabéns!
— “Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida”! — todos gritaram às onze da noite.
Meia-noite. A festa estava praticamente vazia. Mas o som continuava ensurdecedor, do jeitinho que a aniversariante gostava. Tinha somente Luciano, Levi, Angela, seu José, dona Fátima e Milla. Estava tocando “Space Oddity”. Ninguém estava ligando para o que estava tocando, nem mesmo Camilla, que em condições normais estaria cantando a plenos pulmões.
Continuaria normal aquela situação, se não contassem com um fato fora do comum…
Ouviu-se uma voz de criança do lado de fora daquela casa. De uma menina. Diferentemente da voz de Camilla que era doce; mas ao mesmo tempo, era baixa (a voz só aumentava quando ela ficava com raiva), a voz da menina era de um tom muito particular. Era alta e fina e tinha um leve sotaque alemão.
— Mãe, é essa a casa do vovô e da vovó?
Depois se ouviu um tom de voz de uma mulher. Que seu José sabia muito bem de quem era.
— É sim, Rosie. É a única casa que está tocando David Bowie…
Depois se ouviu uma voz de homem. De um tom um pouco esquisito.
— Rosie, você vai conhecer sua irmã. Acho que hoje em dia ela já teria 15 anos. Nunca mais vi o rosto de Camilla… Faz tanto tempo que não vejo sua irmã mais velha.
A campainha tocou. Dona Fátima estranhou aquilo.
— Quem viria a essa hora para o aniversário de Camilla? Quase todo mundo foi embora…
A surpresa: Alexandra, Carlos e Rosalyn estavam ali na porta, querendo entrar.
Tocava “Stairway to Heaven”.”